sábado, 12 de setembro de 2015

Veterano, abstêmio e vegetariano tem missão de 'salvar' esquerda britânica Jeremy Corbyn, deputado há 32 anos, obtém vitória avassaladora em eleição do Partido Trabalhista para se tornar o líder da oposição no Reino Unido.

rbyn, líder Partido Trabalhista da Grã-Bretanha (Foto: AP)

Jeremy Corbyn, líder Partido Trabalhista da Grã-Bretanha (Foto: AP)
Uma votação avassaladora deu neste sábado ao "azarão" e radical de esquerda Jeremy Corbyn a liderança do Partido Trabalhista da Grã-Bretanha.
Isso significa que, aos 66 anos, o deputado e ex-sindicalista é o candidato em potencial da principal legenda de oposicão britânica nas eleições-gerais de 2020.
Corbyn obteve 60% dos votos na disputa pelo comando dos trabalhistas, que no último pleito parlamentar sofreram duras perdas de espaço no Parlamento, incluindo a pulverização de sua base eleitoral na Escócia. Em todo o país, mais de 440 mil pessoas votaram.
O mais curioso é que o deputado sequer era considerado um nome para o posto quando, em maio, o então líder trabalhista, Ed Milliband, renunciou. Políticos mais conhecidos, como Andy Burnham e Ivette Cooper, que já haviam ocupado cargos ministeriais durante os 13 anos de administração trabalhista (1997-2010), despontavam como favoritos.
Corbyn, na verdade recebeu pedidos de amigos e colegas para que se candidatasse e recebeu indicações de deputados que queriam ampliar o debate sobre o futuro do partido (candidatos precisam receber um certo número de indicações para poder concorrer). Há 32 anos no Parlamento, era um ilustre desconhecido para o grande público e uma pedra no sapato para o partido: ficou conhecido por ter votado pelo menos 500 vezes contra a orientação da legenda em votações no Legislativo.
E um discurso radical de esquerda parecia ser um senhor obstáculo num movimento trabalhista que se aproximou do centro nos últimos 20 anos. Na teoria, estava fadado a uma participação simbólica.
Tudo isso até suas propostas antiausteridade, com uma forte retórica de justiça social, serem recebidas como música pelos ouvidos da massa de filiados ao partido. Neste ano pela primeira vez a base de filiados teve voto com o mesmo peso da base parlamentar e dos grupos sindicais.
Ele defendeu até que o Banco Central britânico fizesse emissões especiais de moeda para financiar grandes projetos de infraestrutura. Defendeu também estatizações de serviços como o transporte ferroviário.
Se a Grã-Bretanha não é a Grécia no que diz respeito ao aperto econômico, a administração do premiê David Cameron, do Partido Conservador, nos últimos cinco anos promoveu diversos cortes nos gastos públicos, incluindo a previdência social. A postura de Corbyn encontrou ressonância.
Ele logo disparou nas pesquisas de opinião e os cardeais trabalhistas se assustaram, ao ponto de o ex-premiê Tony Blair ter vindo a público prevendo um ocaso político para o partido caso ele vencesse.
Em vão. Neste sábado, Corbyn, que é abstêmio e vegetariano, venceu a disputa na primeira rodada, com mais facilidade que o próprio Blair quando assumiu o controle dos trabalhistas em 1994.
Manifestação
Ele saiu do centro de convenções em Londres, em que o anúncio do resultado da eleição foi feito, diretamente para uma manifestação em favor de refugiados de guerra. Lá, foi visto cantando um hino da época em que o Partido Trabalhista era o bastião do socialismo na política britânica. Uma época que parecia ter ficado no passado quando Blair forçou a guinada para o centro há mais de 20 anos.
Para muitos analistas, porém, Corbyn é uma aposta de risco depois de uma eleição parlamentar em que a plataforma conservadora conquistou o eleitorado e deu uma confortável maioria para Cameron.
Mesmo dentro do partido há quem tema que os trabalhistas podem alienar ainda mais o grande público até 2020. Mas o fato de que, horas depois do anúncio da vitória de Corby, um e-mail enviado pela direção do Partido Conservador para seus filiados trocava o tom jocoso anteriormente adotado para o político por um bem mais carregado com acusações - incluindo "uma simpatia a líderes terroristas" - foi o sinal de que a veemência do triunfo do azarão abstêmio não chocou apenas a esquerda britânica.

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