AFP / Christophe Simon
Vista aérea de local do rompimento de barragem, em Bento Rodrigues, Minas Gerais, no dia 6 de novembro de 2015
Bento Rodrigues, distrito de Mariana (Minas Gerais), virou uma cidade fantasma em questão de minutos. Uma avalanche de rejeitos de minério de ferro e água deixou casas no esqueleto e impôs o silêncio desolador provocado pela morte e a evacuação de seus moradores.
Primeiro se rompeu uma barragem com 55 milhões de metros cúbicos de minério de ferro, depois outra com 7 milhões de metros cúbicos de água. E, como quem vira uma jarra, a mistura de cor ocre soterrou o que no passado foi esta cidadezinha de 620 famílias, como tantas outras do interior de Minas Gerais.
O cenário é desolador: casas sem teto jorrando barro, um carro equilibrando-se em cima de um muro como se fosse de brinquedo e nem sinal de um traçado que indique onde havia uma rua.
Quantos mortos? Quantos desaparecidos? Qual é o dano ambiental? As autoridades afirmam que é muito cedo para dar números, mas todos os dias sobrevoam a área e dezenas de socorristas procuram por algum sinal de vida em meio aos escombros cheios de lama, até mesmo debaixo de chuva.
Até agora há 17 mortos, afirma Adão Severino Junior, o comandante do corpo de bombeiros de Mariana, cidade mais próxima a 23 km de Bento Rodrigues. Embora o prefeito, Duarte Junior, reporte apenas um morto e 14 desaparecidos, todos trabalhadores da mina que mantinha as barragens.
Mas um censo entre as famílias já revela que estão incompletas e teme-se que alguma criança da escola devastada pela enxurrada possa aumentar a lista.
E a sirene?
Um discreto tremor poderia ter sido o sinal necessário para evacuar a cidade a tempo. Mas após checar a barragem, não foi detectada nenhuma anomalia, assegurou a mineradora responsável, Samarco.
No entanto, uma hora depois, a mesma se rompeu.
"Foi desesperador, ouvimos um barulho imenso, um pessoal gritando para que todo mundo saísse, tentamos pegar algumas coisas e correr para o local mais alto", disse à AFPTV Edirleia Marques de Santos, de 38 anos, quando saía de Bento Rodrigues para voltar quem sabe quando.
O plano de emergência da Samarco não incluía uma sirene para ordenar a evacuação da cidadezinha em caso de um acidente do tipo. A empresa optou por telefonar à Defesa Civil, para algumas famílias e líderes comunitários.
Edirleia não recebeu o telefonema.
"Foi instantâneo, ninguém avisou nada. Ouvimos o barulho, a água vinha, não dava tempo de nada", assegurou.
Um vídeo que circula nas redes sociais mostra um caminhão fazendo o trabalho da sirene, buzinando sem parar para que as pessoas saíssem enquanto uma nuvem de poeira começa a tomar conta de tudo.
A primeira reação das pessoas foi buscar refúgio fora do vale onde fica Bento Rodrigues.
O comandante-geral dos bombeiros de Minas Gerais, Luiz Gualberto Moreira, informou que vários sororristas pernoitaram na noite de quinta-feira com grupos de 30 pessoas.
Até agora, 500 pessoas foram resgatadas.
Um novo lar?
Valeria de Souza, de 20 anos, estava debaixo de um ônibus escolar com uma criança nos braços. Os olhos, inchados pelo choro, viam com incredulidade que sua casa passaria a ser um colchão no ginásio de Mariana.
"É um milagre estarmos com vida", disse à AFP com a voz embargada, antes de entrar a passos lentos na nova casa. Outros sete parentes, inclusive outra criança e uma idosa, a acompanham.
Centenas de voluntários atendem neste centro, enquanto em um edifício próximo outros recebem roupas e comida doados.
A mineradora Samarco - de propriedade da brasileira Vale da australiana BHP Billiton - informou nesta sexta-feira que estuda colocar muitas destas famílias em hotéis, enquanto se decide se é possível ou não reconstruir as casas.
"Muitos disseram que não querem voltar", antecipou o prefeito de Mariana.
No lamaçal que virou Bento Rodrigues e que se estendeu a outros cinco povoados a dezenas de quilômetros dali, socorristas com uniformes alaranjados trabalham sem parar.
Houve um momento de alegria quando conseguiram salvar um potro, preso na lama.
"Foi difícil, perigoso porque não há estabilidade, é arriscado (...), mas agradecemos a Deus porque é outra vida que estamos salvando", comemorou o subtenente Selmo de Andrade, do Corpo de Bombeiros.
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