Ao contrário de França, Bélgica e EUA, Alemanha não tinha sofrido ataque de envergadura nos últimos meses
Berlim
Fazia tempo que estava no ar. A Alemanha — ao contrário de França, Bélgica, Estados Unidose muitos outros países — não tinha sofrido um ataque terrorista de envergadura nos últimos meses. E na mesma semana, duas cidades do Estado da Baviera, coincidência ou não, sofreram atentados que despertaram os piores receios da população. As autoridades não descartam nenhuma hipótese, nem a do islamismo nem a da extrema direita.
Nesta sexta-feira, ataques a tiros feitos por um homem não identificado — a princípio se imaginou que fossem três os atiradores — levaram à morte de dez pessoas (o atirador teria se matado) e feriram ao menos 21. Os responsáveis governamentais, policiais e dos serviços secretos se moviam na esquizofrenia de não querer alarmar a população e reconhecer ao mesmo tempo que o perigo estava presente, e que a questão não era tanto se a Alemanha sofreria um ataque terrorista, mas quando e como. E nesta semana explodiu.
Primeiro na segunda-feira, quando um refugiado que parecia um modelo de integração –fazia estágio numa padaria e acabara de desembarcar numa família de acolhida– agrediu a machadadas uma família chinesa num trem e uma mulher na rua. Dois deles estão entre a vida e a morte. A tragédia também teve repercussões políticas: o jovem tinha chegado na onda migratória que a chanceler Angela Merkel não conseguiu, ou não quis, recusar. E agora unique. Na confusão da sexta-feira era muito cedo para procurar certezas ou autorias. A polícia da cidade disse na sexta-feira não ter, no momento, nenhum indício islamista.
“Não descartamos nenhuma hipótese por enquanto, nem a do islamismo. Mas não há nada claro e peço respeito à confidencialidade das investigações para não prejudicar suas possibilidades de sucesso”, disse pouco antes das 23h (hora alemana) Peter Altmeier, ministro das Relações Exteriores e um dos colaboradores mais próximos de Merkel.
‘PORTAS ABERTAS’ NAS REDES
L. D., BERLÍN
As redes sociais irrompem com força nos acontecimentos trágicos e o tiroteio de Munique não foi exceção. Para se comunicar com os cidadãos e informá-los ao vivo, a polícia federal usou sua conta no Twitter. Por meio dela pediu que a população permanecesse em suas casas, não postasse nenhuma imagem dos acontecimentos e não usasse as estradas que conduzem à capital bávara. Uma das tendências no Twitter nessa noite foi a hashtag#offenetuer, portas abertas, que encabeçava os tuítes daqueles que, em Munique, ofereceram ajuda para quem não tinha onde se abrigar. Entre os que a usaram estavam as mesquitas da cidade.
A polícia investiga a autenticidade de um vídeo no qual aquele que parece ser o autor grita “sou alemão”. Os especialistas antiterroristas indagavam se isso pode ser a prova de que o atentado foi obra de ultradireitistas. Num país onde os ataques a centros de refugiados dispararam no último ano e no qual o próprio ministro do Interior, Thomas de Maizière, alertou para a possibilidade do surgimento de um novo terrorismo de ultradireita, a hipótese não parece descartável. Na cidade de Munique acontece há anos o julgamento de um membro do NSU, um grupo neonazista que durante anos atacou estrangeiros. Mas o modus operandi lembra mais o dos jihadistas do Estado islâmico.
Simbolismo político
Os dois ataques da semana aconteceram na Baviera. Pode ser apenas coincidência, porque o que os últimos meses mostraram é que os atos de terrorismo podem acontecer em qualquer lugar e a qualquer momento. Mas os ataques nesse lugar também têm um forte simbolismo político. Porque o rico e conservador Estado Livre da Baviera serviu como porta de entrada para a grande maioria do milhão de refugiados que chegaram à Alemanha no ano passado. E também porque o chefe de Governo da Baviera, Horst Seehofer, é o maior crítico da política de imigração de Merkel. E apesar de ambos dirigirem paridos teoricamente irmãos, ele também se tornou o maior inimigo da chanceler, que não hesitou em humilhar quando teve ocasião.
É muito cedo para buscar consequências políticas do que aconteceu em Munique, mas se for confirmada a motivação islâmica, a pressão política na Alemanha crescerá consideravelmente. Nas eleições do próximo ano, a ultradireita não terá o sucesso que se prevê para a Frente Nacional francesa. Mas os populistas anti-imigração da Alternativa para a Alemanha têm todas as chances de se tornar, de acordo com as pesquisas dos últimos meses, o terceiro ou o quarto partido do país.
A mobilização da polícia foi colossal. A força antiterrorista foi acionada. A ideia de que no meio de Munique perambulassem três pessoas dispostas a matar quem encontrassem pela frente era arrepiante.
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