A inflação tem subido sem dó no Brasil inteiro. Mas, em Brasília, a população tem pagado mais do que em qualquer outro lugar pelos produtos e serviços que consome. De acordo com o o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo medido entre 16 de setembro e 15 de outubro (IPCA-15) aumentou 0,66% no país. Em Brasília, foi o dobro: 1,28%. O mesmo ocorreu com o Índice de Preços ao Consumidor—Semanal (IPC-S), da Fundação Getulio Vargas. Pelo indicador, a carestia nacional registrou alta de 0,67% na terceira quadrissemana de outubro, mas na capital federal o salto foi quase três vezes maior: 1,79%.
Pelos dados do IPC-S, o que mais tem contribuído para o aumento da carestia no Distrito Federal é o arrocho nos preços da tarifas públicas: a passagem de ônibus urbanos subiu 18,33%, e a conta de luz teve alta de 7,61%. No ano, os bilhetes de ônibus já aumentaram entre 20% e 50% dentro do pacote de reajustes promovido pelo governo local. As passagens do metrô ficaram 33% mais caras. Cigarros e bebidas subiram por causa da elevação do ICMS de 25% para 29%. E a alta nos combustíveis aplicada pela Petrobras nas refinarias foi repassada integralmente aos consumidores pelos donos dos postos de gasolina da cidade.
Outra bomba está prometida para janeiro no quesito impostos. O governo distrital já anunciou que IPTU, IPVA e ICMS de combustíveis vão subir. Em Brasília, também se paga mais do que em qualquer outro lugar por serviços de internet e de tevê por assinatura, e um aumento de até 15% só de ICMS está previsto nos pacotes dos clientes. Só com a elevação dos impostos desses serviços, o GDF espera uma receita extra de R$ 52 milhões para cobrir rombos no orçamento. A conta dos desajustes, como sempre, é paga pelo consumidor.
Transportes
Para Nilton Marques, ex-coordenador do Núcleo de Análise de Preços da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), a inflação na capital subiu acima da média principalmente pela alta generalizada das tarifas. Ele explica, no entanto, que também pesa muito o fato de a capital ser um hub (entroncamento) aéreo. “Dentro do grupo transportes, os preços das passagens aéreas têm impacto enorme na economia da cidade porque a maioria dos produtos vem de outros estados, por avião ou por rodovia. Nessa conta, entra ainda a gasolina, que já acumula alta de, pelo menos, 15% este ano”, explica. “Não temos indústrias. Desde carros até alimentos, tudo vem de fora”, destacou.
Marques ainda salientou que o aumento de preços dos serviços públicos e dos produtos em geral também chega à moradia. “Os aluguéis em Brasília estão entre os mais altos do país.” Segundo o Sindicato dos Condomínios (Sindicondomínio-DF), os boletos dos moradores tiveram elevação média de 12% em 2015. A alta foi puxada principalmente pela contas de energia elétrica e de água.
A fisioterapeuta Tamara Paiva, 28, está assustada com os preços praticados na cidade. Ela veio há três anos de São Gonçalo do Sapucaí, no sul de Minas, e, até hoje, não se acostumou. “Minha mãe, quando me visita, fica inconformada. Ela diz que os comerciantes daqui pensam que todo mundo é político”, contou. Tamara reclama que, neste ano, os preços dispararam. “Tudo subiu: alimentação, combustível, produtos de limpeza, luz, água, internet, telefone. Já reduzi quantidades, troquei de marca, mas está difícil diminuir os custos. Minha vida social também não existe mais. Restaurantes, só uma vez por mês”, afirmou.
Tamara diz que veio morar em Brasília porque arrumou emprego com salário quatro vezes maior do que ganhava em São Paulo. “Na minha cidade, em Minas, no Sudeste todo, a minha profissão está saturada. Aqui é um bom campo”, constatou. A questão dos salários é destacada por Marques como um dos fatores determinantes da inflação mais alta na cidade. “As pessoas pagam. O DF tem a maior renda per capita do país. O setor público ganha muito bem e puxa o setor privado”, avaliou.
No entanto, a vida não está fácil mesmopara quem trabalha ou é aposentado do serviço público. Paulo Furtado, 72 anos e a mulher, Antonia Furtado, disseram que já não têm ideia de quanto gastavam no mês passado. “Perdemos as contas. Sempre procuramos o mais barato. Se não fosse a aposentadoria integral, não teríamos como viver”, asseguraram, enquanto faziam compras num supermercado do Cruzeiro.
Já o servidor Alexandre Magno avalia que a inflação vem dos desmandos políticos e da alta do dólar. “A carne subiu 100% desde o ano passado. A crise chegou para todo mundo. Os políticos tratam o dinheiro dos nossos impostos como se fosse deles. As contas públicas não são transparentes, não tem fiscalização”, indignou-se.
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