Estouramos a Fábrica de Filhotes de Brás de Pina

Então amigos,

Mais uma vez estamos com sentimento de dever cumprido. Acabo de retornar de uma maratona de exatamente 11 horas, sem descanso e sem comer, mas pela ótima causa de salvar 18 cães de situação de maus-tratos e que eram usados para o vil comércio clandestino de animais, as famosas Fábricas de Filhotes.

Na noite de quarta-feira (23/04/2016), fomos solicitados num post do CENTRO DE REABILITAÇÃO PATA AMIGA, com sede na cidade de Itaborai. Nesse Post pediam ajuda para um complicado resgate.

Imagem das condições do Shih Tzu resgatado

Após levantamento do Centro de Reabilitação, sobre uma fábrica de filhotes em Brás de Pina, da qual tinham resgatado um cão Shih Tzu em péssimas condições, maltratado, com feridas enormes, descobriram que no mesmo endereço existiam dezenas de outros animais vivendo em condição análoga. A investigação começou à partir de uma publicação do site OLX, onde o comerciante queria doar o animal que certamente, devido aos ferimentos e a condição deplorável, não lhe serviria mais como MATRIZ para cruzas e comércio dos filhotes. Partindo desse primeiro resgate, o Randel Silva e sua esposa Chris Neri (dirigentes do Centro de Reabilitação) conseguiram ir até o local da Fábrica de Filhotes, sob o pretexto de adotarem outro animal, e lá conseguiram atestar a condição sofrível dos animais.

Diante do encontrado, Randel e Chris começaram uma maratona de investigações quanto ao local, ao proprietário, bem como a busca pela ajuda necessária para o difícil resgate de vários animais. Para quem nunca acabou com uma Fábrica de Filhotes e costuma resgatar 1 ou 2 animais, não imagina a logística envolvida e mais, as dificuldades quando se “retira o ganha pão” desses criminosos. Na busca por ajuda  chegaram até mim. A Chris é uma defensora a quem já conheço e acompanho ha alguns bons anos e, ao assistir os vídeos postados e as fotos, imediatamente percebi a necessidade verdadeira de ajuda e mais, a dificuldade pelas quais esse casal passaria para enfrentar essa missão.

Mantive contato com a Chris, me inteirei da situação e da logística que seria necessária. Como funcionário público Federal, mantive contato com meu superior, o Deputado Federal Roberto Sales, único membro da Comissão de Defesa do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados que, prontamente de posse do material, comovido com as imagens, me deu autorização para atuar e se colocou a inteira disposição para o que se fizesse necessário para o sucesso desse resgate.

Com as devidas autorizações, mantive contato com a Chris e combinamos no dia seguinte às 10:30 na Cidade da Polícia. Assim poderíamos proceder a DPMA (Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente) que é a Delegacia especializada para esses casos. E assim foi, nos encontramos mas a DPMA, em função do Ponto Facultativo nessa data, encontrava-se fechada.

Mantive contato com o Centrex da Polícia Civil, que informou-me que a Delegacia Central de Flagrantes daquela área de Brás de Pina era a 22ª Dp da Penha. Mais uma vez partimos em busca do auxílio das autoridades policiais, como deve ser nesses casos.

Chegamos a 22ªDP por voltas das 11:30 quando fomos muito bem recebidos pelo Dr. Omena, delegado adjunto dessa dependência que demonstrando absoluta sensibilidade ao caso, ofereceu toda a ajuda necessária. Nesse momento cabe um agradecimento especial ao Deputado Roberto Sales que, em meio as tragédias de São Gonçalo, as quais acompanhava pessoalmente, manteve contato telefônico imediato com o Delegado, solicitando mais uma vez o auxílio necessário ao caso.

O Dr. Omena, mesmo diante a um “feriado” (ponto facultativo), com poucos funcionários, solicitou imediato apoio de uma Guarnição da Polícia Militar do 16ºBPM, formada pelos 2º Sargento Líbano e pelo Soldado Alves que nos acompanhariam na ocorrência. Assim, partimos para o endereço localizado à Rua Pequeri em Brás de Pina.

Chegando ao endereço da Fábrica de Filhotes, descobrimos que o Suposto Autor do Fato, um homem conhecido apenas pelo primeiro nome de CAIO não se encontrava em casa. Imediatamente mantive contato com o nacional pelo telefone celular indicado pela Chris. Ao atender, informei ao Sr Caio que estávamos à sua porta apurando a denúncia de maus-tratos a animais e que o mesmo deveria comparecer a seu endereço imediatamente. O mesmo justificou que estava no trabalho (posteriormente foi informado a nosso grupo que o mesmo labuta como fiscal de empresa de ônibus) e que não poderia comparecer ao local. Informei-o da gravidade das denúncias e me propus a que a polícia fosse buscá-lo em seu trabalho, ao que o mesmo declinou, dessa vez afirmando que compareceria ao seu endereço imediatamente, cabendo o aguardo do tempo de deslocamento.

Evidentemente que imaginamos que o mesmo não fosse comparecer, visto o flagrante do crime ambiental enquadrado na Lei Federal 9605-98 em seu artigo 32. Mantivemos ainda 2 contatos telefônicos com o nacional que, continuou afirmando que iria ao local, quando mais de 1 hora depois, percebendo que o mesmo em verdade não compareceria, mantivemos novo contato com o DELPOL da 22ª DP para instruções e autorizações.

O Dr Omena, informado sobre a situação, nos deu a autorização para que, em conseguindo adentrar a área útil da vila (a casa ficava em uma vila de casas) e conseguindo acesso que comprovasse o flagrante, poderíamos adentrar a residência sem a presença do proprietário, isso tudo conforme dita a Lei.

Através de uma vizinha conseguimos ter franqueada a entrada do grupo às áreas úteis da Vila e nos dirigimos a porta da residência do maltratante, uma vez que o acesso ao seu quintal se dava por uma nova porta. Enquanto tentávamos uma forma de identificar o flagrante através da porta, por volta das 14:00 h percebemos a aproximação de 2 senhoras que destoavam da vizinhança do maltratante.

Inquiri a presença das senhoras, perguntando se tratariam-se de vizinhas do nacional Caio, quando então me foi informado que se tratariam das advogadas do mesmo. Imediatamente expliquei a situação às advogadas, deixei-as cientes das implicações do possível crime de maus tratos a animais e perguntei sobre o cliente das mesma, quando fui informado que ele, com medo e sem saber do que se tratava solicitou que as mesmas averiguassem.

Diante das explicações, fui informado pela advogada do Sr Caio de que uma vizinha possuía as chaves do imóvel do maltratante e, diante dos argumentos, me foi franqueada espontaneamente a entrada e averiguação da residência e dependência do imóvel. E assim fizemos. A todo momento reforçando a autorização a cada cômodo às advogadas e fazendo a questão do acompanhamento das mesmas nas buscas e averiguações, fomos passo a passo encontrando os 18 animais em péssimas condições, apresentando inicialmente sujeira, falta de alimentação, feridas, infestações de parasitas, outras moléstias e péssimas condições de espaçamento. Tudo o que foi atestado por mim em experiência de anos nesse tipo de resgate foi devidamente ratificado pela Dra. Marcelle dos Santos, Veterinária prestadora de serviços do Centro de Reabilitação.

Ao todo, em diversos cômodos, acomodados de forma absolutamente irregular, foram encontrados 18 animais, sendo 17 animais de diversas raças e 1 animal SRD. Eram exemplares de Shih Tzu, Chiuauas, West Highland White Terrier, Pinscher e outras raças, todos em péssimo estado de saúde e de higiene. Muitas fezes, urina, cães urinando em gaiolas sobre os cães de gaiolas abaixo, fezes de roedores, falta de ventilação entre outras formas que configuram maus tratos.

Informamos as representantes legais do autor do fato sobre a apreensão dos animais, assim como da necessidade de comparecimento do seu cliente a 22ª DP para as providências legais e começamos a recolher os animais. Muitos desses animais JAMAIS tinham visto a luz do Sol, ou saído de seus espaçamentos que mais pareciam cubículos, os quais nenhuma forma de vida deveria ser submetida. Cabe a ressalva ao choro copioso da Chris ao deparar-se com a situação desses animais…até a pessoa mais insensível se comoveria com o que encontramos, que dirá alguém que os ama na intensidade da Chris.

Chegamos a 22ª DP por volta das 16:30h e começamos a formular os termos de depoimento meu como apresentante da ocorrência, da Dra. Marcelle como a parte técnica do laudo de maus tratos e do Randel como fiel depositário dos animais. Após a tomada dos termos, da apreensão legal dos animais e do depósito em nome do Randel, finalmente demos como encerrada a ocorrência, por volta das 20:00h.

Foi um dia cansativo, mas recompensante pois conseguimos salvar 18 vidas e mais, terminar com as condições de comércio ilegal dessas vidas nesse endereço de Brás de Pina. É certo que a polícia, de posse do endereço e dos laudos e imagens da situação desses animais, após as providências administrativas, intimará o Nacional Caio para que responda criminalmente pelos seus atos, inclusive o de “fugir” a presença do local.

Os animais foram devidamente encaminhados a clínica da Dra Marcelle onde tomarão banho, serão tosados, avaliados em sua saúde através de exames (até mesmo para avaliar as fêmeas possivelmente prenhas) e tratados, quando no prazo legal e diante das providências jurídicas, serão castrados e colocados para a adoção responsável pelo Centro de Recuperação.

Posteriormente estarei publicando e complementando nesse post com fotos e vídeos enviados pelo Randel e pela Chris.

É importante ressaltar que, tais resgates geram um custo enorme de transporte, cuidados veterinários, abrigo e alimentação para o Centro de Recuperação e, assim que nos for informado o endereço da “Vakinha” ara as despesas, estaremos divulgando aqui por esse espaço, ou se você se comoveu com esse resgate, pode manter contato direto com o Centro, através do Randel ou da Chris Neri para colaborar da forma que puder e desejar com essas despesas.

Por último, volto a agradecer a algumas pessoas que foram absolutamente fundamentais para o sucesso de mais essa operação:

• Deputado Federal Roberto Sales: Por sua sensibilidade imediata na autorização e disposição para atuarmos no caso.
• Ao Delegado da 22ª DP Dr. Omena por se mostrar um exemplo de Autoridade Policial e pela sua confiança em nosso trabalho.
• Aos policiais da Viatura da PMERJ 54-6849 pela escolta e acompanhamento da ocorrência.
• Por último, mas não menos importante, ao amigo TUCHE, que nos últimos anos tem me acompanhado voluntariamente auxiliando nas ações, por puro amor aos animais.

São muitas fábricas de animais no Brasil inteiro e particularmente no Estado do Rio de Janeiro. Nossa operação de hoje pode não fazer grande diferença nos milhares de animais que são maltratados, mortos ou comerciados no mundo, mas certamente fizemos toda a diferença do Mundo para essas 18 vidas.

Vamos lutar de forma legal e legislativa para mudar essa realidade, tanto no que tange o comércio não regularizado de animais, assim como nas sofríveis e ridículas enas aplicadas aos maus tratos a animais.

A LUTA SEMPRE CONTINUA!

DEUS ABENÇOE A TODOS!

Tuche com a Cadelinha apelidada de Marisa Letícia

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