Em seu discurso, ex-presidente busca se distanciar do homem acusado de se corromper para clamar a militância em sua defesa
São Paulo
O ex-presidente deixa o aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Folhapress
Um abatido Luiz Inácio Lula da Silva chegou pouco depois das 14h no auditório do diretório nacional do Partido dos Trabalhadores, no centro de São Paulo, depois de mais de três horas de depoimento à polícia. Entrou na sala lotada de jornalistas escoltado por membros de movimentos sindicais e estudantis e de caciques do partido, que desde cedo circulavam pelo prédio para demonstrar seu apoio à estrela do PT. Durante 28 minutos voltou a ser o Lula de antes. Largou mão dos discursos lidos, como vinha fazendo em inúmeras ocasiões, para falar não apenas “com o fígado”, como costuma brincar, mas com todos os órgãos de que pudesse lançar mão. Começou um discurso raivoso e emotivo de alguém que há pouco ocupava o topo do poder e agora aparecia na frente de todos “humilhado”, palavra que escolheu diversas vezes.
Mais do que se defender das graves acusações da Operação Lava Jato, o ex-presidente queria sensibilizar, clamar pela ajuda de seus apoiadores, dos quais precisará mais do que nunca a partir de agora. Para isso, usou todas as armas que tinha para convencer os seus de que merecia ser defendido: falou da infância pobre, quando escapou de morrer de fome no sertão, da vida de trabalhador, quando conseguiu se formar torneiro mecânico, do passado de luta pela democracia, quando adquiriu consciência política e fundou um partido, da força como liderança, ao ser eleito presidente do país, e de seu legado como mandatário, quando foi “melhor que todos que governaram esse país”. Era alguém de origem simples que provou à elite que “o povo humilde pode andar de cabeça erguida e comer carne de primeira".
Lula quis voltar a ser o mito e se distanciar do homem que agora era acusado de se corromper em nome de empresas, de frequentar sítios reformados por empreiteiras e de ser dono de um tríplex no Guarujá cujas fotos aparecem diariamente na TV. Fez questão de deixar claro que não era o homem que bebia vinhos caros. Que sua mulher comprou um barco, mas era barato. Que ganhou relógios de ouro, mas usava uma marca simples. Que se cobrava 200.000 dólares por palestra era porque era convidado para explicar o milagre que fez para levar energia a milhões de pobres do país. E que se frequentava uma chácara era porque era convidado por um amigo. “Todo mundo pode, menos a merda desse metalúrgico aqui”, disse, ressentido e reforçando o discurso de elescontra nós, que marca a polarização do país e ao qual ele recorre sempre que acuado.
Do lado do eles, os inimigos eram representados pela imprensa e pelo Judiciário - a oposição não recebeu menção relevante. Acusou a ação da Polícia Federal de ser um “show de pirotecnia”. Lamentou que “uma parcela do Judiciário brasileiro esteja trabalhando com certos setores da imprensa”. Criticou o Ministério Público Estadual, que já o havia “pré-julgado”, e afirmou que o juiz Sérgio Moro, da Lava Jato, não precisava de uma condução coercitiva para fazê-lo depor, pois nunca havia se negado a fazê-lo. Reclamou da inclusão dos filhos na devassa policial - disse não ver motivos para tal, ainda que um deles esteja sendo investigado em outra operação, a Zelotes. Durante toda a manhã, os principais nomes do partido presentes no diretório nacional usaram as mesmas expressões para se referir ao episódio desta sexta: “perseguição política”, “circo midiático”, “espetacularização”. “Há um claro objetivo: impedir que Lula seja presidente em 2018”, afirmou o deputado federal Vicentinho.
O ex-presidente disse que não sabe se será candidato novamente, mas afirmou, em um recado a seus opositores, “que essas coisas aumentam sua intenção de participar das coisas desse país”. E disse que a partir de agora sairá às ruas, como “fazia antigamente”. “Eu viajava de São Paulo para o Acre e fazia discurso como se tivesse um milhão de pessoas. E conseguimos criar um partido. Estou disposto a fazer a mesma coisa”, afirmou. E se justificou ao partido: "Se acharem um real de desvio na minha conduta eu não mereço ser deste partido".
Defendeu, de novo, uma recriação do PT, partido que nos últimos anos sofreu duros golpes contra sua imagem, ao envolver-se, primeiro, no escândalo do Mensalão e, depois, na Lava Jato. “Eu descobri agora que nem tudo está acabado como eu pensei que estava. É preciso recomeçar. Vamos começar de novo”, disse. “Se quiseram matar a jararaca não bateram na cabeça. Bateram no rabo e a jararaca está viva como sempre esteve”, concluiu.
A militância, que nos últimos meses se mostrava constrangida a sair às ruas, quer pelo desencanto com as denúncias, a crise ou discordância de um Governo que adotou medidas que afetaram sua base, começou a atender os chamados. Na noite desta sexta-feira, organizou um ato com milhares de pessoas na região central. Lula, que viu seus índices de popularidade recorde do fim de mandato minguarem até 20%, compareceu. E chorou diversas vezes ao falar das conquistas sociais de seu Governo. E, se horas antes havia titubeado sobre 2018, decidiu deixar o recado mais claro: "Eu estava quieto no meu canto. Estava na expectativa que vocês escolhessem alguém para disputar 2018. Mas eu quero me oferecer a vocês. A partir de hoje, a única resposta que eu posso dar à violência que fizeram a mim é ir pra rua e dizer: eu estou vivo", disse Lula.
Por Aguiasemrumo: Romulo Sanches de Oliveira
Todo esse mar de lama de corrupção, enriquecimentos ilícitos, nos dar a certeza da putrefação da política já que não existe ideologia. Um mandato parlamentar concede ao mau político a fazer negociatas com o erário público de interesses pessoais, sem o mínimo interesse com os sérios problemas e dificuldades enfrentadas pela nação, se esquecendo de que a pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo; é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade. O voto no Brasil precisa deixar de ser obrigatório, pois a democracia séria e justa contempla esses benefícios a todos que não se identifiquem com as propostas de candidatos.
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