A desvalorização das ações da Petrobras derrubou o retorno dos investimentos do BNDESPar, braço de participações acionárias do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), nos últimos 18 meses, segundo um estudo obtido com exclusividade pela BBC Brasil.
Elaborado pela economista Cláudia Bruschi e pelo professor do Insper Sérgio Lazzarini, o estudo mostra que o retorno da carteira do BNDESPar no período foi pior que o do Ibovespa, principal índice da Bolsa paulista.
"Ele parece confirmar que o BNDES não consegue atingir bons resultados com seu portfólio e talvez seja o momento de pesarmos que o dinheiro que o banco está concentrando em ações de grandes empresas poderia ser usado para outras finalidades", diz Lazzarini.
O levantamento atualiza um estudo feito por Bruschi e Lazzarini que analisava o período de 2004 a 2012 e já havia mostrado que os investimentos do banco em ações não estavam superando o principal índice da Bolsa paulista.
"Há uma constância de resultados. E uma vez que o BNDES usa nesses investimentos recursos públicos, que poderiam ser aplicados em outros projetos de maior retorno social, é difícil entender os benefícios dessa política ativa de compra de ações", diz Bruschi.
Desde 2013, o retorno da carteira do BNDESPar teve uma queda de 16,6%, enquanto o Ibovespa caiu 12,9%.
É verdade que desde janeiro deste ano o portfólio do banco teve uma recuperação, com alta de 12,6%, contra 6,1% do Ibovespa. Mas isso não foi suficiente para recuperar a queda de 20,8% do ano passado (quando o Ibovespa teve recuo de 2,9%).
Grandes empresas
O estudo aponta uma concentração da carteira do BNDESPar em poucas empresas. Em junho deste ano, quando foram coletados os dados usados na análise, as ações de apenas quatro empresas representavam 76% do total da carteira, revelando uma exposição ao risco.
A Petrobras é a empresa de maior participação no portfólio do banco – com um total de 33,0%. "Foi justamente a Petrobras que puxou os resultados da carteira do BNDESPar para baixo", diz Bruschi.
Em seguida, vem a JBS, dona das marcas Friboi e Seara e hoje maior empresa privada brasileira, com 20,2%. A Fibria, líder mundial na produção de celulose de eucalipto, representa 13,6% da carteira do BNDESPar e a Vale, 9,2%.
A Petrobras e a mineradora Vale estão entre as empresas chamadas não-coligadas – o BNDES não tem voz em suas decisões financeiras. Já a JBS e a Fibria são classificadas como coligadas – nelas o banco opina.
"O BNDESPar, na realidade, só não teve um retorno mais negativo em função da valorização das ações dessas duas empresas, JBS e Fibria, que provavelmente estão sendo beneficiadas por fatores como o dólar mais alto", diz Bruschi.
"Só os papéis da JBS tiveram uma valorização de 173% desde 2013."
Capitalismo de Estado
O BNDESPar foi criado para administrar as participações do BNDES em empresas e tem como objetivo ajudar a desenvolver o mercado de capitais no país.
Na prática, ele permite que o banco se torne acionista minoritário em diversos grupos privados.
A questão é que, desde 2002, o valor de sua carteira cresceu de maneira exponencial, passando de R$ 16,2 bilhões para R$ 102 bilhões, no fim de 2010. Hoje, totaliza R$ 77 bilhões.
A participação significativa do banco no mercado acionário seria uma expressão de um modelo que alguns especialistas, entre eles Lazzarini, classificam de "Capitalismo de Estado".
Suas marcas seriam o forte protagonismo do Estado na economia e um esforço do governo para controlar ou influenciar empresas em setores-chave.
Os pesquisadores admitem que, ao analisar o levantamento, o bom resultado entre as empresas coligadas surpreendeu.
Os investimentos no frigorífico JBS e na Fibria, em particular, são parte da política de fomento aos chamados "campeões nacionais", que é considerada outra marca do "Capitalismo de Estado" à brasileira e gerou grande polêmica no final da década passada.
"Mas não acho que a valorização dessas empresas possa ser interpretada como um endosso a essa política, porque, para cada campeão que está indo bem, temos outro que vai mal", opina Lazzarini.
"Além disso, seria preciso analisar se os investimentos do banco tiveram algum efeito significativo sobre a produtividade e os resultados dessas empresas. Os estudos que nós temos até agora parecem mostrar que não faria diferença se elas tivessem conseguido recursos em outro lugar. Então, porque usar o dinheiro de um banco público com essa finalidade?", questiona.
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