quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Falta até agulha em unidades da rede pública de saúde do DF






Rafaela Felicciano/Metrópoles


Metrópoles teve acesso a mensagens trocadas entre servidores de São Sebastião e Brazlândia. Em alguns locais, não há seringas também








O caos e o desabastecimento de materiais médicos nos hospitais públicos do Distrito Federal chegaram a um patamar inimaginável: faltam agulhas para a aplicação de medicamentos e procedimentos básicos de saúde. O Metrópoles teve acesso à troca de mensagens entre servidores de unidades de São Sebastião e de Brazlândia relatando o problema.
Para cada tipo de procedimento e dependendo do paciente (adulto, criança ou idoso) é utilizado um modelo de agulha, com cores e calibres diferentes, variando de 0,30mm a 1,65mm. De acordo com as conversas entre os funcionários, na falta de um item específico outro está sendo utilizado no lugar, para que pacientes não fiquem sem atendimento.


Em um dos trechos da conversa, uma servidora comenta que as agulhas em Brazlândia acabaram. “Aqui só dizem que está esgotado”. Outra faz menção à medida das agulhas que estão em falta e o sofrimento de alguns pacientes após terem que usar agulhas fora do padrão necessário. “O 24 pra adulto é uma brincadeira. E o 18 para algumas veias é um arrombo!”, disse.



A presidente do Sindsaúde, Marli Rodrigues, afirmou que os servidores que trabalham nos hospitais públicos do DF precisam driblar a falta de materiais, muitas vezes improvisando para evitar que a população fique sem assistência. “Muitas vezes a falta de um determinado insumo pode resultar em um risco à vida do paciente. Estamos acompanhando de perto essa denúncia da falta de agulhas”, disse.
Alguns servidores dizem que os problemas vão além das agulhas e há falta, também, de seringas, que estariam sendo até reutilizadas na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de São Sebastião. Situação de risco, que aumenta a chance de contaminação. Máscaras e capotes descartáveis também estão em falta na unidade.
Na UPA, por exemplo, só estariam disponíveis seringas de 5ml. Um servidor que trabalha na unidade relatou que auxiliares de enfermagem estão tirando a agulha da seringa para encaixá-las em outras.
“Estão tirando a agulha da seringa de 5 ml, pois é a única que tem. Em seguida, utilizam a agulha em seringas de outras medidas. Reutilizam a seringa depois de lavar”, contou o funcionário, que pediu para não ter o nome divulgado com medo de represálias. Ele garantiu, entretanto, que não há reutilização das agulhas.
Risco totalDe acordo com o médico sanitarista Gustavo Loiola, o risco de contaminação é total quando seringas são reutilizadas, mesmo sendo lavadas após o procedimento. “Em um ambiente hospitalar onde o risco de contaminação está presente a todo instante, usar a mesma seringa em pacientes diferentes é extremamente perigoso, pois resquícios de sangue podem permanecer no reservatório da seringa”, alertou.


Médicos ouvidos pela reportagem também alertam para o perigo da utilização de agulhas de calibres diferentes daqueles específicos para adultos em crianças, por exemplo.
O outro lado
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Saúde reconhece que o estoque de agulhas calibre 25 e cateteres flexíveis jelco (agulha mais comprida e de plástico) está baixo, mas ainda há insumos para uso no Hospital Regional de Brazlândia. “A Superintendência da Região de Saúde Oeste abriu processo de compra por PDPAS para que a unidade não fique desabastecida. Paralelamente a isso, tramita na secretaria a compra desses insumos para abastecimento total da rede”, informa a pasta.
Ainda de acordo com a nota de esclarecimento, a secretaria explicou que na UPA de São Sebastião, os servidores utilizam as seringas calibre 3, 10 e 20 e que o cateter flexível jelco ainda está disponível para uso nos pacientes.
Em relação aos capotes e máscaras, a secretaria ressaltou que a rede tem capotes de tecido em estoque e a compra do material descartável está em processo de compra regular. “As máscaras, por sua vez, estão em processo de compra emergencial, com prioridade máxima”, afirmou a nota.
A pasta ressalta que existem seringas disponíveis na rede e garantiu que não procede a informação de que há reutilização deste material na UPA de São Sebastião. “Havendo desabastecimento pontual do produto de uma determinada capacidade, são utilizados outros tipos de seringas, de forma a não deixar o paciente desassistido. Frisa-se, há amplo estoque do insumo na Farmácia Central”, disse a nota enviada pela pasta.

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