EUA e China estabelecem acordo sem precedentes para a redução das emissões de CO2
Pela primeira vez, os dois maiores poluentes do planeta aparecem juntos na luta pelo corte das emissões de gases de efeito de estufa.
Os Estados Unidos e a China alcançaram nesta quarta-feira um acordo histórico na área da redução das emissões de dióxido de carbono. As metas anunciadas implicam esforços adicionais por parte dos dois governos, mas as promessas das duas maiores potências mundiais servem como um incentivo para as próximas cimeiras climáticas.
A China comprometeu-se a antigir o pico das suas emissões de CO2 no máximo em 2030, ou se possível antes. Ou seja, depois disso, o país começará a reduzir as emissões. Até agora, a China tinha-se comprometido apenas a reduzir a sua intensidade carbónica – isto é, o volume de emissões por unidade de PIB – em 40-45% até 2020, em relação a 2005. É a primeira vez, agora, que o país assume uma meta relacionada com as emissões absolutas.
Pelo seu lado, os EUA prometem uma redução das emissões entre os 26% e os 28% até 2025, tendo como nível de referência o ano de 2005. A nova meta proposta por Washington é mais ambiciosa do que a anterior, de um corte de 17% até 2020.
O anúncio surgiu após um encontro bilateral em Pequim entre os dois líderes, que sucedeu à cimeira da APEC (Fórum para a Cooperação Económica da Ásia-Pacifico).
O acordo sem precedentes, estabelecido pelos dois países responsáveis por 45% das emissões mundiais de gases de efeito de estufa, é visto como um incentivo para o compromisso de reduzir as emissões poluentes a partir de 2020 e que será negociado durante a cimeira de Paris, em Dezembro de 2015.
“Temos uma responsabilidade especial na liderança do esforço global contra as alterações climáticas”, disse o Presidente norte-americano, Barack Obama, numa conferência de imprensa conjunta. “Hoje, estou orgulhoso em podermos anunciar este acordo histórico”, acrescentou.
O Presidente chinês, Xi Jinping, afirmou que o compromisso assumido pelos dois países serve para “assegurar que as negociações internacionais sobre as alterações climáticas irão chegar a um acordo em Paris”.
A grande intenção do acordo parece ser a de constituir uma pressão adicional sobre outros países no âmbito do debate sobre as emissões de gases de efeito de estufa. “Se os dois maiores intervenientes globais no clima são capazes de aparecer juntos, a partir de duas perspectivas muito diferentes, o resto do mundo pode ver que é possível realizar verdadeiros progressos”, notou o vice-presidente da Fundação das Nações Unidas, Timothy Wirth, através de um comunicado citado pela Reuters.
Tanto Obama como Xi têm assumido o combate à poluição e a aposta nas energias renováveis como grandes prioridades das suas administrações. No entanto, os dois líderes enfrentam sérios obstáculos internos que levantam muitas reservas quanto às reais possibilidades de que as metas sejam efectivamente alcançadas.
Em Washington, as eleições intercalares do início do mês deram o controlo do Senado ao Partido Republicano, que também aumentou a sua maioria na Câmara dos Representantes — o que deverá dificultar qualquer entendimento sobre nova legislação.
As reacções ao anúncio de Obama fizeram-se chegar pelo líder republicano no Senado, Mitch McConnell, que criticou a “guerra ideológica contra o carvão” do Presidente. “Este plano irrealista, que o Presidente iria despejar sobre o seu sucessor, iria implicar impostos mais elevados e menos emprego”, disse McConnell, acrescentando que a prioridade da nova maioria republicana é a “diminuição do peso” das regulações ambientais.
Para a China, o caminho para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis parece ainda mais longo. De acordo com o Washington Post, a cada oito a dez dias é construída uma nova central eléctrica a carvão no país. Para além disso, para alcançar a fatia de energia não-fóssil de 20% até 2030, no conjunto total da energia produzida — outra das promessas de Xi —, a China terá de realizar um enorme esforço. Será necessário assegurar uma capacidade de gerar cerca de 800 a 1000 gigawatts em energias renováveis até 2030, algo semelhante à capacidade geradora de electricidade total nos Estados Unidos actualmente, segundo o WP.
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