- 08/01/2018
Depois do espetacular vazamento de informações obtido pelo excelente repórter Aguirre Talento, que publicou na revista “Época” as 50 perguntas que estão sendo feitas ao presidente Michel Temer sobre sua participação no esquema de corrupção no Porto de Santos, a Polícia Federal enfim lembrou de encaminhar ao Planalto o questionário. É claro que o chefe do governo não vai responder às perguntas, que já estão sendo examinadas pelo advogado Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, o quase-ministro, que esteve para ser nomeado várias vezes e bateu na trave.
A Polícia demorou uma eternidade para redigir as perguntas, não há justificativa para tamanha demora, até porque as principais indagações não serão respondidas. De qualquer forma, porém, o questionário mostra que o importante inquérito está em andamento.
VAZAMENTO – Por saber que não terá de responder nada, o advogado de Temer nem se referiu a uma suposta inocência de seu cliente. Foi logo denunciando o vazamento das 50 perguntas, divulgadas pela “Época” antes mesmo de serem encaminhadas a Temer.
Chorar ainda não é proibido. A Procuradoria-Geral da República e a Polícia Federal sempre prometem investigar os vazamentos. Mas é tudo conversa fiada. Dezenas de pessoas têm acesso às investigações da força-tarefa da Lava Jato, incluindo os auditores da Receita Federal que atuam nas apurações.
Na era do celular plugado na internet e do pendrive com dezenas de gigabites, a transparência dos atos judiciais nem precisa ser determinada em lei, porque já existe na prática, os vazamentos agora fazem parte da rotina policial.
TEMER NA MIRA – O grande alvo é o presidente Michel Temer, que jamais esperou que a procuradora-geral Raquel Dodge, logo no início da gestão, tomasse a iniciativa de pedir o prosseguimento da investigação envolvendo o chefe do governo. Temer julgava que seria poupado por Raquel Dodge e pelo novo diretor da Polícia Federal, Fernando Segóvia, mas estava enganado. Nenhum dos dois está aliviando o Planalto, muito pelo contrário.
Mas quem vai entrar primeiro na mira da força-tarefa é Rocha Loures, o ex-assessor presidencial que passou a ser conhecido como o homem da mala. Segundo o repórter Aguirre Talento, os federais identificam Rocha Loures como o principal interlocutor do Planalto com o setor portuário, nas tratativas do decreto imoral.
O então assessor de Temer foi grampeado quando discutia a tenebrosa transação com Ricardo Mesquita, diretor da empresa Rodrimar. O interesse da empresa era que o decreto prorrogasse a ocupação das áreas anteriores a 1993, exploradas pela Rodrimar e que estão com o prazo de concessão vencido.
PERGUNTA A TEMER – No interrogatório por escrito, a PF pergunta a Temer: “Tem conhecimento se Rocha Loures recebeu alguma proposta de valores indevidos, para buscar melhores benefícios, inclusive inclusão de solução para os contratos em concessões ‘pré-93’, no novo decreto dos portos?”.
O mais irônico é que a jogada da Rodrimar não deu resultado, porque a Casa Civil achou perigoso demais prorrogar os contratos pré-1993. O subchefe jurídico Gustavo Rocha foi grampeado avisando a Rocha Loures que não seria possível conceder o benefício: “É uma exposição muito grande para o presidente se a gente colocar isso. [As empresas] já conseguiram coisas demais nesse decreto”, disse Rocha, que é um assessor com acesso direto e privilegiado a Temer e está em campanha permanente para ser ministro da Justiça.
DESTRUIR AS PROVAS – Na tentativa de apagar os rastros que levam a Temer, em 6 de novembro o governo decidiu que as três áreas ocupadas pela Rodrimar no Porto de Santos serão colocadas em licitação neste ano. O tiro pode sair pela culatra, porque os dirigentes da empresa não terão alternativa e só lhes restará o caminho da delação premiada.
A situação de Rocha Loures é ainda pior, porque ele está incriminado em outro processo, junto com Temer, no caso da mala da JBS. Ele é considerado réu confesso, porque fez a burrice de devolver a mala à Polícia Federal e ainda completou a quantia. Com isso, comprovou a materialidade do crime. Para ele, só resta a delação, caso contrário vai passar longas férias numa colônia penal, igual ao “Charles, Anjo 45”, o amigo que Jorge Benjor imortalizou numa de suas canções mais conhecidas.
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