Para lidar com alguma chance de sucesso com doenças mais graves como o câncer ou o mal de Alzheimer, se sabe há muito tempo que a chave é identificar a presença da doença quando ela ainda é invisível. Isso é o que está começando a conseguir um grupo de pesquisadores do Instituto de Pesquisa do Câncer (ICR, na sigla em inglês), em Londres (Reino Unido). Numa pesquisa publicada nesta semana pela revista Science Translational Medicine, é explicado como os pesquisadores desenvolveram um exame de sangue para identificar quais mulheres submetidas a tratamento para o câncer de mama sofrerão uma recidiva.
Os pesquisadores, liderados pelo espanhol Isaac Garcia-Murillas, analisaram 55 mulheres com câncer de mama em estágio pouco avançado que haviam feito quimioterapia e haviam sido submetidas a uma cirurgia. Durante dois anos depois da cirurgia, o sangue das pacientes foi extraído para procurar o material genético do tumor e analisar a evolução de suas mutações. Em 12 das 15 mulheres que sofreram uma recaída, a análise do DNA do tumor encontrado no sangue foi utilizada para prever o que iria acontecer. Essa informação foi obtida oito meses antes que os métodos convencionais de imagem médica fossem capazes de detectar que o câncer estava se espalhando novamente.
O sistema dos pesquisadores do ICR permite observar como se acumulam as mutações nos genes do tumor. O progresso dessas mutações faz com que o câncer seja cada vez mais difícil de combater e a informação sobre esse tipo de teste pode ajudar a tratá-lo enquanto ainda é administrável. Além disso, com esse monitoramento os autores do estudo esperam identificar as mutações mais perigosas para adaptar o tratamento e “impedir ou retardar a recaída de forma substancial”, disse Nicholas Turner, o principal autor do estudo. “No entanto, estamos em uma fase inicial de pesquisa e precisamos de mais estudos antes que o teste possa ser aplicado aos pacientes de maneira convencional”, acrescenta.
Embora as técnicas de sequenciamento genético permitam descobrir os restos de DNA tumoral que caem na corrente sanguínea, isso é mais fácil quando a doença está na fase metastática e já invadiu partes do corpo distantes do foco inicial do mal. No caso de câncer da mama, em que 95% dos diagnósticos ocorrem numa fase precoce, quando o tumor ainda está localizado, foram encontradas mais dificuldades para identificar a presença do câncer no sangue e acompanhar sua evolução por meio da análise de seu material genético.
Medicina personalizada
Métodos como o apresentado pelo ICR num estágio inicial de desenvolvimento são passos no que se conhece como medicina de precisão, uma abordagem que procura personalizar ao máximo os tratamentos em vez de buscar soluções gerais que valham, embora apenas pela metade, para muitas pessoas. No início deste ano, vinte hospitais da Espanha começaram a implantar a biópsia líquida para melhorar o tratamento do câncer. Nesse caso, trata-se de procurar, a partir de uma amostra de sangue, se os pacientes com câncer de cólon metastático têm ou não a mutação do gene RAS. Sabe-se que entre 55% e 65% dos pacientes com câncer têm essa mutação e não respondem à terapia com os medicamentos Cetuximab e Panitumumab, que é eficaz para outras variantes genéticas. A informação serve para escolher melhor o tratamento adequado.
Também no início deste ano, uma equipe do Instituto de Pesquisa Biomédica de Barcelona publicou a criação de um exame genético que serve para calcular o risco de um paciente com câncer de cólon desenvolver tumores secundários e atingir a fase metastática. Essa informação, caso esse avanço chegue aos hospitais, permitirá tratar apenas as pessoas que estão em risco e evitar a aplicação da quimioterapia em outros pacientes, cujos tumores não têm o mesmo perfil de risco.
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