A inflação tem subido sem dó no Brasil inteiro. Mas, em Brasília, a população tem pagado mais do que em qualquer outro lugar pelos produtos e serviços que consome. De acordo com o o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo medido entre 16 de setembro e 15 de outubro (IPCA-15) aumentou 0,66% no país. Em Brasília, foi o dobro: 1,28%. O mesmo ocorreu com o Índice de Preços ao Consumidor—Semanal (IPC-S), da Fundação Getulio Vargas. Pelo indicador, a carestia nacional registrou alta de 0,67% na terceira quadrissemana de outubro, mas na capital federal o salto foi quase três vezes maior: 1,79%.
Pelos dados do IPC-S, o que mais tem contribuído para o aumento da carestia no Distrito Federal é o arrocho nos preços da tarifas públicas: a passagem de ônibus urbanos subiu 18,33%, e a conta de luz teve alta de 7,61%. No ano, os bilhetes de ônibus já aumentaram entre 20% e 50% dentro do pacote de reajustes promovido pelo governo local. As passagens do metrô ficaram 33% mais caras. Cigarros e bebidas subiram por causa da elevação do ICMS de 25% para 29%. E a alta nos combustíveis aplicada pela Petrobras nas refinarias foi repassada integralmente aos consumidores pelos donos dos postos de gasolina da cidade.
Outra bomba está prometida para janeiro no quesito impostos. O governo distrital já anunciou que IPTU, IPVA e ICMS de combustíveis vão subir. Em Brasília, também se paga mais do que em qualquer outro lugar por serviços de internet e de tevê por assinatura, e um aumento de até 15% só de ICMS está previsto nos pacotes dos clientes. Só com a elevação dos impostos desses serviços, o GDF espera uma receita extra de R$ 52 milhões para cobrir rombos no orçamento. A conta dos desajustes, como sempre, é paga pelo consumidor. Transportes Para Nilton Marques, ex-coordenador do Núcleo de Análise de Preços da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), a inflação na capital subiu acima da média principalmente pela alta generalizada das tarifas. Ele explica, no entanto, que também pesa muito o fato de a capital ser um hub (entroncamento) aéreo. “Dentro do grupo transportes, os preços das passagens aéreas têm impacto enorme na economia da cidade porque a maioria dos produtos vem de outros estados, por avião ou por rodovia. Nessa conta, entra ainda a gasolina, que já acumula alta de, pelo menos, 15% este ano”, explica. “Não temos indústrias. Desde carros até alimentos, tudo vem de fora”, destacou.
Marques ainda salientou que o aumento de preços dos serviços públicos e dos produtos em geral também chega à moradia. “Os aluguéis em Brasília estão entre os mais altos do país.” Segundo o Sindicato dos Condomínios (Sindicondomínio-DF), os boletos dos moradores tiveram elevação média de 12% em 2015. A alta foi puxada principalmente pela contas de energia elétrica e de água.
A fisioterapeuta Tamara Paiva, 28, está assustada com os preços praticados na cidade. Ela veio há três anos de São Gonçalo do Sapucaí, no sul de Minas, e, até hoje, não se acostumou. “Minha mãe, quando me visita, fica inconformada. Ela diz que os comerciantes daqui pensam que todo mundo é político”, contou. Tamara reclama que, neste ano, os preços dispararam. “Tudo subiu: alimentação, combustível, produtos de limpeza, luz, água, internet, telefone. Já reduzi quantidades, troquei de marca, mas está difícil diminuir os custos. Minha vida social também não existe mais. Restaurantes, só uma vez por mês”, afirmou.
Tamara diz que veio morar em Brasília porque arrumou emprego com salário quatro vezes maior do que ganhava em São Paulo. “Na minha cidade, em Minas, no Sudeste todo, a minha profissão está saturada. Aqui é um bom campo”, constatou. A questão dos salários é destacada por Marques como um dos fatores determinantes da inflação mais alta na cidade. “As pessoas pagam. O DF tem a maior renda per capita do país. O setor público ganha muito bem e puxa o setor privado”, avaliou.
No entanto, a vida não está fácil mesmopara quem trabalha ou é aposentado do serviço público. Paulo Furtado, 72 anos e a mulher, Antonia Furtado, disseram que já não têm ideia de quanto gastavam no mês passado. “Perdemos as contas. Sempre procuramos o mais barato. Se não fosse a aposentadoria integral, não teríamos como viver”, asseguraram, enquanto faziam compras num supermercado do Cruzeiro.
Já o servidor Alexandre Magno avalia que a inflação vem dos desmandos políticos e da alta do dólar. “A carne subiu 100% desde o ano passado. A crise chegou para todo mundo. Os políticos tratam o dinheiro dos nossos impostos como se fosse deles. As contas públicas não são transparentes, não tem fiscalização”, indignou-se.
Um avião da companhia áerea russa KogalimAvia com 224 pessoas a bordo caiu na madrugada deste sábado (31) na península do Sinai após decolar de uma cidade no litoral do Egito. Cerca de 100 corpos foram encontrados no local do acidente, incluindo cinco crianças, segundo a agência de notícias Reuters e a BBC.
O Airbus A-321 transportava 217 passageiros, entre eles 18 crianças, e 7 tripulantes. Segundo a BBC, autoridades egípcias disseram que todos eram russos. "Agora vejo uma cena trágica. Muitos mortos no chão e outros tantos ainda presos em suas poltronas", relatou uma autoridade egípcia à Reuters. Segundo ele, o avião se dividiu em duas partes.
Uma fonte de segurança disse às agências de notícias internacionais que a caixa preta do avião foi encontrada. Ele afirmou ainda que um exame preliminar indica que não houve nenhuma operação terrorista e que a queda pode ter sido causada por um erro técnico.
Parentes chegam ao aeroporto de São Petesburgo, na Rússia, em busca de informações sobre a queda do avião (Foto: AP Photo/Dmitry Lovetsk)
O primeiro-ministro egípcio, Ismail Sharif, confirmou o acidente por meio de comunicado. O avião perdeu contato com os radares 23 minutos após a decolagem, quando sobrevoava a cidade de Larnaka, informou um porta-voz de Rosaviatsia, a agência de aviação civil da Rússia.
O avião caiu em uma área montanhosa no centro de Sinai e más condições atmosféricas dificultaram o acesso das equipes de resgate ao local, de acordo com a autoridade da segurança egípcia que havia acabado de chegar ao local contou à Reuters. Cerca de 50 ambulâncias foram enviadas para o local. Os corpos dos passageiros serão levados de avião para o Cairo, segundo a fonte.
O Airbus A-321 tinha como destino o aeroporto Pulkovo da cidade russa de São Petersburgo. O voo 9268 transportava muitos turistas do resort egípcio de Sharm el-Sheikh.
Parentes dos passageiros estão se reunindo no balcão de informações da companhia aérea russa Kogalymavia no aeroporto de Pulkovo, em São Petersburgo, com a esperança de encontrar mais informações sobre o voo.
O porta-voz da Rosaviatsia acrescentou que a aeronave não contatou o controle de tráfego aéreo do Chipre como estava agendado 23 minutos depois da decolagem e desapareceu do radar. As autoridades da aviação civil perderam contato com a aeronave quando o ela estava a 30.000 pés de altitude (9.144 m), segundo um funcionário da autoridade de controle do espaço aéreo do Egito.
Parentes pedem informações sobre a queda do avião, no aeroporto de São Petersburgo (Foto: AP Photo/Dmitry Lovetsk)
Equipes de resgate russas no Egito O presidente russo, Vladimir Putin, expressou suas "profundas condolências" às famílias das vítimas e ordenou o envio de equipes de emergência russas para o local da queda, segundo a France Presse. Putin decretou luto nacional no domingo (1º).
O chefe de Estado "deu a ordem ao ministro das Situações de Emergência (...) Vladimir Putchov de enviar imediatamente, em acordo com as autoridades egípcias, aviões do ministério para trabalhar no local do acidente", indicou o Kremlin em um comunicado.
Segundo agência de notícias russa, o ministro da Defesa da Rússia convocou uma reunião de ermergência para discutir a queda do avião. No total, cinco aviões com especialistas em várias áreas estão a caminho do Egito.
O Comitê de Investigação da Rússia lançou um processo criminal contra a companhia aérea Kogalymavia. A agência de notícias RIA informou que o caso será investigado pelo artigo de regulação "violação das regras de voos e preparações".
Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, informou na sua página no Facebook que a Embaixada russa no Egito deve acompanhar a situação do avião da companhia aérea russa.
Em seu perfil no Twitter, a Airbus, fabricante do A-321, informou que já tem conhecimento da situação e que está avaliando a situação. Segundo a empresa, mais informações serão fornecidas assim que estiverem disponíveis.
Último acidente aéreo no Egito O último acidente aéreo no Egito foi em janeiro de 2004 e fez 148 mortos, incluindo 134 turistas franceses. Um Boeing 737 da empresa egípcia Flash Airlines caiu no Mar Vermelho, poucos minutos depois de decolar do aeroporto de Sharm el-Sheikh.
Desde o início em 2011 da revolta que derrubou Hosni Mubarak do poder, o turismo está fraco e as autoridades tentam relançar de todas as maneiras esse setor vital da economia egípcia.
Apesar da instabilidade política do país e os atentados jihadistas contra as forças de segurança no norte do Sinai, os resorts do Mar Vermelho, no sul da península, continuam sendo um dos principais destinos turísticos do país e muito frequentados por turistas russos e do leste europeu, que chegam diariamente a bordo de vários voos fretados.
Foto feita no dia 20 de outubro mostra um Airbus A321 da companhia Kogalymavia, no aeroporto de Moscou (Foto: AP)
Uma cena inusitada chamou a atenção dos convidados de um casamento realizado em Teresina. A tradicional entrada das alianças com uma dama de honra foi feita por um cão da raça pitbull. A cadela, chamada de Overdose, é o xodó do casal Marcus Vinicius, 26 anos e Amanda Nery, 24 anos, que selaram a união em cerimônia realizada em um sítio.
O pequeno Edson Neto, sobrinho do noivo entrou com a pitbull (Foto: Tibério Helio)
Juntos há sete anos, o jovem casal adotou a cadela ainda no primeiro mês de namoro, razão de escolher Overdose para entrar com as aliaças. Antes do casamento, ela teve um "dia de princesa" para gastar toda energia e entrar bem calma como dama de honra.
“Ela (cadela) é bem dócil e nossa intenção era desmistificar a ideia de que cachorros da raça pitbull são violentos e não podem participar de um momento como este”, falou Amanda.
Segundo o casal, a família da noiva foi a que ficou mais resistente à ideia, pois pensavam que a cadela iria assustar os convidados.
“Nosso estilo é bem alternativo, então sempre tivemos a certeza de que nosso casamento fugiria do tradicional. O tio da minha esposa, o senhor Osmir Pierot, nos ajudou demais a tirar esse medo da família e abraçarem a ideia”, lembra Marcus Vinicius.
Overdose entrou na cerimônia ao som da musica Lucky, do Jason Mraz, junto com o sobrinho do noivo, o pequeno Edson Neto, que também é apaixonado pelos bichos. As alianças estavam em uma espécie de pacotinho preso à coleira. “A juíza que celebrou nossa união achou a ideia muito romântica e todos os convidados ficaram muito emocionados quando ela entrou”, recorda Amanda Nery.
Ptibull teve um 'dia de princesa' para entrar bem calma na cerimônia (Foto: Tibério Helio)
Paixão por cães Além do amor que um tem pelo outro, eles não escondem a paixão que têm por cães. Overdose convive com mais quatro cachorros das raças American Bullies e Dogue Alemão.
“Começamos a ajudar uma instituição que resgata animais abandonados e o nosso número de cachorros foi aumentando. Eu sempre gostei de animais, mas nunca pensei em ter mais de um. Quando me dei conta já tínhamos os cinco cachorro”, contou Amanda Nery.
Para Marcus Vinicius, a participação dos cinco cachorros era fundamental no casamento. Meses antes da cerimônia, o casal fez questão de levar os animais para o ensaio fotográfico pré-casamento.
“Eu sempre tive cães em casa desde criança, então eles sempre fizeram parte da minha família. Nunca passou pela minha cabeça excluir meus cães do meu casamento, pois se aquela é uma celebração de família, então não faria sentido algum eu não levar pelo menos um deles, e ainda por cima fazendo o papel de dama de honra”, falou Vinicíus.
O casal pretende criar os futuros filhos convivendo em perfeita harmonia com os cinco cachorros. “Eu gosto muito de estudar psicologia canina, então tento criar os meus cães da forma mais sociável possível. Quando nós tivermos filhos, eles serão criados de forma que vejam que os cães são nossos companheiros para todas as horas e que devemos zelar por eles. Serão grandes parceiros! Assim como sempre mostrei para os meus sobrinhos essa parceria, também vou mostrar para os meus filhos” enfatizou o jovem.
Cães fizeram parte do ensaio fotográfico pré-casamento (Foto: Tibério Helio)
Servidores do Metrô do Distrito Federal entrarão em greve por tempo indeterminado a partir de meia-noite da próxima terça-feira (3/11). Serão mantidas apenas 30% das operações: dos 24 três que circulam em horário de pico, apenas oito vão funcionar. Diariamente, 160 mil pessoas depende de metrô em todo o DF.
De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Metroviários do DF (Sidmetrô), as motivações para a paralisação são o não cumprimento do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), a não convocação dos aprovados no último concurso do Metrô-DF e o excesso de comissionados na empresa atualmente.
O Sindmetrô ressalta que o pagamento do ACT foi assinado em março de 2015, em meio a concessões da categoria metroviária, que buscou entender a situação financeira pela qual passava o govern. A categoria aceitou receber a correção salarial a partir de outubro, com o pagamento dos retroativos apenas no começo do próximo ano. A decisão foi anunciada em assembleia realizada pela categoria no último domingo (25/10).
Falta de pessoal
Os metroviários alegam que o GDF também não convocou os aprovados no concurso do Metrô-DF que ocorreu no começo de 2014, mesmo diante da situação crítica em que se encontra o quadro de empregados da companhia atualmente, gerando riscos para aqueles que utilizam o sistema.
Além disso, os contratos de terceirização e comissionados continua ocorrendo. Atualmente, segundo o Metrô, há 1.069 funcionários, sendo que 53 são comissionados, o que representa 4,9% do total. O Metrô informou, ainda, que está negociando com o sindicato evitar que a categoria paralise as atividades.
A vida no Afeganistão continua tensa, e milhares de afegãos seguem deixando o país - muitos deles rumo à Europa, que assiste à maior crise migratória desde a Segunda Guerra Mundial.
O conflito entre forças do governo e militantes do Talebã, assim como a falta de oportunidades econômicas, têm beneficiado um grupo em particular: traficantes de pessoas, que cobram quantias que chegam a milhares de dólares com a promessa de fazê-las chegarem à Europa.
Afegãos são o segundo maior número de imigrantes e refugiados que tentam chegar ao continente, atrás apenas de sírios.
Abdul (nome fictício) atua como atravessador do Afeganistão à Europa. Enviou três de seus filhos e continua a traficar pessoas.
"O que eu estou fazendo não é legal. Mas quando as pessoas pedem que eu as ajude, acredito que estou fazendo um trabalho bom. Quando alguém é deportado, eu devolvo o dinheiro."
"As pessoas vêm até a mim e me pedem para que eu as mande. Não forço ninguém a ir. Não sou o único a fazer tráfico de pessoas. Há muita gente fazendo isso. Faço isso porque é um trabalho fácil."
"As pessoas dizem: 'Você mandou seus próprios filhos, pode nos mandar também'. Então eu faço. Viver e morrer está nas mãos de Deus. Ninguém que eu mandei morreu."
A Frontex, agência que monitora as fronteiras da União Europeia, diz que 710 mil imigrantes chegaram ao bloco neste ano.
Para muitos, a jornada inclui travessias perigosas no Mediterrâneo. Mais de 3,1 mil pessoas morreram no mar ao tentar chegar à Europa, segundo a Organização Internacional para Migração. Muitas das mortes ocorreram após barcos afundarem durante a viagem.
"Eu não consigo garantir a segurança deles, mas eu explico os riscos. Eu digo que na viagem à Europa eles podem ficar doentes ou ser parados pela polícia, que os barcos podem naufragar. Mas Alá vai garantir a segurança deles, não eu", disse Abdul.
A maioria dos clientes, disse, é jovem, mas ele também atende famílias.
"Primeiro, eu vejo, pessoalmente, se eles são saudáveis, não são tão velhos, se as crianças não são muito pequenas. Eu não levo mulheres grávidas", disse ele à BBC.
Abdul disse que a parte mais perigosa da viagem é entre a Turquia e a Grécia - uma das rotas mais usadas por atravessadores. "A polícia atira contra as pessoas e às vezes os barcos naufragam."
'O que eu faço não é legal'
Ao chegar à Europa, a maioria dos imigrantes tenta, então, seguir ao norte, especialmente para Alemanha e Suécia, países que recebem o maior número de imigrantes e refugiados.
Mas com o grande fluxo de pessoas nos últimos meses, países que estão na rota migratória fecharam suas fronteiras ou impuseram controles de entrada.
Abdul diz ter sido procurado por parentes de um homem que era ameaçado pelo Talebã. Pediram para que ele fosse tirado do país. "Eles disseram: 'você salvou a vida do nosso filho'. Eles rezam por mim."
"Eu sei como os pais se sentem quando mandam seus filhos, porque eu também mandei três filhos. Fico chateado quando vejo pais chorando. Não gosto muito do meu trabalho, me sinto culpado às vezes."
Ele culpa a atual situação no Afeganistão como responsável pelo fluxo migratório. Se o país fosse seguro, diz, afegãos seguiriam no país. "Por que alguém gostaria de se tornar um imigrante ou refugiado?"
Em entrevista exclusiva à BBC Brasil, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, apontou "má-fé" em críticas que identificam "pedaladas florestais", ou truques contábeis, nos cálculos feitos pelo país para definir suas metas de redução de emissão de gases-estufa.
Em passagem por Londres nesta semana, a ministra negou que o Brasil tenha recuado em sua proposta de desmatamento ilegal zero até 2030 - embora a presidente Dilma Rousseff tenha citado isso em visita aos EUA em junho, o compromisso brasileiro para Paris se restringiu à Amazônia.
O principal objetivo da conferência COP-21 é garantir um acordo entre 194 países para substituir o ultrapassado Protocolo de Kyoto e diminuir a emissão de gases de efeito estufa, mantendo o aumento da temperatura média global abaixo de 2ºC até 2100.
Anunciada por Dilma no final de setembro, a iNDC brasileira, nome técnico do compromisso no jargão da ONU, foi, em geral, elogiada por ambientalistas, empresários e cientistas - sobretudo por indicar uma meta absoluta de redução de emissões: 37% em 2025 e 43% em 2030, em relação a 2005.
Mas há também quem aponte que o objetivo brasileiro, como o da maioria dos países, está aquém do necessário para conter a escalada de aquecimento da atmosfera, e não representa uma mudança do modelo de desenvolvimento baseado em combustíveis fósseis - prevê elevar a fatia de energias renováveis para 45% até 2030, mas o índice já está em 42,5%.
A chefe da política ambiental brasileira definiu sua expectativa para Paris como "otimista e pragmática", e disse que outros países não estão fazendo "um décimo" do que o Brasil se comprometeu. Reconheceu, contudo, que o país terá que "aprender" para cumprir uma das metas - restaurar 120 mil km2 (quase três Estados do Rio de Janeiro) de florestas degradadas.
Confira os principais trechos da entrevista da ministra do Meio Ambiente à BBC Brasil:
BBC Brasil - Por que o governo recuou da promessa de desmatamento ilegal zero em todo o país ate 2030 e limitou-a à Amazônia, como apontam organizações como a rede de ONGs Observatório do Clima? O Brasil conviverá com o desmatamento ilegal na Amazônia por mais 15 anos e com a ilegalidade nos outros biomas para sempre?
Izabella Teixeira - Quero saber onde está escrita essa promessa. Onde o governo brasileiro assumiu esse compromisso e quando. Observatório do Clima é ONG. Onde está escrito como política brasileira que vou ter desmatamento ilegal zero? Onde foi escrito em 2020, 2030, 2040? Não tem. É uma absoluta bobagem. A única vez que o Brasil assumiu compromisso de desmatamento zero foi agora na iNTC.
BBC Brasil - Mas o compromisso se restringe à Amazônia.
Teixeira - Para obter desmatamento ilegal zero eu tenho que monitorar. Onde tenho taxa de monitoramento, com credibilidade, transparência, auditada internacionalmente? Só na Amazônia. As pessoas também adoram jogar para a plateia, sabe para quê? Para ficar captando dinheiro e ficar falando mal do Brasil.
É preciso construir as coisas com credibilidade, com elementos para poder assumir os compromissos. Nosso desejo, quando aplicamos o Código Florestal, é acabar com o desmatamento ilegal. Agora, para isso, eu preciso que os Estados cumpram o plano de gestão. Quem fez a lei que descentralizou (a gestão florestal) para os Estados não fui eu, foi em 2006. Rondônia tem mais crédito autorizado para tirar do que quantidade de florestas.
O Brasil quer acabar com o desmatamento ilegal, controlar as autorizações de supressão de vegetação com base na lei. Para isso vou ter que fazer Cadastro Ambiental Rural (registro público eletrônico previsto no Código Florestal para integrar informações ambientais e de posse das áreas). Pela primeira vez você tem o setor produtivo a bordo fazendo uma coisa da área ambiental. Com base nisso vou poder saber (taxas de desmatamento em outros biomas).
redução de gases estufa até 2025 (sobre valores de 2005)
43%
redução até 2030 (ante 2005)
12 milhões de hectares de florestas restauradas
15 milhões de hectares de pastagens degradadas a restaurar
45% fontes renováveis na matriz energetica
Wikimedia Commons
O Brasil não recuou de nada, ao contrário, está avançando para chegar ao desmatamento ilegal zero. Daí vou separar o joio do trigo, quem está fazendo por ilegalidade ou por irregularidade, apenas por ineficiência da área ambiental. Se construo a estratégia de monitoramento do cerrado, a taxa de desmatamento do cerrado, que está ficando pronta, consigo dizer quanto se está tirando, legal ou ilegal.
BBC Brasil - Uma análise detalhada da proposta brasileira para Paris, feita por pesquisadores da Coppe-UFRJ, diz que o país precisará zerar o desmatamento em todo o país, legal e ilegal, para cumprir a meta apresentada.
Teixeira - De todo o desmatamento que acontece nos biomas brasileiros há o ilegal e o legal. Não posso proibir o legal. Impor a um proprietário privado que não use a terra dele. Ele tem que usar de acordo com a regra de uso. Você vai dizer que uma pessoa compra uma fazenda de mil hectares no Tocantins e não pode usar? Onde está escrito isso? A Constituição dá direito a ele de usar. Agora, se é no Tocantins, tem o cerrado amazônico, ele tem que conservar ao menos 35% da terra.
Então, quando fizemos a iNDC brasileira, nós calculamos as projeções para todos os biomas, cumprindo a lei. A modelagem matemática feita no Brasil considera o uso legal, só posso fazer modelagem em cima do que autorizo. Sonegação fiscal, trabalho escravo, tudo está associado à ilegalidade - não é assim no desmatamento da Amazônia? Tenho que tirar isso e construir a lógica do uso da terra legalizada.
A iNDC brasileira pega todos os biomas, projeta autorização de uso segundo o planejamento de expansão de fronteira agrícola do país e considera o (desmatamento) legal e a neutralização (das emissões de gases-estufa) para a Amazônia. O que fizemos é que neutralizamos as emissões do desmatamento da Amazônia, que é o único bioma (na proposta) - o resto é monitoramento para todos os biomas, taxas de desmatamento para todos e zerar a ilegalidade.
BBC Brasil - Como a sra. analisa as críticas de que o Brasil promove "pedaladas florestais" ou "pedaladas de carbono" ao abater do cálculo das emissões de desmatamento as absorções de florestas virgens em terras indígenas e áreas de conservação, o que seria um artifício para "desinflar" as emissões?
Teixeira - Isso é má-fé. Porque o IPCC (painel de cientistas que estudam mudanças climáticas) e a Convenção do Clima dizem que você pode e deve usar as áreas protegidas para proteger e fixar carbono.
Também colocamos as APPs, áreas de preservação permanente, como área de conservação de biodiversidade dentro da Convenção sobre Diversidade Biológica (tratado da ONU de 1992), porque são áreas que ficarão intocáveis. Mantenho os serviços ambientais, o carbono, a biodiversidade, numa propriedade privada. Isso é pedalada?
Pedalada é você simplesmente achar que está fazendo a coisa e não está fazendo. Um país que assume o compromisso de 60 milhões de hectares de unidades de conservação na Amazônia - estou dizendo que 60 milhões de hectares não serão desmatados. Se quiser olhar pelo carbono, estou falando: isso aqui não vai para a atmosfera. Não fizemos nada que a Convenção não mande fazer.
Aliás, em debate com todos os cientistas, inclusive, alguns que criticam estavam lá concordando. Nas salas privadas concordam, depois vão fazer política do lado de fora. Agora ficaram frustrados porque muitos críticos esperavam que o Brasil apresentasse algo que ficasse aquém, e nós roubamos a cena.
BBC Brasil - Mas a ONU ainda analisará se esse critério de admitir emissões "líquidas" será aceito depois de 2020.
Teixeira - Você quer jogar como? Falar só emissões brutas ou liquidas? A convenção manda falar emissões líquidas. Você quer fazer uma ação política, você fala só emissões brutas. Tudo bem, é um dado importante, mas não é o dado que dialoga com a convenção.
Não aceito esse comentário de pedaladas de carbono. Isso é uma crítica vazia, porque seguimos a regra. Muda a regra, muda meu dado. Tudo que protejo no Brasil, que evito (de emissão de) carbono, simplesmente não vale mais? Isso é típico de quem não conhece clima, de quem quer fazer crítica vazia e não conhece o que o Brasil está fazendo.
Interessa-me ampliar as unidades de conservação. O CAR (cadastro ambiental rural) que está quase 70% pronto, está me dando hoje cerca de 50 milhões de hectares de vegetação nativa, primária, em áreas privadas, que o agricultor pode usar, áreas passíveis de desmatamento legal. Isso é um ativo.
Tenho de criar mecanismos de proteção para o cara não desmatar, e ele pode pela lei. Tem que convencê-lo a manter a vegetação em pé. Isso é biodiversidade com clima, e não contabilizo esse carbono a meu favor? Vou preferir que ele corte e emita? Por que quando o carbono sobe para a atmosfera, é uma coisa só, ninguém está carimbando se é legal ou ilegal.
Quando você faz a iNDC em temperatura, você está calculando o tempo de permanência desses gases e a contribuição para a temperatura. Por isso ninguém apresenta, porque gases associados à matriz energética permanecem mais tempo na atmosfera. Carvão, por exemplo, fica cem anos lá em cima, então sua contribuição em tese é maior, do que, por exemplo, a do metano associado à agricultura, que fica 14, 16 anos na atmosfera.
BBC Brasil - É possível avançar mais na proposta brasileira?
Teixeira - Mais? Se essa trajetória se confirmar, no futuro podemos fazer, mas cobrar mais do Brasil? Queria que outros países fizessem um décimo do que o Brasil está fazendo. Se os países desenvolvidos fizessem o que nós estamos fazendo, e os países em desenvolvimento, que podem fazer mais, fizessem como estamos fazendo, a solução de (evitar aumento da temperatura em) 2ºC estará mais próxima, isso posso assegurar a você.
BBC Brasil - E qual é a sua expectativa para as negociações em Paris?
Teixeira - Estamos trabalhando duramente para ter um acordo. Sou muito pragmática e muito otimista. Acho que cabe um elogio ao governo francês, que está fazendo todos os movimentos para dar certo. Aliás, fazia muito tempo que não via um presidente da COP fazendo tanto esforço, e não é no último momento.
Acho que tem um grande engajamento da sociedade, diferentemente do que havia no passado. E um engajamento que não é só por pressão, é de entendimento sobre mudança do clima, não só no setor privado como na sociedade civil.
Consolidou-se também o papel do IPCC no diálogo com a questão política. Termos eleito uma brasileira vice-presidente do IPCC (a pesquisadora Thelma Krug) dá a sinalização do governo brasileiro de priorizar o tema.
Acho que pela primeira vez você também tem o engajamento do setor financeiro, e obviamente você tem um grande problema em Paris: como conciliar o novo tendo em vista as pendências que não foram implementadas até agora.
E você tem que proteger a convenção, porque se você começar a fazer fora da convenção você perde o acordo multilateral. Acho que tem tudo para ter uma solução.
BBC Brasil - Mas como o Brasil pode avançar se o plano climático não muda a ênfase de investimentos em combustíveis fósseis?
Teixeira - Você faz uma bobagem de pergunta, estou sendo sincera com você. Nenhum país do mundo trabalha energia sem segurança energética. O Brasil tem uma matriz equilibrada, 50% a 50% (entre energias renováveis e não renováveis). Sabe quanto os países da OCDE (conhecido como 'clube dos países ricos') têm de renovável? 8%. Os países desenvolvidos, todos, além da OCDE? 13%.
O Brasil quer colocar 45% (de participação de fontes renováveis na energia total consumida), já teve 48%, por segurança energética entra com (usina) térmica para não faltar energia, e volta para 45%, podendo chegar a 50%, é a trajetória que vai fazer.
Nenhum país do mundo fez isso, nenhum tem condição de fazer, se não discutir combustível. Pegue a proposta para ver: estamos fazendo troca de carvão e óleo combustível por gás, e em melhores condições do que os americanos estão fazendo com shale gas (gás de xisto, extraído com maior impacto ambiental). Então por que para eles vale e para gente não vale?
Não tenho nenhum problema em discutir energia no Brasil, e estamos falando além das hidrelétricas, que ainda tem a polêmica das hidrelétricas. O Brasil precisa começar a discutir energia como gente grande. Com um sistema interligado num pais continental, que precisa ter investimento, desenvolvimento, para ter emprego, que outra fonte segura isso? Só térmica. Ou é combustível fóssil, ou nuclear. Prefiro discutir as renováveis. É mais barato, você tem que construir soluções, e é mais factível do ponto de vista da tecnologia que existe no Brasil.
BBC Brasil - A sra. ficou satisfeita com o estudo de impacto ambiental da usina de São Luiz do Tapajós? (Uma análise encomendada pelo Greenpeace denunciou "problemas graves" no relatório)
Teixeira - Nós rejeitamos o estudo. Não conheço o estudo, acho que tem que ter uma discussão legal. O Ibama rejeitou, pediu para rever uma série de coisas. Acho que o Brasil terá que discutir geração hídrica em outro patamar. Não se abre mão de potencial hídrico. Não estou dizendo que vai aproveitar 100%, mas você terá que discutir isso com a sociedade, porque os desafios do país vão impor que você tenha segurança energética, preferencialmente energias renováveis, com custo menor e que você tenha domínio tecnológico.
Aí você diz: 'ah, mas tem eólica e solar'. Está bom, mas isso é absolutamente complementar. Quando você fala de estoque, visão estratégica de energia, por que os combustíveis fósseis são tão estratégicos? Porque você pode estocar.
Por isso defendo que a opção seja aberta. Se você não vai poder gerar hidroeletricidade na Amazônia porque é terra indígena ou por qualquer restrição, quais são as alternativas? Lembrando que temos um sistema interligado nacional, que tem de ter tarifa social competitiva, que tem que trabalhar segurança energética no sistema nacional, que existe sazonalidade e vulnerabilidade, tem que gerar emprego, desenvolvimento regional, essas coisas todas. Tudo tem que estar na mesa.
É impossível você querer fazer coisas no oba-oba. Também posso dizer que quero o Brasil com 0,5 bilhões de toneladas equivalentes de CO2 (a proposta do Brasil é de 1,21 bilhão em 2030), (o país) crescendo para 240 milhões de habitantes, com desigualdades regionais, é loucura. Seja realista e apresente coisas factíveis, e foi o que fizemos.
Agora, restaurar 12 milhões de hectares (de florestas degradadas) precisa aprender a fazer isso, não é trivial. Combinamos com o setor privado, que me deu o número de 20 milhões de hectares. Eu falei: 'Faz 12, e se puder rever, revejo'. Hoje a performance é 600 mil hectares. É maldade o que fizeram ao dizer que o Brasil já teria que fazer isso pelo Código Florestal. Código Florestal manda restaurar vegetação nativa, não é floresta.
O Código Florestal fala o seguinte: reserva legal você tem 20 anos para restaurar. APP não te dá o tempo para restaurar. Querem que coloque isso em 2030? A lei não me manda fazer isso. Ou você prepara a turma para fazer como deve ser feito, e é o que estamos fazendo, e coloca a condição do clima para influenciar nesse desenvolvimento, trabalhando com todos os setores da economia, com olhar regional.
Não adianta fazer só Sudeste, tenho que entender o país como um todo, transformar isso em estratégia de desenvolvimento.
E o Brasil apresentou a iNDC não condicionada a dinheiro internacional. Vários países apresentaram só se tiver ajuda internacional. A gente, não. Se tiver, ótimo, vou fazer talvez mais rápido, mas não foi condicionada. Espero, e a gente vai trabalhar para cumprir, e quem vier depois de mim que o faça.