Merval Pereira
O Globo
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A pressão por participação no governo continua
determinando a atuação dos partidos políticos, o que ao mesmo tempo em
que demonstra que a reforma política é fundamental, também indica que
dificilmente ela passará. O próprio governo trabalha com essa lógica,
como demonstra a cobrança do ministro Eliseu Padilha, Chefe do Gabinete
Civil, aos partidos da base governista. Cada partido tem um ministério, e
é responsável, portanto, por trazer os votos para a aprovação de
projetos do governo.
Nada mais explícito do toma-lá-dá-cá do que
isso. Não é por acaso, portanto, que já se anuncia que dois ministérios
que foram extintos na primeira reforma administrativa feita no governo
Temer, logo que assumiu sua interinidade, voltarão a ser criados.
SOLIDARIEDADE E PRB – O de
Desenvolvimento Agrário ficará com o Solidariedade, e o da Pesca com o
PRB. O fim do ministério da Pesca era apresentado como símbolo de uma
nova visão de governo, enquanto que sua criação chegou a ser considerada
o auge do clientelismo nos governos petistas. Pois ele não está apenas
de volta, mas com projeto de criação de 27 administrações regionais para
cuidar do assunto.
Esses são apenas alguns exemplos de recuos do
governo Temer que significam muito mais do que simples mudanças de
diretrizes de gestão pública. Mostram enfaticamente que não há nesse
governo peemedebista nenhuma visão reformista do estado brasileiro,
muito menos uma posição antagônica ao que vinha sendo feito
anteriormente.
O que existe são interesses políticos que
precisam ser satisfeitos, da mesma maneira que a presidente afastada
Dilma Rousseff usava ministérios para compensar partidos aliados, sem
que um programa de governo fosse a razão de mudanças. Qual seria então a
diferença entre os dois governos, se a política clientelista continua
dando as cartas?
CLIENTES ANTIGOS – Nem mesmo
os clientes mudaram, pois esses mesmos partidos que agora estão na base
do governo Temer estavam até pouco tempo atrás na base petista, seja sob
Dilma ou sob Lula. A diferença mais evidente é que Dilma dava os
ministérios e não queria mais saber do partido nem do ministro,
deixava-os em paz para usar politicamente seu feudo desde que a
deixassem em paz.
Lula e Temer, políticos que são, sabem afagar os
políticos, que além de poder e dinheiro, querem demonstrações de
prestígio. Até ouvir Roberto Jefferson cantar árias Lula fez, e nem
mesmo assim conseguiu impedir que o líder do PTB colocasse por água
abaixo os planos petistas de hegemonia política, de unciando o mensalão.
Mas a disputa política foi desencadeada pelo
próprio PT, à frente o então todo poderoso ministro José Dirceu, que à
medida que o lulismo se impunha no país, não queria dividir o butim com
outros partidos pequenos como o PTB. Por Lula, todos ficariam com um
pedaço e o poder com ele e sua turma. Temer tem essa “qualidade”
política, entende os interesses de seus aliados e procura
recompensá-los.
VELHA POLÍTICA – Mas essa é a
velha política, que levou ao descrédito completo dos partidos políticos.
Se Temer pretender levar seu curto período presidencial na base dessa
política, não apenas não conseguirá equilibrar a economia como abrirá
uma crise política grave com parte de sua base, como o PSDB, que já se
inquieta com a perspectiva de que as reformas estruturais não serão
feitas.
E também com a previsível pretensão de Temer, ou
de seu ministro da Fazenda Henrique Meirelles, de se candidatarem à
sucessão em 2018.
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