terça-feira, 20 de junho de 2017

Frejat: OSs buscam notoriedade e dinheiro




O currículo do médico-legista e cirurgião-geral aposentado Jofran Frejat passeia entre a medicina e a política. Quatro vezes Secretário de Saúde do DF e cinco vezes deputado federal, a primeira como Constituinte, Frejat fez história e votos cuidando de uma das áreas mais problemáticas de qualquer governo. E jacta-se ao destacar que na sua época a saúde era bem avaliada, inclusive por autoridades que vinham conhecer o sistema brasiliense.
Mas apesar de ter construído a carreira politica a partir da atuação como Secretário de Saúde, Frejat condena veementemente que a saúde seja usada como moeda de troca. Esmerando-se para não bater de frente com o atual governador – com quem concorreu na última eleição – Frejat diz em entrevista exclusiva ao Extrapauta que neste governo “com certeza há muitas indicações políticas na área da saúde. E decreta: “colocou política na saúde está liquidado”.
Na semana em que a Câmara Legislativa deverá votar o projeto de criação do Instituto Hospital de Base sob forte resistência dos médicos e de parte dos distritais, Frejat sai em defesa da categoria e diz que passar a gestão dos hospitais para Organizações Sociais não é o caminho para recuperar a saúde do DF. E até cutuca as OSs, dizendo que são uma forma empresarial de gerir a saúde e que “buscam notoriedade e dinheiro”.
Extrapauta – Este projeto que cria o Instituto Hospital de Base é o caminho para recuperar a saúde do DF?
Frejat – Não acredito. Até porque o embasamento que fizeram foi alguma coisa semelhante ao Sarah Kubitschek. Mas são duas coisas absolutamente diferentes. O Hospital de Base é um hospital público e geral. Atende a todos indiscriminadamente. Já o Sarah, não. Ele faz um atendimento específico. Ele atende bem , mas atende pacientes encaminhados para lá. Na verdade é uma forma de entregar para um setor, uma organização social, que na verdade é um desvirtuamento do Sistema Único de Saúde.
Extrapauta –Então o caminho via Organizações Sociais não é o melhor para recuperar a saúde?
Frejat – Não. Existem algumas OSs que funcionam bem. Mas são muito poucas. Você já viu alguma organização social envolvida com vacinação, atenção primária? Elas não fazem isso. Não interessa a elas. O interesse é não só a promoção do que fazem, como transplante, tratamento de câncer e outras coisas semelhantes e dão notoriedade e dinheiro.
Extrapauta – Então as OSs, na sua opinião, na prática são uma forma empresarial de tocar a saúde?
Frejat – Sim , é uma forma empresarial, com certeza. A bem da verdade você pode alegar que com OSs você pode fazer concorrência mais rápida, consegue contratar gente pela CLT, etc. Mas isso não é problema. A alteração da legislação trabalhista está aí próxima. Você pode fazer perfeitamente como foi no passado, com a Fundação Hospitalar. Não há dificuldade para isso. O que há é uma centralização na Secretaria de Fazenda dos recursos que são encaminhados para cada setor. Então, você faz uma concorrência, ganha uma empresa “X” , aí você pede uma cota orçamentária, a Fazenda não manda e aí fica aquele jogo de empurra.
Extrapauta –O senhor diria que o principal problema da saúde é a burocracia?
Frejat – É um dos problemas, mas não é o único. Não te dão agilidade para as coisas. Apesar de que eles podem alegar, como estão alegando, que o setor privado pode fazer isso mais rápido.
Extrapauta –Como vê a proposta do GDF para o Hospital de Base?
Frejat – Eu não entendo como que se alega que não tem dinheiro e se pretende contratar 3500 servidores para substituir os atuais. Está lá no projeto que quem não quiser aderir a este sistema de ser administrado por uma entidade poderá escolher ir para outro hospital. Para ir para outro hospital o GDF vai ter que colocar novos profissionais no Hospital de Base. E se o GDF alega que não tem dinheiro, como vai contratar esta gente?
Extrapauta – O senhor falar que a burocracia é um dos graves problemas da saúde. E o corporativismo, também é um problema?
Frejat – Este assunto se resolve com liderança. Você mostrando liderança, até com seu exemplo, de que você é capaz , você resolve. Eu fico preocupado quando se coloca a culpa nos servidores. Como é que esses mesmos servidores foram competentes naquela época em que a saúde de Brasília funcionava, quando eu fui secretário e a saúde de Brasília era referência nacional e foi a base para a criação do Sistema Único de Saúde na Constituinte?
Extrapauta –Este embate que o governador vem travando nos últimos dias com o Sindicato dos Médicos pode desmotivar ainda mais a categoria?
Frejat – Cabeça quente não resolve coisa nenhuma. É complicado. Este tipo de embate não leva a coisíssima nenhuma. Quem agride, acaba agredido.
Extrapauta –Qual o tratamento de choque que o senhor faria na saúde do DF?
Frejat – Tem várias coisas que precisam ser feitas. Tem que voltar a conversar com os servidores. Mas tem que ter experiência, conhecer o sistema. Se você não conhece o sistema, não conhece a casa, não adianta, pois não sabe nem como exigir certas atitudes.
Extrapauta – Mas, e assuntos práticos?
Frejat – Por exemplo, a alegação de que acabar com o funcionamento dos centros de saúde nos moldes atuais. Ou seja, vão colocar o saúde da família dentro dos centros de saúde e acabar com os diversos profissionais que estão lá em várias áreas. Mas não há nenhuma incompatibilidade entre o saúde da família , que funciona nos postos urbanos, nos postos rurais, e pode funcionar em vários urbanos com o centro de saúde.
Extrapauta – Este sistema de postos de saúde ainda existe ou foi desvirtuado ao longo do tempo?
Frejat – Não existe mais. Estão até tirando os profissionais dos centros de saúde para trabalhar em pronto socorro, UPA, etc.
Extrapauta –A crise na saúde é nacional, ou tem algum Estado que esteja alcançando um bom desempenho nessa área?
Frejat – Tá difícil, porque houve, nacionalmente, uma redução nos recursos para a saúde.
Extrapauta – A crise na saúde é só falta de recursos ou falta também gestão?
Frejat – Claro que também falta gestão. Se você não tiver gente que tem experiência na área, que é capaz de cobrar o que está acontecendo, não resolve. Mas como é que você vai cobrar o que você não conhece?
Extrapauta –Mas se conhecer o sistema é o suficiente, porque então tivemos um governador médico, caso do Agnelo, e a saúde não apresentou avanços?
Frejat – Mas ele não era Secretário. Não é o fato de você ser médico que você conhece o sistema. Tem gente que não é profissional da área e dá certo. Não precisa ser médico, mas tem que conhecer o sistema.
Extrapauta – Então está havendo dificuldade em achar essa pessoa que conheça o sistema e tenha capacidade gerencial, já que nos últimos anos o cargo de Secretário de Saúde do DF é de alta rotatividade?
Frejat – Depende, não pode é haver interferência política na Secretaria de Saúde. Na minha época eu não admitia nomeação política para os centros de saúde.
Extrapauta – Hoje a saúde está sendo usada como moeda de troca política?
Frejat – Com certeza existem muitas indicações políticas. Mas não quero fazer nenhuma crítica ao atual governo. Evito isso porque fui o adversário dele na última campanha. Mas eu acho que colocou política na saúde, está liquidado.
Extrapauta – Esta semana a saúde está na pauta política, com a votação da criação do Instituto Hospital de Base.
Frejat – Pois é. No Governo Arruda, por exemplo, o Arruda resolveu entrar para uma Organização Social o Hospital de Santa Maria. Naquela época ele me chamou para ser Secretário, mas eu disse que apesar de gostar muito dele, ser amigo dele, não poderia ir porque eu sabia que a terceirização do Hospital de Santa Maria ia dar problema, como deu. Estou cansado de enxergar antes.
Extrapauta – O senhor acha que a criação do Instituto Hospital de Base vai passar?
Frejat – Não estou acompanhando, mas alguns me pediram opinião e eu deu, como estou falando aqui nesta entrevista. Não sou dono da verdade, mas acho que é um risco.
Extrapauta – Entre os que pediram opinião para o senhor, está o governador Rollemberg?
Frejat – Não. Eu nunca falei com o governador depois que ele se elegeu. Só o cumprimentei no dia do resultado da eleição e nunca mais nos falamos.
Extrapauta – E se ele pedisse para o senhor dar uma opinião?
Frejat – (risos) – Esta pergunta eu não vou responder de jeito nenhum.
Extrapauta – Por que?
Frejat – Bem, se ele me pedir minha opinião, eu dou.

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