Mais de 5,5 mil supostos crimes sexuais em escolas britânicas foram denunciados à polícia nos últimos três anos, segundo um levantamento da BBC.
Pedidos de acesso à informação enviados a todas as polícias do Reino Unido mostraram que teriam ocorrido quase 4 mil casos de agressão sexual e mais de 600 estupros.
Pelo menos um quinto dos ataques foi realizado por menores, mas não há mais detalhes sobre os casos.
O governo disse que as escolas têm o dever de reportar suas preocupações com o bem-estar dos alunos.
As polícias britânicas responderam a um pedido da BBC a respeito de quantos ataques sexuais foram registrados em escolas durante os últimos três anos acadêmicos, de 2012 a 2015. A polícia escocesa revelou dados de 2011 a 2013.
Em alguns casos, tanto vítimas quanto suspeitos tinham cinco anos de idade.
A estudante Shannon Rooney, de 18 anos, de Stirlingshire – que aceitou ser citada na reportagem –, foi atacada em um depósito por um colega quando tinha 15 anos.
"Eu disse 'não' e ele me puxou (para dentro do armário), fechou a porta e começou a me agredir sexualmente", disse. "Os pais acreditam que você está segura na escola e que nada ruim vai acontecer, mas isso muda toda a nossa percepção sobre o que é a escola."
O colega de Shannon declarou-se culpado, mas, inicialmente, foi dispensado sem punições.
A família dela recorreu, e o garoto acabou sendo posto na lista de criminosos sexuais e tendo que fazer serviços comunitários durante um ano.
'Visão distorcida'
Um garoto que não quis ser identificado foi atacado em uma sala de aula por três de seus amigos aos 15 anos.
"Eles eram os garotos mais populares da escola, jogavam nos principais times. Na época, o diretor não pareceu surpreso e atribuiu (o incidente) a 'brincadeira de vestiário de rúgbi'."
"Esses números são muito preocupantes, especialmente porque muitas vítimas são tão jovens e os crimes registrados aconteceram dentro das escolas. Infelizmente, não estamos surpresos, já que pesquisas anteriores mostraram a escala dos abusos cometidos por jovens", disse à BBC Jon Brown, chefe dos programas contra abuso sexual na ONG britânica Sociedade Nacional para a Prevenção da Crueldade com Crianças (NSPCC, na sigla em inglês).
"Sabemos que, para algumas crianças mais velhas, acessar pornografia explícita está distorcendo sua visão do que é um comportamento aceitável. E os muito jovens – que estão na escola primária e até mais novos – podem estar imitando atividades sexuais que testemunharam."
O líder do Conselho Nacional de Chefes de Polícia, Simon Bailey, teme que o problema seja ainda maior.
"Acho que esses dados são a ponta do iceberg. É uma boa notícia que mais vítimas tenham se sentido confiantes para denunciar os abusos, mas acho que mais casos estão ocorrendo – apesar de não poder provar isso. E isto inclui crianças sendo estupradas dentro das escolas."
De acordo com as estatísticas mais recentes do Departamento de Educação na Inglaterra, 60 crianças foram permanentemente afastadas por conduta sexual imprópria nas escolas durante o ano letivo 2013/2014. Não houve afastamentos no País de Gales e na Escócia. A Irlanda do Norte não forneceu dados.
O governo afirma que aulas sobre sexo e relacionamentos são compulsórias em escolas secundárias e que muitas escolas primárias também exploram o assunto de acordo com a idade dos alunos, mas ativistas dizem que não é suficiente.
Instruções para escolas
A comissária da Infância para a Inglaterra, Anne Longfield, disse que escolas e profissionais que trabalham com crianças devem ficar mais atentos a abusos, especialmente quando ele acontece dentro das escolas.
"Quero que educação pessoal, social, econômica e de saúde – incluindo um componente de relacionamentos e sexo – faça parte do currículo nacional. Toda crianças precisa entender o que é comportamento ilegal e inapropriado."
Um porta-voz do governo disse que o Departamento de Educação divulgou um kit com conselhos e diretrizes para a proteção de crianças em escolas e universidades, em março deste ano.
Ele disse ainda que o governo se compromete a oferecer esclarecimentos sobre a denúncia obrigatória de abusos com crianças e já divulgou diretrizes para falar com crianças a partir dos 11 anos sobre consentimento sexual.
"Nossas instruções deixam claro que qualquer pessoa que se preocupe com o bem-estar dos alunos deve procurar autoridades locais ou a polícia se um crime for cometido, e todas as escolas devem agir rapidamente a respeito dessas acusações."
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