O dono da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, afirmou nesta terça-feira (15), em depoimento à CPI da Petrobras, que, na visão dele, ficar de fora do cartel de construtoras que fraudava licitações na estatal significaria "assinar sentença de morte" de sua empresa.
Pessoa é considerado o líder do cartel de construtoras que combinava resultados de licitações naPetrobras mediante pagamento de propina a políticos. Ele colabora com as investigações por meio de um acordo de delação premiada, cujo conteúdo ainda é mantido em sigilo pela Justiça.
"Em vez de ficar de fora [do esquema], paguei. A cada contrato, um pagamento. Eu não queria correr o risco de as coisas mudarem. Com o tempo, as regras eram aplicadas de maneira tão automática que, embora não gostasse daquilo, seguia de forma quase natural", disse o empresário.
"Outro dia fiquei pensando o que aconteceria na vida real se eu adotasse o caminho inverso, se comparecesse a uma delegacia para denunciar. Na visão que eu tinha à epoca, isso significaria assinar sentença de morte da minha empresa. O medo de jogar fora uma vida de trabalho, a responsabilidade por milhares de vidas envolvidas nos projetos e nas obras me levaram ao silêncio, à passividade e ao erro", destacou.
O empreiteiro afirmou ainda que conviveu com a “estrutura” instalada na Petrobras para que a UTC continuasse a crescer. “Para que UTC continuasse a prestar seus serviços à Petrobras, estava claro que teria de contribuir financeiramente”, afirmou.
Em sua fala, Pessoa afirmou que teve uma relação "civilizada" com o poder público e que a maioria dos políticos com quem conviveu é "honesta".
"A relação que mantive com o poder público foi bastante civilizada. A maioria dos políticos e governantes com quem convivi é honesta", afirmou aos parlamentares.
Delação
Depois da apresentação inicial, sobre a UTC e sua carreira, Pessoa afirmou aos parlamentares que permaneceria em silêncio diante das perguntas do colegiado para não comprometer os depoimentos que presta à Justiça na condição de delator.
Depois da apresentação inicial, sobre a UTC e sua carreira, Pessoa afirmou aos parlamentares que permaneceria em silêncio diante das perguntas do colegiado para não comprometer os depoimentos que presta à Justiça na condição de delator.
“A partir deste momento, adotarei a todas as perguntas uma mesma resposta padrão para usar o silêncio que a Constituição me assegura”, afirmou o empresário. Como ele foi convocado na condição de investigado, tem o direito de permanecer em silêncio.
Em seguida, o presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), perguntou a Pessoa se ele responderia aos questionamentos dos deputados no caso de a comissão fechar a reunião para o público externo. Pessoa, entretanto, respondeu que permaneceria em silêncio.
O empresário, que fez acordo de delação premiada, alegou que, se fosse responder aos parlamentares, poderia comentar assuntos sigilosos. "Ao falar de um assunto sem sigilo, correria o risco de falar de assuntos protegidos por sigilo", afirmou durante a sessão;
Durante as investigações da Operação Lava Jato, diversos advogados acusaram a Polícia Federal e o juiz Sérgio Moro, responsável pelo processo em primeira instância, de manter empreiteiros presos para forçá-los a revelar detalhes do esquema. Moro sempre negou.Antes, porém, Pessoa disse aos parlamentares que resolveu firmar acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República de forma "espontânea". Ele ressaltou que não sofreu "pressão" de ninguém para delatar os episódios que ocorreram nos anos em que participou do esquema de corrupção.
"Fiz acordo de colaboração com a Procuradoria-Geral da República, no qual relatei episódios que acabariam mudando completamente a minha vida pessoal e profissional. Episódios que interferiram na vida de todos aqueles que confiaram em mim profissionalmente, episódios que interferiram na vida das pessoas que eu mais amo, a minha família. [...] Sobre a minha adesão, tenho obrigação de dizer que colaborei com autoridades de forma espontânea", disse o empresário.
"Colaborar é resultado de uma mudança. Mudança que não é resultado de pressão. Mudança que veio de dentro para fora", complementou Pessoa.
Também foi convocada para depor à CPI nesta terça-feira a funcionária da UTC Sandra Raphael Guimarães, que declarou, ao ser chamada para a sala da audiência, que se manteria em silêncio diante das perguntas dos parlamentares. “Não tenho como colaborar e ficarei em silêncio”, disse. Ela também foi ouvida na condição de investigada, o que permitiu que ela ficasse calada.
Saipem
O outro depoente, Roberto de Moraes Mendes, que atua como gestor de contratos na empresa Saipem do Brasil, foi o último a ser chamado ao plenário da CPI. Ele prestou depoimento como testemunha, o que significa que tem o dever de dizer a verdade aos parlamentares.
O outro depoente, Roberto de Moraes Mendes, que atua como gestor de contratos na empresa Saipem do Brasil, foi o último a ser chamado ao plenário da CPI. Ele prestou depoimento como testemunha, o que significa que tem o dever de dizer a verdade aos parlamentares.
Mendes respondeu aos parlamentares que não tem conhecimento de pagamento de propina a diretores da Petrobras. “Não tenho conhecimento de nenhum recurso pago a nenhum diretor da Petrobras”, respondeu, ao ser questionado sobre se a empresa pagou recursos a algum diretor da estatal.
De acordo com denúncia do Ministério Público Federal, o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque recebeu propina para assegurar a contratação da empresa Saipem pela Petrobras para obra de instalação de um gasoduto.
A CPI da Petrobras já ouviu João Antônio Bernardi, que era funcionário da Saipem e foi preso durante a 14ª fase da Operação Lava Jato. Ele já é réu perante a Justiça Federal e responde porcrimes como corrupção e lavagem de dinheiro.
Além de pagar propina, o MPF afirmou que Bernardi pagava vantagem indevida por meio de obras de artes. Os pagamentos também ocorriam por meio de depósitos no exterior com a utilização da off-shore Hayley do Brasil, de acordo com as investigações.
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