O delegado da Polícia Federal Josélio Azevedo de Sousa quer ouvir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o possível envolvimento do petista no caso de corrupção investigado pela Lava Jato. A PF entregou na quinta-feira um relatório ao Supremo Tribuna Federal, no qual solicita a oitiva para esclarecer se ele ou seu partido foram beneficiados no esquema. Lula já é investigado pela procuradoria da República por suspeita de tráfico de influência internacional para facilitar a prestação de serviços à Odebrecht com governos estrangeiros.
No relatório entregue à corte, o delegado reconhece que não há provas do envolvimento direto do petista no caso, mas que a Lava Jato “não pode se furtar à luz da apuração dos fatos”. O delegado afirma que é preciso apurar se Lula foi “beneficiado pelo esquema em curso na Petrobras, obtendo vantagens para si, para seu partido, o PT, ou mesmo para seu governo”. O documento afirma que até o momento nenhum delator pode precisar o envolvimento do ex-presidente no esquema: o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa se limitaram a dizer que supostamente Lula sabia da corrupção na estatal, mas eles não ofereceram evidências concretas.Em visita a Buenos Aires desde o início da semana, Lula se disse surpreso com o pedido da PF, e afirmou ainda não ter sido notificado, de acordo com o jornal O Globo: "Para mim, não chegou nada". Apesar do ex-presidente não ter direito a foro privilegiado, como o depoimento dos delatores que o citaram consta no inquérito que tramita no STF - envolvendo políticos com foro especial - a oitiva de Lula precisa ser autorizada pela corte.
Costa havia dito em sua delação premiada que achava "pouco provável que Lula não tivesse conhecimento do envolvimento dos partidos e empresas na movimentação dos valores do esquema". No entanto, o ex-diretor disse "nunca ter tratado com o ex-presidente ou com Dilma Rousseff sobre vantagens indevidas decorrentes de contratos da Petrobras". O relatório afirma que a mandatária não pode ser investigada pelos fatos ocorridos no período citado pelos delatores porque, de acordo com a Constituição, "o presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções".
O delegado também quer ouvir o presidente do PT, Rui Falcão, José Eduardo Dutra e José Sérgio Gabrielli, ex-presidentes da Petrobras, José Filippi Júnior, ex-tesoureiro das campanhas de Lula e Dilma Rousseff, e os ex-ministros Ideli Salvatti, Gilberto Carvalho e José Dirceu. Dirceu está preso desde o início de agosto na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, por suspeita de envolvimento na Lava Jato.
Agora o relator da Lava Jato no Supremo, ministro Teori Zavascki, precisa avaliar o relatório e decidir se encaminha ou não ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Caso ele opte por enviar o material, caberá a Janot decidir se Lula será ouvido ou não.
O pedido de oitiva de Lula chega em um momento delicado para a o Governo de Dilma, com o país mergulhado na recessão e o Executivo cambaleando em meio a crise política. Esta semana a agência de avaliação de risco Standard & Poor's rebaixou a nota do país para o grau especulativo, o que agrava ainda mais a situação.
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