Na ponta do lápis, o ajuste fiscal pretendido pelo governo vai perder uns bilhões de um lado e ganhar outros bilhões de outro. As mudanças feitas pelo Congresso Nacional nas medidas que regulam benefícios sociais fazem parte desta equação que está longe do fim. Para entregar uma economia de 1,2% do PIB em 2015, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vai precisar somar e subtrair muitos “dinheiros” das contas públicas.
Entre as negociações com a política do Congresso e a gestão das receitas e despesas do país, ainda leva um tempo até que se forme uma noção mais acurada da quantidade de recursos alcançados para compor o superávit primário. Também não estão claras as fontes do dinheiro - quanto virá de aumento de impostos, quanto virá de cortes de gastos, quanto virá de reformas nos benefícios.
A pergunta que se faz hoje é: qual será o ajuste possível? Com um adendo: o possível será suficiente? Com o que já sabemos até agora, o possível parece bem distante do ideal. Não valendo mágica, milagre ou um arrocho descomunal na economia, dependendo da composição do que foi “possível fazer”, o suficiente aceita - por hora. Se a economia para pagar os juros da dívida sobrecarregar os contribuintes, não será bom. Se o plano de corte de gastos gerar alguma eficiência na gestão pública, será bom.
Para quem assiste ao debate de casa com a “carteira” em perigo, a sensação de dúvida transita entre o curto, o médio e o longo prazo. É a tal da confiança com o presente e a esperança com o futuro que estão comprometidas. A inflação é a força mais contundente do preço do ajuste e a mais rápida. A corrosão do poder de compra é mais cruel com a população de baixa renda, mas não poupa as outras classes.
No médio prazo o que vai pesar é a estagnação da economia. Para corrigir a inflação o Banco Central sobe os juros, encarece o consumo e derruba o PIB para equilibrar demanda e oferta (supostamente). Devemos terminar o ano com o pior desempenho da atividade dos últimos 20 anos, com uma queda do Produto que pode chegar a 2%. Na mesma conta da estagnação está o desemprego, que já cresce e vai continuar subindo até que o custo do trabalho esteja adequado à produtividade.
Para o longo prazo a perspectiva não é negativa, é medíocre. Tudo vai depender de como vamos atravessar o curto e o médio prazos. Quanto vai ter custado ao país a correção da política econômica? Claro que em algum momento o Brasil começa a entrar em recuperação. Aqui aparece a conta do futuro: a queda dos investimentos. Ao passar anos arrumando a casa, o país estaciona no avanço tecnológico e na melhora da infraestrutura e, consequentemente, na capacidade de produção.
Então, ficamos assim. No curto prazo vai custar muito caro. No médio prazo será desalentador por causa do desemprego maior. E no longo prazo, será medíocre. Para completar esse roteiro, minimamente, não há como escapar do ajuste de agora. Quanto mais eficiente, rápido e abrangente for o ajuste, menos medíocres seremos (ou estaremos) no futuro.
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