O ministro Joaquim Levy cresceu. Não em altura, porque ele não tem mais idade para isso e nem precisa, já que mede 1,90m. Ele cresceu em peso político e representatividade do governo. Desde que começou a revelar os detalhes de seu ajuste fiscal, Levy já fez de tudo um pouco, transitando entre a política, as relações internacionais, as intrigas do poder e os afazeres da sua pasta.
Nesta quarta-feira (5) começa o grande teste da credibilidade alcançada pelo super ministro até agora e, principalmente, do grau de convencimento assimilado pelo Congresso Nacional para aprovação das medidas do ajuste que dependem do legislativo. A primeira prova começa pelas mudanças na Previdência, como pagamento de pensão e seguro desemprego – coisa que pega o político pelo fígado.
Tem muito mais a ser feito e os resultados vão demorar a chegar. O desempenho das contas públicas nos três primeiros meses do ano deixa claro que a pedreira é grande. O governo não conseguiu alcançar nem 10% da economia prometida para o pagamento dos juros da dívida pública – as despesas continuam crescendo acima das receitas e os cortes de gastos feitos até agora não foram suficientes. Será preciso fazer mais, apertar mais.
Nesses meses de discursos e metáforas sobre a importância dos ajustes, a maior ameaça feita pelo ministro foi sobre o chamado grau de investimento – nota concedida pelas agências de classificação de risco que dá ao Brasil status de país seguro e com acesso ao mercado internacional de crédito. Levy tem razão em enfatizar o tamanho do enrosco se sairmos dessa categoria – seria uma pá de cal na recuperação da economia no médio prazo.
Para aproveitar a musculatura adquirida, Levy quer, com uma mão, segurar o grau de investimento, com a outra, conduzir uma agenda "triplo A” na economia. O AAA é a nota máxima concedida pelas agências de classificação de risco, ou seja, seria uma agenda de alto nível, supimpa, coisa de país rico. Os principais temas desta pauta são qualitativos e giram em torno do fortalecimento institucional do país, sem foco em algum setor, partido ou região. Levy fala em qualidade dos gastos, competitividade, infraestrutura e educação. “Eu aperto aqui mas mostro o caminho do bem”, estaria dizendo o ministro.
Do outro lado do “balcão”, os consumidores assistem com preocupação a deterioração ao seu redor. Os desequilíbrios provocados pela política econômica do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff já saíram da cartilha da economia e afetam as conquistas subjetivas alcançadas nos últimos anos: o bem estar, a previsibilidade, o poder de compra, a segurança no emprego – a confiança no presente e a esperança com o futuro.
A esperança de Joaquim Levy não deve estar apenas na conveniência do Congresso Nacional em aceitar as medidas impopulares, mas necessárias para o fortalecimento da economia e do país. Ela também precisa estar na sensibilidade e na capacidade dos brasileiros em absorver as perdas, receber os choques, aguentar a “dor” das correções da realidade e, fundamentalmente, na paciência de todos para esperar a retomada.
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