sábado, 25 de junho de 2016

Temer a Dilma: 'Voltar para sair não é um argumento que a favorece'


















Em entrevista nesta sexta-feira, o presidente interino anunciou que trabalha com "medidas para alegrar os investidores desde já"


Denise Rothenburg
Ciente de que seu mandato e seu futuro político no cargo estão ancorados na economia, o presidente em exercício, Michel Temer, anuncia que vêm por aí "medidas para alegrar os investidores desde já, para que eles tenham mais confiança no país." Econômico nos detalhes sobre o que virá, uma vez que as medidas ainda estão em estudo pela sua equipe, Temer diz que redução de juros ajuda, porém, deve ser discutida responsavelmente. "Há essa ideia, tanto é que conversei com o ministro da Fazenda rapidamente no dia em que dei posse ao presidente Ilan Goldfajn, do Banco Central. [A redução] tem um efeito concreto, mas tem o psicológico muito acentuado. Quando reduz juros responsavelmente, você sente que agora vai”, diz Temer, alertando, entretanto, que não adianta reduzir de "14,5% para 7% só para fazer um populismo." "Espero que haja espaço para fazer essa redução este ano, gravem o espero." No terreno político, ele classifica como inconstitucional a proposta de Dilma de antecipação das eleições e atira: “Voltar para sair não é um argumento que a favorece."



As considerações foram feitos numa conversa de uma hora, na manhã desta sexta-feira (24/6), no Palácio do Planalto. Ali, Temer não lacra totalmente a porta para aumento de impostos, se o governo considerar o único caminho. “Até o presente momento, o governo não falou em tributo. Economia é assim. Às vezes você tem que fazer adequações, mas fa-las-á no tempo certo. Se puder evitar tributos, tanto melhor", diz ele, recorrendo mais uma vez à mesóclise. 


De pronto para apresentar ao país já na próxima semana, Temer tem a inauguração da fábrica da Klabin, no Paraná, terça-feira, a Lei de Responsabilidade das Estatais, a ser sancionada. Certamente, algum veto virá, mas “nada que possa desnaturar o projeto”, diz ele, referindo-se como razoáveis as mudanças no tempo de experiência nas áreas afins para que se possa ocupar cargos nas empresas. Para esse mês ainda, promete a nomeação do novo ministro do Turismo. “Você sabe que eu não tive tempo de pensar nesse assunto? Aqui é incrível: Se trabalha das 8h até uma da manhã é para equilibrar o governo. Convenhamos, tive sete dias para organizar o governo. Deus me ajudou, você viu a equipe econômica que montamos. A base do país é emprego, economia”, afirmou.

No terreno político, Temer pisa com cuidado, mas a porta está aberta a todos. Quando perguntado se a falta de diálogo tirou Dilma, ele critica de forma indireta do comportamento da presidente afastada. “Só posso dizer que diálogo é fundamental. No estado democrático, você tem que exercer a atividade executiva amparada pelo Legislativo. Precisa ter esse conjunto de forças para governar. Qualquer outra visão é autoritária, você despreza o congresso nacional, ou se quiser ir mais além, critica o Judiciário, isso é uma visão antidemocrática e inconstitucional. Tenho dito sempre que precisamos reconstitucionalizar o país."

No diálogo constante, Temer afirma ainda que não dispensa ninguém. Refere-se inclusive à presença de Romero Jucá em suas reuniões no Planalto. “Muita vezes eu o chamo, é um parlamentar de um vigor extraordinário. Ajuda muito no Parlamento. Ele é investigado e não foi condenado. Não posso ter esse impedimento, sob pena de condenar antes de julgar e isso não cabe a mim”, diz ele, lembrando que tem conversado com todos, não deixando de fora sequer Eduardo Cunha, com quem conversou há três semanas.

A Câmara dos deputados é outro centro nevrálgico que o presidente diz que não pretende influir diretamente no sentido de escolher o sucessor de Cunha para um mandato tampão, mas dá sinais de que não deixará correr solto: “Se pudesse ter um candidato único, seria útil para todos”, diz ele, cheio de ressalvas em relação ao que coloca apenas como uma sugestão.

Em relação a Sérgio Machado, ele não esconde seu desconforto pela forma como foi citado. Fui checar se tem salinha lá. Não tem salinha.”. Eu com tantos empresários pelo país que eu converso, não iria fazer intermediação. Preciso de intermediação para fazer isso?”, diz Temer, que revelou ainda que, dia desses, na Base Aérea, foi verificar se havia uma salinha separada para conversas: “Não tem salinha!’, diz ele.

Quanto à Lava-Jato, ele considera que os sinais de combate à corrupção que o Brasil tem dado ao exterior são inequívocos. “Mais do que isso, impossível, as instituições estão funcionando e o Brasil está sendo passado a limpo”. Temer, embora reforce que as investigações devam perdurar enquanto houver escândalos a apurar, acredita que “o país não pode ficar 10 anos nesse processo”. 

Embora acompanhe o impeachment, ele também não deixa de monitorar o andamento do processo das contas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE): “Se for decisão do Judiciário, não me incomodo em deixar a Presidência. Mas tenho que pensar em meus direitos. Lancei e muita gente lançou a tese da separação de contas, que são prestadas fisicamente separadamente. Seria o único caso em que a condenação de alguém importa na condenação de outrem. Vou tentar demonstrar isso, mas se houver decisão do Judiciário, cumpre-se”. 

Cenário externo
Na conversa com jornalistas, o presidente em exercício foi ainda direto ao dizer que está fora de cogitação sair do Mercosul, mas não deixa de defender a necessidade de readequação de regras mais liberalizantes para acordos bilaterais, especialmente, em termos tarifários. Temer defende ainda que haja um adiamento da reunião que daria á Venezuela, a presidência do Mercosul. É preciso, primeiramente, resolver a questão interna do país, que é algo que cabe à Venezuela. 

Sobre o fato de o Reino Unido ter saído da União Europeia, Temer considera que o impacto político dessa decisão no Brasil será zero. Quanto à economia é preciso aguardar. Veja mais detalhes da entrevista na edição de amanhã do Correio Braziliense.

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