sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A voz do negro: personalidades pautam as notícias do site neste 20 de novembro

A escritora e atriz Cristiane Sobral, o professor universitário Nelson Inocêncio, a sambista Dhi Ribeiro e o rapper GOG foram convidados a propor as reportagens da nossa página principal
Fotos: Michael Melo e Daniel Ferreira/Metrópoles
Ninguém pode avaliar o alcance da dor de ser atacado por ter nascido com a pele negra. Estamos no ano 15 do século 21 e alguns brasileiros se apoiam, na falácia da eugenia, para manter a barbárie do racismo ao se referir cotidianamente aos compatriotas negros com atos e palavras que preferimos não reproduzir neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, quando se reverencia a memória do líder quilombola Zumbi dos Palmares. Comprometido com a agenda da política pública de promoção da igualdade racial, o Metrópoles amanheceu, como boa parte dos veículos jornalísticos, com um leque significativo de notícias sobre o tema. Para não cairmos no risco do automatismo que as datas comemorativas nos impõem, convocamos quatro personalidades negras do Distrito Federal para formar um Comitê de Pauta.
Assim, o rapper GOG, a escritora e atriz Cristiane Sobral, o professor universitário Nelson Inocêncio e a sambista Dhi Ribeiro foram desafiados a pensar sobre quais notícias que, como cidadãos negros, gostariam de ler na página principal do Metrópoles. Nos últimos dez dias, nossa redação mestiça, mas majoritariamente branca, como reflexo da nossa sociedade, ficou diante de personagens e notícias invisíveis à percepção cotidiana. De casos de empreendedorismo ao encontro de personagens transformados por experiências sócios culturais, aprendemos, no ofício diário do jornalismo, a conhecer melhor a realidade urgente que o Brasil enfrenta nessa transição para o equilíbrio entre desenvolvimento econômico e justiça social.
Índices assustadores
Apesar de avanços, como o sistema de cotas em universidades e acesso a concursos públicos, os indicadores sociais que envolvem a população negra no Brasil são assustadores, sobretudo, os relacionados ao mapa de violência, ao desemprego, à marginalidade, ao acesso ao ensino superior e às profissões mais bem remuneradas. Matam-se mais negros no Brasil. O índice ultrapassa os 70% dos homicídios. A mulher e o jovem têm o dobro de chance de serem assassinados em relação aos brancos. Na outra ponta, a população carcerária é de maioria negra. Os analfabetos e a grande parte do que estão abaixo da linha da miséria também.
Até a metade do século passado, nossos ícones negros estavam no esporte e na arte, sobretudo, porque talento não se forma em sala de aula. Agora, uma parcela chega a ocupações de maior visibilidade. Um dos homens mais admirados do país é o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa. Os desafios são imensos, mas caminhamos para sermos uma nação cada vez mais orgulhosa de sua gênese cultural. O compromisso é para a desconstrução do imaginário nacional que ainda relaciona o negro a atividades subjugadas. Pouco antes de ser assassinado em 1965, o líder norte-americano Malcom X pronunciou uma frase que ultrapassaria a efemeridade dos tempos.
Não lutamos por integração ou por separação. Lutamos para sermos reconhecidos como seres humanos"
Malcom X
Esse pensamento é a síntese da luta do negro brasileiro neste 20 de novembro de 2015. #RacistasNãoPassarão.
O Comitê de Pauta:
Cristiane Sobral
Michael Melo/MetrópolesPoeta, dona de versos fortes, a carioca Cristiane Sobral é uma das literatas mais importantes do DF. Mas seu trabalho com as artes vai além. Professora e escritora, Cristiane foi a primeira atriz negra a se formar na Universidade de Brasília. Foi ela, também, quem articulou o grupo Cabeça Feita, tornando-se assim um marco na história do teatro no DF, à frente da primeira companhia de atores negros da capital. Em sua poesia, Cristiane costuma escrever sobre as condições de ser mulher e negra como um grito de liberdade.
Dhi Ribeiro
Brasília (DF), 19/11/2015 - Dhi Ribeiro- Foto, Michael Melo/MetrópolesNascida no Rio de Janeiro, Dhi Ribeiro foi criada em Salvador e, há anos, está radicada em Brasília. Na capital federal, ela se consagrou como um dos principais nomes do samba da cidade e ganhou projeção nacional com a música “Para Uso Exclusivo da Casa”, do CD “Manual da Mulher”. No início de 2016, Dhi lança o segundo disco da carreira, “Leme da Libertação”, com composições inspiradas na diáspora negra.
GOG
Daniel Ferreira/MetrópolesConhecido pela alcunha de GOG, Genival Oliveira Gonçalves fez dos seus versos sua principal arma. Nascido em Sobradinho e criado no Guará, o rapper e escritor tornou-se uma das principais refêrencias do hip hop no país, com mais de 150 composições gravadas. Assim como o grupo Câmbio Negro e o rapper Japão, GOG se transformou numa voz representativa no DF ao dar luz e voz para a comunidade negra e periférica. É dele a Só Balanço, a primeira gravadora de rap do Brasil, fundada em 1993.
Nelson Inocêncio
Daniel Ferreira/MetrópolesAlém dos anos dedicados às artes plásticas, Nelson Inocêncio também tem extensa carreira acadêmica. Bacharel em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB), ele tem mestrado em Comunicação e doutorado em Artes pela mesma instituição. Por 13 anos, ele foi Coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros pertencente ao Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares da UnB. Em 2011, lançou o livro “Consciência Negra Em Cartaz”.
Colaborou Maíra de Deus Brito.

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