Julgamento em Ribeirão Preto teve 5 testemunhas e terminou após 12h.
Jovem morreu arrastada por carro de Pablo Russel Rocha há 18 anos.
Após quase 12 horas de julgamento, o empresário Pablo Russel Rocha foi condenado a 24 anos de prisão pela morte da garota de programa Selma Heloísa Artigas da Silva, conhecida como Nicole, em setembro de 1998, em Ribeirão Preto (SP).
Os sete jurados culparam Rocha por homicídio triplamente qualificado por arrastar Nicole por dois quilômetros, até a morte, presa ao cinto de segurança da caminhonete que dirigia.
A sentença foi proferida pelo juiz Giovani Serra Azul Guimarães por volta das 22h de quarta-feira (29).
Rocha saiu preso do tribunal e foi encaminhado para o plantão da Polícia Civil, onde passaria a noite. A previsão é de que ele seja levado nesta quinta-feira (30) para a cadeia de Santa Rosa de Viterbo (SP) antes de ser encaminhado para um centro de detenção.
Ele ainda pode recorrer da sentença. Após o julgamento, o G1 tentou falar com o advogado de Russel Rocha, Sergei Cobra Arbex, mas não conseguiu um posicionamento durante a noite.
Nicole tinha 21 anos na época do crime. Um laudo do Instituto Médico Legal (IML) comprovou que ela estava grávida quando morreu.A família de Nicole não falou com a imprensa. A mãe da jovem, a aposentada Zenith Artigas, de 77 anos, entregou uma carta aos jornalistas afirmando que "nada trará a vítima de volta à vida, mas a condenação do réu deve aplacar, com certeza, um pouco da dor que sentem."
O julgamento
Após ser suspenso três vezes por recursos ajuizados pela defesa, o julgamento do caso teve início às 10h15 desta quarta-feira. Os jurados convocados foram escolhidos por sorteio. As testemunhas de acusação foram as primeiras a serem ouvidos.
Após ser suspenso três vezes por recursos ajuizados pela defesa, o julgamento do caso teve início às 10h15 desta quarta-feira. Os jurados convocados foram escolhidos por sorteio. As testemunhas de acusação foram as primeiras a serem ouvidos.
Entre elas, estavam o sócio da chácara onde Nicole trabalhava, o garçom de um restaurante localizado na avenida por onde a vítima foi arrastada e um investigador de polícia. Uma quarta testemunha depôs por carta precatória.
Um jornalista e um amigo da família de Rocha, o comerciante Jaime Dalben de Barros, foram as duas testemunhas de defesa ouvidas em seguida. Barros afirmou conhecer o réu desde os 11 anos de idade e o considerou incapaz de cometer o crime.
"O Pablo é um menino bom. Foi o que eu disse no júri: da turma da molecada, o Pablo era o mais calmo, o mais bobinho. Eu acho impossível que tenha acontecido um fato desses. O Pablo hoje é um moleque que não tem mais vida", disse o comerciante ao deixar o Fórum.
Barros contou ainda que conversou com o empresário sobre a morte de Nicole durante uma viagem à Florianópolis (SC), e Rocha negou o crime, afirmando que não percebeu que a jovem estava presa ao veículo.
"Eu acho que houve alguma coisa, mas não que ele tenha amarrado a moça. Quando ele começa a falar sobre o fato, ele se torna um cara eloquente. Ele se desespera, chora, lembra do que passou na prisão. Ele ficou dois anos e meio [preso] e sofreu muito", disse.
Defesa x Acusação
A Promotoria defendeu a versão de que Nicole ficou enroscada ao cinto de segurança da caminhonete de Rocha, quando tentou deixar o veículo após uma discussão entre os dois, na madrugada de 11 de setembro de 1998.
A Promotoria defendeu a versão de que Nicole ficou enroscada ao cinto de segurança da caminhonete de Rocha, quando tentou deixar o veículo após uma discussão entre os dois, na madrugada de 11 de setembro de 1998.
Presa ao veículo, a garota de programa teria sido arrastada pela Avenida Celso Charuri e então pela Avenida Maurílio Biagi. Em seguida, Rocha teria feito o retorno e acessado o Anel Viário Sul, até parar na Avenida Caramuru.
O empresário falou por cerca de uma hora e confirmou que deu carona à vítima. Ele teria deixado a chácara no Recreio das Acácias, acessou o Anel Viário e, em seguida, as avenidas Adelmo Perdizza e Caramuru, quando Nicole pediu que parasse em um local conhecido por ser ponto de tráfico de drogas.
O réu disse ter recusado o pedido, os dois começaram a discutir e ele decidiu então parar a caminhonete. Nesse momento, Nicole teria descido e o empresário arrancou com o veículo. Ainda de acordo com Rocha, como o som estava alto, ele não percebeu que a jovem havia ficado presa ao cinto.
Em relato perante os jurados, Rocha afirmou ainda que só notou que Nicole estava presa, quando parou a caminhonete para trocar um pneu furado. O empresário disse que ficou desesperado, desamarrou o braço da jovem e foi para a casa.
Indenização à família
Além do processo criminal, Rocha também foi condenado a pagar indenização à família de Nicole. Os advogados Camila Ramos e Valério Petrone, que representam a mãe da vítima, não informaram o valor, apenas que parte do acordo já foi pago.
Além do processo criminal, Rocha também foi condenado a pagar indenização à família de Nicole. Os advogados Camila Ramos e Valério Petrone, que representam a mãe da vítima, não informaram o valor, apenas que parte do acordo já foi pago.
Camila afirmou, porém, que desde 2009 a defesa tenta um acordo com o empresário para que o restante da indenização seja repasso à família. Segundo a advogada, três acordos já foram firmados, mas nenhum deles cumprido.
"A mãe dela estava comentando que, antes de tudo isso acontecer, tinha dois empregos, tinha uma vida ativa. Com tudo isso, o assédio da mídia, ela se isolou. Hoje, a renda dela é baixa, porque ela depende de um benefício que recebe e não tem ânimo de vida", disse.
Petrone afirmou explicou que a Justiça concedeu a penhora de uma fazenda de Rocha em Uberaba (MG) e, agora, é preciso aguardar a avaliação do imóvel para que seja leiloado e o dinheiro revertido à mãe de Nicole.
"De 1998 para cá, poucos sabem onde ela está e poucos vizinhos a veem. Ela fica trancada em casa, sofrendo a perda da filha, brutalmente. Então, a luta se arrastou por 18 anos, não só para que ele fosse condenado pelo crime, mas para que cumpra a condenação na esfera cível", concluiu.
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