Um dos mais novos delatores do esquema, o executivo Marcos Pereira Berti, da Toyo Setal, revela que as maiores empreiteiras do país cooptaram outras construtoras para fraudar contratos da Petrobras. Entre elas, a empresa candanga. Informações constam em ação civil pública apresentada à 5ª Vara Federal de Curitiba em maio
O mar de lama que submergiu o Brasil no maior escândalo de corrupção da história do país resultou na Operação Lava Jato, que tem fisgado tubarões da política e do setor produtivo nacional. Agora, os investigadores começam a voltar os olhos para peixes menores, suspeitos de também se aproveitarem das correntezas do esquema para nadar em dinheiro público. Nessa pescaria, um espécime típico do Lago Paranoá pode ter caído na rede: a Via Engenharia.Fundada em Brasília na década de 1980, a empreiteira candanga é citada pelo delator Marcos Pereira Berti, diretor da Toyo Setal, como integrante de um grupo intermediário — uma espécie de Segunda Divisão — do chamado “Clube VIP” de construtoras que comandavam as fraudes em licitações da petroleira. As informações do executivo fazem parte de uma ação civil pública por improbidade administrativa apresentada, em 30 de maio, à 5ª Vara Federal de Curitiba. Assinam o documento a Advocacia-Geral da União (AGU), a Procuradoria da União no Paraná, o Grupo Permanente de
Atuação Proativa da AGU e a Força-Tarefa da Lava Jato.
O inquérito de 161 páginas ao qual o Metrópoles teve acesso acusa nove réus e sete empreiteiras de improbidade administrativa. São eles: os ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa, Renato Duque e Pedro Barusco Filho; o doleiro Alberto Youssef; os executivos da OAS José Aldemário Pinheiro Filho (conhecido como Leo Pinheiro), Agenor Franklin Magalhães Medeiros, Mateus Coutinho de Sá Oliveira, José Ricardo Nogueira Breghirolli e Fernando Augusto Stremel Andrade.
As empresas são a OAS S/A, a Construtora OAS Ltda., a Coesa Engenharia Ltda., a Construtora Norberto Odebrecht, a Odebrecht Plantas Industriais e Participações S.A., a Odebrecht S.A. e a UTC Engenharia S/A.
A ação civil pública, assinada por oito advogados da União, pede que os réus devolvam aos cofres públicos R$ 12 bilhões.
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As “castas” do Clube VIPEntre os documentos que embasam o inquérito, chamam a atenção as informações reveladas por Marcos Pereira Berti (foto), diretor da Toyo Setal. Em outubro de 2015, ele decidiu colaborar com as investigações no âmbito do acordo de leniência firmado pela empresa com o Ministério Público Federal.
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Um depoimento prestado pelo executivo em fevereiro deste ano e informações encontradas em um tablet pessoal dele entregue às autoridades não só comprovam a existência do chamado Clube VIP — que reunia as principais empreiteiras do país em um grupo que comandava as fraudes nas licitações da Petrobras — como apontam para a existência de um subesquema. Segundo Berti, outras empresas passaram a participar das irregularidades a partir de 2006, quando as construtoras começaram a ser divididas em espécies de “castas”.Berti afirma que essa nova configuração se deu porque a Petrobras adotou práticas que “dificultaram” a atuação do Clube VIP, conforme consta na ação civil pública. A estatal passou a convidar empresas que até então não integravam o esquema. Por isso, as empreiteiras decidiram cooptar as novatas, criando grupos para lesar os cofres da petrolífera.
A divisão era por linhagens: as empresas que operavam na Petrobras desde os anos 1990 compunham o grupo Tipo A, e tinham prioridade nas licitações acima de R$ 600 milhões. Na sequência apareciam as Tipo B, que arranjavam entre si os contratos entre R$ 300 milhões e R$ 600 milhões. As Tipo C ficavam com os certames de até R$ 300 milhões.
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Prata da casa
A Via Engenharia, que, segundo descrição do próprio site institucional, “concentrou suas primeiras atividades no mercado local, dedicando-se à construção de pequenos imóveis residenciais”, cresceu desde a fundação, nos anos 1980, e ultrapassou as divisas do Distrito Federal. Tanto que, na disputa por recursos da Petrobras, chegou à “Série B” do mega esquema de corrupção, ao lado de outras 19 empresas.
A Via Engenharia, que, segundo descrição do próprio site institucional, “concentrou suas primeiras atividades no mercado local, dedicando-se à construção de pequenos imóveis residenciais”, cresceu desde a fundação, nos anos 1980, e ultrapassou as divisas do Distrito Federal. Tanto que, na disputa por recursos da Petrobras, chegou à “Série B” do mega esquema de corrupção, ao lado de outras 19 empresas.
Segundo Marcos Pereira Berti, nesse grupo apareciam ainda empreiteiras como a Carioca Engenharia, do Rio de Janeiro; a mineira Fidens Engenharia e a carioca Delta — que ficou conhecida durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou os negócios do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Na visão do Ministério Público, a existência dessa divisão entre as empresas reforça a tese de que houve um acordo de bastidores entre as companhias para dividir os contratos da Petrobras em sucessivas fraudes a licitações.
Procurada pela reportagem, a Via Engenharia foi sucinta ao comentar a presença da empresa na ação civil pública. Por meio da assessoria de imprensa, assegurou que não participou de licitações com a Petrobras de maneira direta ou indireta.
Confira trecho do depoimento prestado por Marcos Pereira Berti sobre o esquema de corrupção na Petrobras:
Estádio Mané Garrincha
Apesar da negativa da empresa, outro delator da Lava Jato, o presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, coloca sob suspeição uma das mais suntuosas obras da Via Engenharia. Segundo o executivo, o Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha é uma das construções em que houve sobrepreço para o pagamento de propinas e abastecimento de campanhas eleitorais.
Apesar da negativa da empresa, outro delator da Lava Jato, o presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, coloca sob suspeição uma das mais suntuosas obras da Via Engenharia. Segundo o executivo, o Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha é uma das construções em que houve sobrepreço para o pagamento de propinas e abastecimento de campanhas eleitorais.
A arena, erguida pelo consórcio formado entre a Andrade Gutierrez e a Via Engenharia, tem custo estimado em R$ 1,7 bilhão — o maior valor entre as 12 praças desportivas construídas para a Copa do Mundo de 2014. A cifra, entretanto, pode chegar a R$ 1,9 bilhão graças a um último contrato adicional, que ainda está ativo, referente a intervenções ao redor da praça desportiva que até hoje não foram executados.
A Andrade Gutierrez confessou integrar o esquema para conseguir obras federais, incluindo estádios construídos para o Mundial. O caso veio à tona em novembro de 2015. Na ocasião, a Via Engenharia negou irregularidades à reportagem e afirmou “desconhecer as relações de outras empresas nos respectivos contratos com o governo”.
Além do Mané Garrincha, a Via Engenharia assina obras emblemáticas de Brasília, como as sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), da Câmara Legislativa e o Shopping Popular.
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