A Campo da Esperança administra os seis cemitérios do DF, localizado no Plano Piloto, no Gama, em Planaltina, Sobradinho, Taguatinga e Brazlândia. A empresa venceu a licitação em 2001, com contrato válido por 30 anos. Mesmo assim, ela deve obedecer a uma tabela de preços e serviços determinada pelo governo e publicada no Diário Oficial do DF — fica exposta na administração de cada local.
Apesar disso, quem não estiver atento a isso poderá ser enganado. O Correio fez o teste. Foi até a administração do Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul, e pediu um orçamento. Foram três tentativas. Na primeira, a atendente ofereceu apenas duas opções, em forma de pacote: jazigo perpétuo de duas gavetas, a R$ 3.009,35 e jazigo perpétuo de três gavetas, a R$ 3.090,13. Ambos deveriam ser pagos divididos no cartão ou no boleto, o último com juros. Mesmo após a reportagem indicar, na tabela, o arrendamento de um jazigo por 10 anos, o que amenizaria o gasto, pois o aluguel custa, no total, R$ 85,04, a funcionária insistiu que não havia a possibilidade. Só seria possível enterrar um ente querido se comprasse um jazigo, pois o cemitério não “trabalhava mais com o arrendamento”.
O mesmo aconteceu com a família da advogada Alessandra Santana Ribeiro, 34 anos. A mãe dela faleceu em 8 de abril. “Fui obrigada a ouvir da funcionária exatamente assim: “É um absurdo vocês não comprarem o jazigo para a sua mãe. Pessoas tão mais pobrinhas compram”. Eles abusam do sentimental para obrigar a gente a fazer o que eles querem”, criticou. Ainda segundo Alessandra, após negar a compra, foi preciso discutir, levantar a voz e usar da advocacia para conseguir o arrendamento. “Depois disso, ela ainda começou a nos tratar mal, negou alguns serviços, como o kit de água e café. Fomos boicotados”, avaliou.
Segundo o marido de Alessandra e também advogado, Flávio Christmann Reis, 31, a família se sentiu pressionada na hora de contratar o serviço. “Eles omitem a possibilidade de as pessoas arrendarem e pressionam pela aquisição de jazigos perpétuos de duas e três gavetas”, reforçou. Outro problema, segundo ele, é a venda casada. No caso das placas de identificação com endereço do jazigo e identidade do falecido, o cemitério vende os dois por R$ 331. No entanto, se o cliente não quiser as placas, eles não fazem a identificação. “Eles cobram o olho da cara e não colocam o bloco, justamente para não ter como fazer as placas com outra empresa. O túmulo da minha sogra estava sem identificação, e fomos obrigados a voltar lá e pagar esse valor”, lamentou Flávio.
Mais uma irregularidade é evidenciada quando outra atendente muda o discurso — desta vez, no Cemitério de Taguatinga. Ela também ofereceu à reportagem apenas os pacotes de R$ 3 mil. Mas, ao ser questionada sobre os mais baratos, ela respondeu: “Arrendar não é indicado pelo cemitério, mas, se for assim, terá de ser de duas gavetas, sendo que uma continuará do cemitério”, explicou. Dessa forma, a família alugaria a gaveta de baixo e, futuramente, a necrópole arrendaria a de cima. Como no caso da opção de locar por 10 anos o prazo máximo é de até 20 anos, ao fim desse tempo, para retirar os restos mortais da segunda gaveta terá, obrigatoriamente, que mexer no corpo de cima, possivelmente de outra família. “Terá de resolver na Justiça”, avisou a funcionária.
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