O título é uma provocação, dada a popularidade crescente deste desporto em Portugal - existirão cerca de 2 500 praticantes desta arte que chegou ao País apenas em 2004, pela mão do mestre Paulo Pereira, uma parte substancial dos quais são mulheres. O Krav Maga consiste em técnicas de defesa e de ataque para situações de "combate de proximidade", excecionalmente adaptáveis para as situações de crime comum nas grandes cidades: assaltos, tentativas de sequestro para violação, agressões, o que ajuda a explicar essa popularidade entre o sexo feminino.
Mas o Krav Maga não é, digamos, para meninas. Na sua origem é uma técnica militar. Foi criado por Emrich Lichtenfeld, um judeu nascido em 1910, em Budapeste, na Hungria, no que ainda era o Império Austro-Húngaro. Campeão em vários desportos (ginástica, luta livre e boxe), Lichtenfeld formou parte das brigadas de autodefesa de Bratislava, que protegiam os bairros judeus da cidade dos ataques dos nazis. Foi então que se começou a aperceber que a luta de rua era bastante diferente da do ringue e começou a adaptar várias técnicas vindas de outros desportos (também do judo e do jiu-jítsu, artes marciais em que era cinturão negro). Assim nasceu aquilo a que mais tarde se veio a chamar Krav Maga.
Lichtenfeld abandonou a Europa num dos últimos barcos de refugiados a conseguir fazê-lo, em 1940.  No Médio Oriente, ainda antes do estado de Israel ser criado, treinou os membros da Haganah, uma organização paramilitar que defendia os judeus dos ataques dos árabes. Já com o estado hebraico formado, Lichtenfeld foi o principal formador das forças de combate israelitas. O domínio do Krav Maga tornou-se obrigatório para todos aqueles que fizessem parte da Defesa de Israel - incluindo a Mossad, o mítico serviço de espionagem do país. Durante décadas o Krav Maga foi quase um segredo de Estado.
O prestígio das forças armadas israelitas e o mistério que envolvia a técnica ajudaram depois a que se espalhasse pelo mundo, a partir de 1971 (ano da abertura, em Israel, da primeira academia de Krav Maga, em Netanya). Nas forças armadas da Polónia, por exemplo, é parte obrigatória da formação dos militares. Mas em Portugal só em 2004 a Federação de Krav Maga foi fundada, quando Paulo Pereira, um ex-lutador de kickboxing, viu aprovado o currículo dos seus cursos pela Federação Europeia dirigida por Richard Douieb.
À segunda é de vez
A experiência dos comandos com o Krav Maga começou em 2011, com uma formação que os constantes destacamentos desta tropa de elite para teatros militares no estrangeiro (30 comandos portugueses servem atualmente no Iraque) não permitiu concluir. Mas agora, assinado um protocolo formal entre a Federação e o Centro de Tropas Comando, o curso, com a duração de dois anos, é mesmo para levar até ao fim: "A ideia é que estes oito instruendos - todos voluntários - sejam mais tarde instrutores. Primeiro aos restantes elementos dos comandos e depois, talvez, aos outros ramos das Forças Armadas", diz o major António Cancelinha, durante a primeira demonstração de Krav Maga, que ocorreu na passada quinta-feira, no Quartel da Carregueira, em Sintra.
Durante a sessão praticaram-se movimentos que são ensinados exclusivamente às forças armadas, pois implicam defesa com a utilização da arma de serviço, e também alguns golpes letais, que normalmente não são revelados aos civis nos primeiros anos de aprendizagem. "Trata-se de uma técnica que vem colmatar uma lacuna. Em operações como as que decorrem no Afeganistão, enfrentamos uma ameaça assimétrica. Nunca sabemos onde está o inimigo e quando vai atacar. Muitas vezes, quando ataca, é já numa situação em que o corpo a corpo é inevitável. Assim, o Comando fica pelo menos com um último recurso de proteção da sua integridade física, que sabe poder usar, se isso acontecer. É bom para a autoconfiança do Comando e bom para a moral", sintetiza.