sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Movimentos sociais lançam frente de esquerda anti-Levy e sem o PT Esquerdistas se dividem por divergência na estratégia de lidar com crise política Decisão é simbólica, mas não assegura avanço do impeachment

Cartaz de divulgação da nova frente da esquerda.
Movimentos sociais de esquerda lançam nesta quinta-feira a Frente Povo Sem Medo, que reúne 27 entidades, entre elas movimentos sindicais e da juventude, sem-teto eIgreja Católica, críticas às políticas de austeridade promovidas pelo Governo federal. A frente não terá a presença institucional do Partido dos Trabalhadores, que faz parte de outra frente, a Brasil Popular, cujo primeiro ato público aconteceu no começo do mês.
A criação de duas frentes acontece devido a dificuldade de se encontrar um discurso na esquerda que agrade a todos os segmentos. Enquanto um grupo, ligado ao PT, quer defender enfaticamente a postura anti-impeachment, o outro acredita que o momento é de aumentar o tom contra as políticas de austeridade do Governo, algo que, para os petistas, pode desgastar ainda mais Rousseff nesta crise política. O grupo ligado à Frente Povo Sem Medo, por sua vez, acredita que as críticas são essenciais para evitar que a presidência ceda ainda mais à pressão do que chamam de grupos conservadores e continue a adotar mais políticas de austeridade.
Em uma coletiva no centro de São Paulo nesta semana, os representantes dos movimentos que compõem a Frente Povo Sem Medo buscaram minimizar as diferenças, afirmando que a esquerda está unida. “Os objetivos das duas frentes são os mesmos: a defesa do direito dos trabalhadores contra a política econômica recessiva que aplica a alta dos juros e retira recursos de programas sociais. O diferencial é que a Frente Povo Sem Medo é constituída exclusivamente por setores do movimento social e sindical e a Frente Brasil Popular é ampla e participam partidos de esquerda”, disse Douglas Izzo, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) de São Paulo.Os dois grupos haviam promovido um ato conjunto em 21 de agosto, que acabou tomado pelo discurso anti-ajuste. O PT, que em São Paulo participou com lideranças nacionais e também faz críticas à política econômica de Rousseff, não assumiu o caminhão de som, comandado por Guilherme Boulos, líder doMovimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), e acabou relegado ao final da marcha, sem qualquer protagonismo no protesto.
Ligada ao PT, a CUT faz parte das duas frentes. Na Povo Sem Medo também estão os movimentos estudantis Juntos! e Rua-Juventude Anti-capitalista, ligados ao PSOL, a União da Juventude Socialista (UJS) e a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), ligados ao PCdoB, além do MTST, que já havia elevado o tom contra o Governo ao ocupar em 23 de setembro a sede do Ministério da Fazenda contra as políticas de cortes no programa de habitação Minha Casa, Minha Vida.
Segundo Boulos, que liderou a coletiva de imprensa nesta terça, apoiam a frente mais de cem intelectuais como o expoente da Teologia da Libertação, Frei Betto, o escritor Ferrez, os professores da USP André Singer e Raquel Rolnik, além de políticos como Lindberg Farias (PT) e Luciana Genro (PSOL). Genro, que foi candidata à presidência na última eleição, já defendia desde a vitória de Rousseff  uma mobilização popular para conter os avanços “dos interesses das figuras mais reacionárias” no novo mandato. 
Desconectada, ao menos oficialmente, de partidos políticos, a Frente Povo Sem Medo adota um discurso de “recuperar as ruas”, que, para eles, foram tomadas por manifestações de caráter conservador desde os atos pós-junho de 2013. Também defende a taxação das grandes fortunas, algo que o Governo ainda não conseguiu emplacar no Congresso, e a auditoria da dívida pública. O primeiro ato do grupo está marcado para 8 de novembro, mas não há detalhes de como ele será.

Nenhum comentário:

Postar um comentário