sábado, 18 de junho de 2016

Atletismo da Rússia fora dos Jogos do Rio

Só o COI, que se reúne na próxima terça, poderá reverter a punição imposta pela federação por doping

CARLOS ARRIBAS

A estrela russa do salto com vara, Yelena Isinbayeva.

A estrela russa do salto com vara, Yelena Isinbayeva.  AFP

Em Viena, cidade dos tratados e dos acordos da Guerra Fria, cruzamento de caminhos na fronteira da velha cortina de ferro, a Federação Internacional de Atletismo (IAAF) decidiu, por maioria, manter o veto à Rússia, que não poderá, com isso, enviar seus atletas para competir, seja no Campeonato de Europa, em Amsterdã em julho, seja, sobretudo, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em agosto. É a primeira vez na história das olimpíadas que uma das grandes federações proíbe uma de suas principais potências de participar do maior evento esportivo do mundo por motivo de doping.
Somente uma inédita reunião da cúpula, convocada emergencialmente para a próxima terça-feira em Lausanne por Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), poderá permitir que algumas das maiores estrelas do atletismo mundial –o corredor de obstáculos Serguéi Shubenkov, as saltadoras Anna Chicherova e Mariya Kuchina e a saltadora com vara Yelena Isinbayeva—continuem ou comecem a escrever a sua legenda olímpica.
O motivo declarado da convocação dos vice-presidentes do COI e de vários presidentes de federações, qual seja, o de discutir o difícil dilema entre responsabilidade individual e responsabilidade coletiva, indica o caminho para uma solução que poderia destravar a questão, o que passaria por permitir a participação de um grupo de atletas russos considerados limpos, mas a título individual, não como seleção de seu país.
Segundo a entidade dirigida por Sebastian Coe, a Rússia não cumpriu com as 44 condições para sua readmissão impostas em novembro passado, poucos dias depois da decisão do dia 13 de excluir o país de todas as competições internacionais como forma de punição pelas inúmeras e graves infrações contra o regulamento detalhadas em um relatório da Agência Mundial Antidoping (AMA).



Para a decisão de Coe, presidente que tem sido questionado por suas ligações com os casos de corrupção que atingem seu antecessor Lamine Diack, e de seu conselho, pesou mais o resumo desolador apresentado à AMA na quarta-feira pela agência antidoping britânica (UKAD) sobre suas atividades na Rússia do que a relação de avanços apresentada pelas autoridades russas.
Segundo a UKAD, que assumiu em fevereiro as tarefas de controle e análise antidoping que eram até então realizados pela agência russa suspensa, as condições para efetuar seu trabalho foram inviáveis nos últimos meses. Dos 1.191 controles fora de competição que os ingleses tentaram realizar entre fevereiro e maio, somente 455 puderam ser completados; mais de 100 dentre os que eles não conseguiram fazer se deveram a que os atletas visados não se encontravam onde haviam combinado de estar. Mais de 10% dos 455 controles (52) deram resultado positivo, a maioria por uso de meldonium.
Os ingleses reportaram várias outras irregularidades. Muitos atletas registravam como local de residência endereços de bases militares onde se proibia a entrada dos inspetores antidoping, o que não constitui uma novidade, já que muitos dos centros de alto rendimento russos, como o de Kislovodsk, no Cáucaso, estão localizados em cidades consideradas militares, com acesso controlado pelo Exército.
As autoridades desportivas russas, que, como parte do compromisso assumido pelo país com a IAAF e a AMA, passaram a ocupar desde novembro os postos de direção, haviam elaborado na véspera um relatório bem mais alvissareiro dos avanços realizados, mencionando mais de 100 atletas sancionados, além de vários técnicos, inclusive o mais implicado deles, o diretor do centro de marcha atlética de Saransk, Victor Chegin.
A saída que o COI provavelmente adotará na próxima terça-feira seria menos traumática do que a exclusão total de um país do qual se exigiu que acabasse em seis meses com a prática de adoção do doping pelo Estado iniciada há 50 anos, uma exigência tão difícil de ser cumprida como, segundo vários especialistas internacionais, as que a troika, Fundo Monetário Internacional incluso, exigiu da Grécia em sua economia.

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