Ao detalhar, nesta sexta-feira, o corte de 69,9 bilhões de reais que o Governo fará para reequilibrar as contas públicas do país, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, revelou que projeta uma retração maior do que a esperada para a economia do Brasil neste ano.O Governo estima agora uma contração de 1,2% no Produto Interno Bruto (PIB), o que, se confirmado, será o pior resultado registrado nos últimos 25 anos. Até então, a previsão era que o PIB encolhesse 0,9% em 2015. Barbosa também estimou uma inflação de 8,26%, bem acima do centro da meta de 4,5%.
Os dados não são nem um pouco animadores para uma economia que precisa retomar o seu crescimento. "Chama a atenção o fato que, mesmo diante desse panorama, os cortes sejam tão significativos nos investimentos.Infelizmente, estão selecionando aquela despesa nobre que aponta para um crescimento futuro do país", afirma o professor da FGV Mauro Rochlin.
Um dos maiores cortes anunciados atingiu o Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), voltado para obras de infraestrutura. Os recursos para o PAC caíram 25,7 bilhões de reais, que correspondem a 39,5% da programação para 2015 que era cerca de 65 bilhões de reais.
Os especialistas acreditam que apenas uma articulação política mais ampla poderia de fato ajudar a alcançar a meta fiscal prometida pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de acumular mais de 66 bilhões de reais, cerca de 1,1% do PIB. "Como vão conseguir chegar a esse número, se as medidas do ajuste fiscal estão saindo do Congresso muito menores do que entraram?", afirma Lisboa.O diretor-presidente do Insper, Marcos Lisboa, concorda que aqualidade do ajuste realmente é ruim, mas reflete a falta de alternativa do Governo que possui um orçamento engessado. "As despesas obrigatórias ele não poderia modificar. Agora, a aposta em cortes de investimentos não irá sustentar um ajuste fiscal de longo prazo. Nos próximos anos, o que terão para cortar?', questiona.
O número anunciado pelo Governo deixa uma certa preocupação no ar, segundo Rochlin, já que está longe de alcançar o esforço fiscal que, na prática, é de quase 100 bilhões de reais, contando com o déficit primário registrado no ano passado (de 0,63% do PIB, que precisa ser compensado). "Sabemos que vai ficar muito apertado, um número mais perto de 80 bilhões seria mais adequado. O resto do ajuste que precisa ser aprovado pelo Congresso é muito incerto", conclui. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, almejava uma redução nesse porte, o que foi interpretado como uma derrota, e gerou especulações sobre a sua ausência na divulgação do ajuste fiscal.
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