Foto de setembro de 2013 mostra a presidente da União Tunisiana da Indústria, do Comércio e do Artesanato (Utica), Wided Bouchamaoui, o secretário-geral da União Geral Tunisiana do Trabalho (UGTT), Houcine Abbassi, o presidente da Liga Tunisiana dos Direitos Humanos (LTDH), Abdessattar ben Moussa e o presidente da Ordem Nacional dos Advogados da Tunísia (ONAT), Mohamed Fadhel Mahmoud, durante conferência em Túnis. O quarteto formado pelas quatro organizações após a revolução de 2011 na Tunísia ganhou o Nobel da Paz de 2015 (Foto: AFP)
O Quarteto de Diálogo Nacional da Tunísia ganhou nesta sexta-feira (9) o Prêmio Nobel da Paz de 2015, "por sua decisiva contribuição para a construção de uma democracia pluralista no país durante a revolução de 2011", segundo o comitê que entrega o prêmio.
O quarteto foi formado em 2013, quando o processo de redemocratização do país estava correndo risco de colapsar após assassinatos políticos e protestos se espalharem pelo país.
As organizações dividirão os 8 milhões de coroas suecas (US$ 963 mil) concedidos pelo prêmio, que será entregue em 10 de dezembro em Oslo, na Noruega.
As organizações dividirão os 8 milhões de coroas suecas (US$ 963 mil) concedidos pelo prêmio, que será entregue em 10 de dezembro em Oslo, na Noruega.
Ele é composto por quatro organizações: a União Geral Tunisiana do Trabalho (UGTT, um sindicato), a União Tunisiana da Indústria, do Comércio e do Artesanato (Utica, patronato), a Ordem Nacional dos Advogados da Tunísia (ONAT) e a Liga Tunisiana dos Direitos Humanos (LTDH).
Durante o anúncio, o comitê do Nobel afirmou que o quarteto “estabeleceu uma alternativa, um processo político pacífico em um período no qual o país estava à beira de uma guerra civil”, e foi “instrumental ao permitir que a Tunísia, em um espaço de alguns anos, estabelecesse um sistema de governo constitucional.”
Segundo o comitê, sua formação garantiu “direitos fundamentais para toda a população, sem distinção de gênero, convicção política ou religião", e seu trabalho permitiu que os avanços alcançados durante a revolução não fossem perdidos.
As organizações representam diferentes setores e valores da sociedade tunisiana. “Com essa base, o quarteto exerceu seu papel de mediador e força motriz para promover o desenvolvimento democrático pacífico na Tunísia com grande autoridade moral”, disse o comitê do Nobel. Por isso, o prêmio foi dado ao quarteto em si, e não às quatro organizações individuais.
O Nobel ressaltou o papel essencial que o quarteto teve na transição da revolução até a realização de eleições democráticas e pacíficas na Tunísia em dezembro de 2014.
Reação dos ganhadores
O chefe da UGTT disse que o prêmio é uma mensagem para a região sobre o poder da negociação e do diálogo e "uma homenagem aos mártires da democracia tunisiana".
O chefe da UGTT disse que o prêmio é uma mensagem para a região sobre o poder da negociação e do diálogo e "uma homenagem aos mártires da democracia tunisiana".
"Este esforço feito por nossa juventude permitiu que o país virasse a página da ditadura", acrescentou Houcine Abassi, líder do histórico sindicato.
Revolução de 2011
A Revolução de Jasmim, como ficou conhecido o processo que atingiu a Tunísia entre 2010 e 2011, levou à queda do presidente Ben Ali, que ocupava o cargo desde 1987.
A Revolução de Jasmim, como ficou conhecido o processo que atingiu a Tunísia entre 2010 e 2011, levou à queda do presidente Ben Ali, que ocupava o cargo desde 1987.
Ela começou com protestos populares após o suicídio de um vendedor ambulante, contra o regime autoritário do presidente. As manifestações foram reprimidas violentamente, e resultaram na derrubada do regime em 14 de janeiro de 2011.
A primeira revolução do tipo no mundo árabe, pegou emprestado o nome da flor branca perfumada símbolo da Tunísia e da pureza, da doçura de viver e da tolerância. A queda do regime de Ben Ali na Tunísia abriu caminho para a Primavera Árabe em outros países da região, como Egito, Líbia e Síria.
Em muitos destes outros países, a luta pela democracia e os direitos humanos não se desenvolveu e foi reprimida. Na Tunísia, entretanto, foi possível ver uma transição democrática e uma vibrante sociedade civil que busca o respeito pelos direitos humanos.
“O quarteto pavimentou o caminho para um diálogo pacífico entre a população, os partidos políticos e as autoridades, e ajudou a alcançar soluções baseadas no consenso para diversos desafios entre as divisões políticas e religiosas", disse o comitê.
Exemplo e desafios
Kaci Kullmann Five, presidente do comitê do Nobel, disse esperar que o prêmio “inspire pessoas a verem que é possível trabalhar junto, que movimentos políticos islamistas e seculares conseguiram fazer isso na Tunísia, com a ajuda da sociedade civil, e que isso é do melhor interesse de todas as pessoas”.
Kaci Kullmann Five, presidente do comitê do Nobel, disse esperar que o prêmio “inspire pessoas a verem que é possível trabalhar junto, que movimentos políticos islamistas e seculares conseguiram fazer isso na Tunísia, com a ajuda da sociedade civil, e que isso é do melhor interesse de todas as pessoas”.
Para o Nobel, o caminho que levou à queda de Ben Ali na Tunísia é “único”. “O exemplo da Tunísia mostra que valor do diálogo e do senso de pertencimento nacional em uma região marcada pelo conflito. A transição também mostra que a sociedade civil pode ter um papel crucial na redemocratização de um país.”
A Tunísia ainda enfrenta grandes desafios políticos, econômicos e de segurança – o comitê do Nobel disse esperar que o prêmio ajude a manter o país no caminho da democracia e seja uma inspiração para outros países no Oriente Médio, no Norte da África e no restante do mundo. “Mais do que tudo, este prêmio quer ser um encorajamento para os tunisianos, que apesar dos grandes desafios lançaram as bases para uma fraternidade nacional.”
Repercussão
O porta-voz das Nações Unidas em Genebra elogiou o prêmio. "Felicito o Quarteto do fundo do meu coração. Precisamos que a sociedade civil nos ajude a avançar nos processos de paz", disse em entrevista coletiva Ahmad Fazwi. "Isto é um exemplo brilhante. A Tunísia é um dos países árabes que o fez melhor desde a chamada Primavera Árabe nessa parte do mundo. Por isso que parabéns também para os tunisianos e para o governo da Tunísia", acrescentou.
O porta-voz das Nações Unidas em Genebra elogiou o prêmio. "Felicito o Quarteto do fundo do meu coração. Precisamos que a sociedade civil nos ajude a avançar nos processos de paz", disse em entrevista coletiva Ahmad Fazwi. "Isto é um exemplo brilhante. A Tunísia é um dos países árabes que o fez melhor desde a chamada Primavera Árabe nessa parte do mundo. Por isso que parabéns também para os tunisianos e para o governo da Tunísia", acrescentou.
A chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, celebrou a premiação. “O Nobel para o Quarteto do Diálogo Nacional tunisiano mostra o caminho para resolver as crises na região: unidade nacional e democracia”, afirmou em sua conta no Twitter.
O presidente francês, François Hollande, disse que o prêmio "consagra o êxito da transição democrática" na Tunísia.
Últimos ganhadores
2014: os vencedores do Nobel da Paz foram o indiano Kailash Satyarthi e a paquistanesa Malala Yousafzay, "pela sua luta contra a supressão das crianças e jovens e pelo direito de todos à educação". A estudante do Paquistão se tornou a mais jovem ganhadora do prêmio.
2014: os vencedores do Nobel da Paz foram o indiano Kailash Satyarthi e a paquistanesa Malala Yousafzay, "pela sua luta contra a supressão das crianças e jovens e pelo direito de todos à educação". A estudante do Paquistão se tornou a mais jovem ganhadora do prêmio.
2013: Organização para a Proibição das Armas Químicas, entidade que supervisiona destruição do arsenal químico na Síria em guerra.
2012: União Europeia (UE), por ter contribuído para pacificar um continente devastado por duas guerras mundiais.
2011: Ellen Johnson Sirleaf, Leymah Gbowee (Libéria) e Tawakkol Karman (Iêmen), por sua luta não violenta em favor da segurança das mulheres e seus direitos a participar dos processos de paz.
2010: Liu Xiaobo (China), dissidente detido, "por seus esforços duradouros e não violentos em favor dos Direitos Humanos na China".
2009: Barack Obama (Estados Unidos) "por seus esforços extraordinários com o objetivo de reforçar a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos".
2008: Martti Ahtisaari (Finlândia) por suas numerosas mediações de paz em todo o mundo.
2007: Al Gore (Estados Unidos) e o Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU por seus esforços para aumentar o conhecimento sobre as mudanças climáticas.
2006: Muhammad Yunus (Bangladesh) e seu banco especializado no microcrédito, o Grameen Bank, porque "uma paz duradoura não pode ser obtida sem que uma parte importante da população encontre a maneira de sair da pobreza".
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