Os atentados de Paris dominaram a décima reunião de cúpula do Grupo dos 20 desde o primeiro minuto, que os líderes dos países ricos e emergentes passaram em silêncio para lembrar as vítimas. O encontro, que começou neste domingo em Antalya (Turquia), transformou-se em um debate acelerado sobre como aumentar os controles nas fronteiras e nos aeroportos para neutralizar ameaças terroristas. Na frente militar, os EUA anunciaram que trabalham com a França para “aumentar a intensidade dos ataques aéreos” contra o grupo jihadista Estado Islâmico (ISIS). Por sua vez, a França já iniciou uma intensa ofensiva de bombardeios contra a cidade síria de Raqa, a autoproclamada capital dos jihadistas.
Paris aproxima Obama e Putin
Vladimir Putin se acostumou a ser o protagonista das últimas reuniões do G20. Isso aconteceu na anterior, em Brisbane (Austrália), que ele abandonou rapidamente diante das críticas pela incursão russa na Ucrânia. E, após os atentados de Paris, é o protagonista desta, na qual o objetivo da UE e dos EUA é convencer a Rússia, aliada do regime de Bashar al-Assad, a concentrar seus ataques no grupo Estado Islâmico, e não na oposição moderada ao regime sírio.
Na falta de acordos, valem os símbolos. Putin e o presidente dos EUA, Barack Obama, encenaram na reunião uma aproximação com um encontro improvisado, de meia hora de duração segundo a delegação russa. Um porta-voz da Casa Branca o chamou de “construtivo”.
“O principal interesse do G20 costuma ser a economia, mas os tristes incidentes [de sexta-feira em Paris] nos mostram que não podemos ignorar a relação entre a economia, a política e a sociedade.” As palavras com que o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, abriu a reunião das 20 maiores economias desenvolvidas e emergentes procuravam conciliar o fato de este encontro ter sido organizado durante meses em torno assuntos econômicos, migratórios e ambientais com a necessidade urgente de encontrar formas de reforçar a segurança diante da ameaça do terrorismo.
“Espero que esta cúpula do G20 seja um momento histórico para a luta contra o terrorismo e a crise dos refugiados”, acrescentou Erdogan. “As expectativas do mundo estão depositadas em nós.” Por enquanto, os líderes do G20 decidiram incluir o resultado do debate em um comunicado separado daquele que normalmente é emitido no encerramento da reunião de cúpula, que ocorrerá nesta segunda-feira.
No esboço de comunicado em discussão, o grupo aponta a necessidade de redobrar os controles nas fronteiras e nos aeroportos para evitar novas ações terroristas, como as que são atribuídas ao ISIS.
Além do ataque múltiplo em Paris, no último mês também houve um atentado em Ancara contra uma marcha organizada por grupos pró-curdos, que causou 102 mortes. E um avião russo explodiu no ar após decolar do Egito (224 pessoas morreram), no que os serviços de inteligência ocidentais consideram uma ação terrorista do ISIS.
Diante da escalada de atentados, os Governos ocidentais estão analisando a necessidade de uma intervenção mais decidida na guerra da Síria, que envolve o ISIS, milícias curdas, o que a União Europeia e os EUA qualificam de “oposição moderada” e o regime de Bashar al-Assad, apoiado por milícias xiitas e combatentes iranianos e libaneses.
Novos apoios
Em uma entrevista em Antalya à rede NBC, o assessor-adjunto de segurança da Casa Branca, Ben Rhodes, afirmou que os EUA trabalham com a França para intensificar os ataques aéreos contra o ISIS na Síria.
“Está claro que temos de nos esforçar ainda mais”, disse Rhodes. “Parte do que estamos fazendo aqui é buscar contribuições adicionais para ajudar a dividir o fardo desta operação”, acrescentou. “A França é nossa aliada nas operações que realizamos no Iraque e na Síria, e é claro que [os franceses] querem aumentar seus esforços.”
O assessor da Casa Branca adiantou que “nos próximos dias será aumentada a intensidade dos ataques para deixar claro para o ISIS que ele não tem nenhuma área segura”. E assinalou que a estratégia de fornecer armas às forças que combatem o ISIS em terra “parece estar dando resultados”, em alusão aos avanços de milícias curdas.
Em uma reunião bilateral com Erdogan antes do início da cúpula, o presidente dos EUA, Barack Obama, insistiu na mensagem: “Os Estados Unidos e seus aliados redobrarão seus esforços para encontrar uma solução pacífica na Síria e evitar que o ISIS lance mais ataques como os de Paris”.
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