Seguindo tendência internacional, partidos políticos trocam siglas por expressões na tentativa de apresentar uma imagem de renovação aos eleitores
postado em 25/01/2018 06:00 / atualizado em 25/01/2018 06:53
Com a proximidade das eleições, os casos de corrupção e a descrença dos eleitores com a política se tornaram uma preocupação entre os partidos tradicionais. De olho no pleito de outubro, a estratégia de algumas legendas para evitar associações com escândalos é mudar de nome na tentativa de se apresentar como alternativas de renovação política. As mudanças movimentaram Brasília nos últimos meses, quando os pré-candidatos e as lideranças se prepararam para a disputa nas urnas. Um dos casos mais emblemáticos se revela pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), que decidiu, em dezembro do ano passado, retirar a palavra “partido” e voltar a ser MDB — nomenclatura utilizada em épocas de oposição à ditadura militar.
O principal nome da sigla no Distrito Federal é o do ex-vice-governador Tadeu Filippelli, que ainda não bateu o martelo sobre uma eventual candidatura. Ele foi indiciado pela Polícia Federal na Operação Panatenaico por suspeita de participar de esquema de corrupção que teria superfaturado as obras do Estádio Nacional Mané Garrincha em R$ 559 milhões. Filippelli foi preso em maio de 2017, durante a primeira fase da investigação. O escândalo desgastou a imagem do político e abriu espaço dentro do MDB para a pré-candidatura do ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no DF (OAB-DF) Ibaneis Rocha.
Outro partido tradicional que estuda novamente uma mudança na marca é o Democratas (DEM). Assim como o MDB, o partido foi criado durante a ditadura militar como Aliança Renovadora Nacional (Arena), mas dava apoio aos militares no Congresso Nacional. Nos anos 1980, tornou-se Partido da Frente Liberal (PFL) e, em 2007, mudou para DEM. O partido de centro-direita encomendou uma pesquisa para saber a opinião dos eleitores sobre a nomenclatura “Mude”. No entanto, a opção não é consenso. “Esse nome foi cogitado com a chegada de pessoas do PSB, porque queríamos fazer uma espécie de fusão e, entre as opções, apareceu esse Mude, mas os deputados não concordaram com isso”, conta o presidente do Diretório Regional do DEM, o deputado federal Alberto Fraga. Outra corrente defende “Centro Democrático”.
Para o parlamentar, uma eventual mudança pode desgastar o partido. “Esse negócio de mudar de nome é coisa de partido que está envolvido com a (Operação) Lava-Jato. O DEM não está envolvido com a Lava-Jato. Eu sempre fui contra mudar de nome. Eu fui contra quando mudaram de PFL para DEM. Inclusive, eu só apoio uma mudança se for para voltar a se chamar PFL”, defende.
Marketing
O cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Caldas vê a troca de siglas para expressões como tendência internacional, mas ressalta que elas podem não representar alterações efetivas. “O Brasil vive um período de grandes mudanças, de transições, e os partidos estão querendo se adaptar a isso. São mais de 30 partidos, e o eleitor perdeu a condição de acompanhá-los”, analisa. Para o especialista, a troca na nomenclatura se trata de uma “jogada de marketing político” e não interfere no posicionamento dos partidos na hora de votações e posturas ideológicas. “Não penso que mude a fisiologia dos partidos. Vejo mais como tentativa de atrair eleitores e candidatos, de se aproximar do eleitorado. Quando a moda pega, a tendência é todos fazerem. O interessante seria uma mudança estrutural”, opina.
Partidos menores também seguiram o movimento. Em 2015, O Partido Social Liberal (PSL) se aproximou do Livres — um grupo de posicionamento liberal que pretendia reformular a sigla. O PSL cogitou adotar permanentemente o nome do grupo e convidou o senador José Reguffe (sem partido-DF) para disputar a Presidência da República, mas, com a recusa do parlamentar, a sigla recorreu ao deputado federal Jair Bolsonaro (RJ), que topou a empreitada. O acordo com o militar fez com que o Livres abandonasse o projeto.
Bipartidarismo
O general Golbery do Couto e Silva, então chefe da Casa Civil do presidente João Figueiredo, foi o responsável por romper com o bipartidarismo implementado a partir de 1965 por meio do Ato Institucional nº 2 — com a medida, o país ficou dividido entre a Aliança Renovadora Nacional (Arena), que dava apoio ao regime militar, e pelo MDB, oposição. Golbery criou uma lei federal restabelecendo o pluripartidarismo em 1979. A Arena se tornou Partido Democrático Social (PDS), e o MDB virou PMDB, dando origem a mais siglas de esquerda, como PT, PTB, PDT e outros.
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