Semrumo Sinopse leve, boa informação com objetivo de dar cara nova ao padrão comportamental de leitura Blogger.
Afinal, jornalista precisa ou não de diploma para exercer a profissão?
Tive uma excelente conversa hoje com um dos administradores de um dos maiores grupos editoriais da Europa. Pessoa inteligente e culta.
A discussão girou durante boa parte do tempo sobre o papel do jornal, do jornalista e da mídia impressa em um mundo dominado pela informação digital.
Dentre várias reflexões, é engraçado perceber como que os jornais ainda acham que estão no negócio de vender anúncios em papel impresso (apesar de dizerem que não).
É fácil verificar em qual negócio de fato estão: basta perguntar como são medidos os bônus e salário variável de seus executivos. Boa parte do prêmio no fim do ano vem do resultado financeiro em venda de anúncios impressos, não em assinatura de serviços de informação em multiformatos (mesmo porque a maioria nem tem isso) ou o número de leitores fidelizados na web, ou ainda, qual o aumento do tempo e profundidade de navegação no site.
Muitas vezes tendemos a achar que tal discrepância é algo que só existe no Brasil, não é verdade. É global.
A indústria jornalística ainda não se encontrou e isso não só no nosso país. É um fenômeno que reflete a diferença entre a velocidade com que os consumidores adotam inovações e a velocidade com que as empresas as implementam e passam a se pautar por elas.
É preciso a conscientizarmos de que o jornal (o livro, a revista etc.) é apenas o meio. O que antes da era digital era “fim” – o motivo de toda a empresa existir – hoje é somente o “meio”, o caminho pelo qual as pessoas consomem informação desejada.
A informação pode ser consumida no iPhone, no Kindle, no notebook, no iPad, na revista, no jornal, no rádio e em outros vários meios. O que importa é a informação em si, não o meio pelo qual ela veio.
Eu mesmo me lembro de um fato que me chamou atenção no mês passado, mas não consigo lembrar onde eu o ouvi. Acho que foi em um tweet lido por meio do meu celular em meio a alguns minutos parado no trânsito de São Paulo, mas não tenho certeza. Não importa. O que interessa é o que foi lido.
O jornalista, protagonista imparcial da busca pela informação fresca, passa a ser um caçador ávido e ativo de notícias relevantes e um divulgador delas seja em que formato for. A mudança é drástica. Ele não é mais um profissional de jornal ou revista, com a internet, ele se torna veículo.
Percebe como que isso muda a profissão e a formação desse profissional?
Agora o jornalista tem que entender de multimeios e multiformatos. Não é só entender de redação, mas também como que o consumidor interage com ela no celular e na web. São leituras diferentes da leitura do papel.
O jornalista tem que entender como o Google acha a sua notícia, para que o seu jornal online seja lido. Ele tem que ter um blog, e por isso tem que entender que a linguagem, a frequência de atualização e o diálogo com o leitor é bem diferente em um meio digital.
A formação do jornalista agora é plural e tecnológica, além de comunicativa. O tempo em que as ferramentas do jornalista eram o papel, a caneta, a máquina fotográfica e a máquina de escrever acabou.
A profissão de jornalista está mais em evidência (e complexa) do que nunca.
E em meio a tudo isso vem a velha discussão da necessidade do diploma ou não. O pressuposto está errado. A discussão não deveria ser se precisa de diploma ou não, deveria ser, “como eu me torno um jornalista melhor em um mundo multimeios em mudança?”, ou ainda, como diria o Estadão, “qual o meu papel em gerar conhecimento em um mundo em que a informação é de graça?”. Se formos mais longe, “O que eu preciso fazer, além de escrever bem, para ser um bom jornalista?” (porque, convenhamos, os jornalistas estão escrevendo cada vez pior).
Nessa mudança de era ainda se confunde o papel do jornal com jornal de papel. O jornal é um conceito, uma instituição, não um conjunto de folhas que transmitem informação apenas como desculpa para vender espaços publicitários.
O mundo mudou. Tornou-se digital. Reproduzir o modelo de assinatura no site do jornal online é um erro tão grande quanto achar que a internet é só mais um veículo ou só mais uma mídia (Exigir que o leitor se cadastre para ler a notícia é uma espécie de cobrança de “assinatura”, ok?).
O modelo mudou e as regras são outras. É preciso que a indústria jornalística se reposicione e enxergue as milhares de novas possibilidades de se obter receita na web. A assinatura é o caminho óbvio. Nem sempre o que é óbvio é o melhor caminho.
Cobrar pelo serviço de gerar conteúdo em multiplataforma, cobrar pelo serviço de fornecer informação personalizada, cobrar pelo serviço de gerar análises mais apuradas em mercados específicos e outras maneiras de agregar serviço ao produto informação é apenas uma das maneiras de gerar receita nesse novo mundo tecnológico. Há muitas outras, mas dá trabalho pensar e implementar.
A má notícia é: se você, jornal ou jornalista, não pensar em novos formatos, alguém vai pensar e vai colocar no ar. O Google, por exemplo.
O jornalista é um dos profissionais mais importantes desse novo mundo, porém, enquanto acharem que o nome “jornalista” significa “aquele que trabalha no jornal”, a discussão se é necessário ou não diploma para exercer a profissão continuará a desviar o foco da verdadeira questão. Enquanto isso, aqueles que não têm diploma seguem produzindo conteúdo multiformato e moldando o mundo que os diplomados vão ter que trabalhar.
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