quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Preso pela PF, Sérgio Cabral chega a cadeia no complexo de Bangu

17/11/2016 17h36 - Atualizado em 17/11/2016 21h42

Ex-governador deixou superintendência da PF no fim da tarde desta quarta. Ele é alvo de apuração sobre supostos desvios em obras públicas no Rio.

Do G1 Rio

O ex-governador do Rio Sérgio Cabral Filho (PMDB) chegou às 19h13 desta quinta-feira (16) à cadeia pública José Frederico Marques, no complexo penitenciário de Bangu, na zona oeste do Rio. Cabral foi preso no início da manhã, sob a suspeita de receber milhões em propina para fechar contratos públicos. Ele é alvo da operação Calicute, da Polícia Federal e Ministério Público Federal que apura desvios em obras do governo estadual. O prejuízo é estimado em mais de R$ 220 milhões.
Além do ex-governador, outras nove pessoas foram presas. Segundo o MPF, Cabral recebia "mesadas" entre R$ 200 mil e R$ 500 mil de empreiteiras em troca de contratos. Cabral chefiava a organização criminosa e chegou a receber R$ 2,7 milhões em espécie da empreiteira Andrade Gutierrez, por contrato em obras no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), ainda de acordo com o MPF.
O esquema, aponta a investigação, também envolvia lavagem de dinheiro por meio de contratos falsos com consultorias e compra de bens de luxo, que incluíam vestidos de festa, joias e uma lancha avaliada em R$ 5 milhões, e até cachorros-quentes de uma festa de aniversário do filho do político.
A mulher do ex-governador, Adriana Ancelmo, foi alvo de condução coercitiva, quando alguém é conduzido para depor. Ela é suspeita de ser beneficiária do esquema criminoso.
G1 ligou por volta das 13h para o escritório e para celulares de advogados que representam Cabral, mas não obteve resposta até as 20h. A defesa de Adriana informou que se pronunciará na sexta-feira (18)
Delação premiada
A ação coordenada entre as forças-tarefa de Operação Lava Jato no Rio de Janeiro e no Paraná teve como base as delações premiadas do empresário Fernando Cavendish, ex-dono da Delta, e de executivos da empreiteira Andrade Gutierrez e da Carioca Engenharia. As informações passadas pelos colaboradores estão sendo ratificadas por uma série de indícios e provas diretas levantadas pelo MPF, PF e Receita Federal.
"Há fortes indícios de cartelização de obras executadas com recursos federais, mediante o pagamento de propina a funcionários e a Sérgio Cabral", disse Lauro Coelho Junior, procurador do MPF no Rio de Janeiro, em entrevista coletiva.
Segundo o procurador, os pagamentos de mesada a Cabral ocorreram entre 2007 e 2014. "Em relação à Andrade Gutierrez, foi firmado que havia o pagamento de mesada de R$ 350 mil, isso pago por pelo menos um ano. Em relação à Carioca Engenharia, o pagamento de mesada foi de R$ 200 mil no primeiro mandato, e no segundo mandato de Sérgio Cabral, essa mesada subiu para R$ 500 mil por mês."
Coelho Junior afirmou que a Andrade Gutierrez pagou pelo menos R$ 7,7 milhões em propina. E a Carioca Engenharia pagou pelo menos R$ 32,5 milhões.
O juiz Sérgio Moro, que também decretou a prisão de Cabral, citou a atual situação de crise financeira do Estado do Rio de Janeiro para justificar a medida. Moro afirmou que seria uma afronta deixar que os investigados continuassem usufruindo dos recursos das supostas propinas.
Taxa de oxigênio
O procurador Coelho Junior disse ainda que a propina exigida pelo ex-governador era de 5% por obra, mais 1% da chamada "taxa de oxigênio", que ia para a secretaria de Obras do governo, então comandada por Hudson Braga.
Procuradas, a Andrade Gutierrez e a Carioca Engenharia não quiseram se manifestar sobre as investigações. O presidente nacional do PMDB, Romero Jucá, disse que o partido não será afetado com a prisão do ex-governador. Ele acrescentou que espera que os fatos sejam investigados com profundidade e, a partir daí, se tenha uma convicção e julgamento na Justiça.
A ação foi chamada de Calicute em referência à uma região da Índia onde o descobridor do Brasil, Pedro Álvares Cabral, teve uma de suas maiores tormentas. No Rio, foram expedidos 38 mandados de busca e apreensão, 8 de prisão preventiva, 2 de prisão temporária e 14 de condução coercitiva. No Paraná, a Justiça expediu 14 mandados de busca e apreensão, 2 de prisão preventiva e 1 de prisão temporária.
Bangu
O ex-governador foi levado inicialmente para a cadeia pública José Frederico Marques, conhecida como Bangu 10, a triagem masculina do complexo prisional. Depois, ele foi encaminhado para Bangu 8, unidade do complexo para presos com ensino superior, informou a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap).
Ao chegar a Bangu, o comboio que levava Cabral foi recebido por manifestações de bombeiros e de outros populares, que soltavam fogos. Alguns manifestantes serviram espumante, alusão a uma viagem feita pelo então governador em 2012 a Paris.
Os outros nove presos na operação deixaram o IML por volta das 19h20, também em direção a Bangu. Estão presos preventivamente, sem previsão de soltura, Paulo Fernando Magalhães Pinto (ex-assessor de Cabral), Wilson Carlos Cordeiro da Silva Carvalho (ex-secretário de governo do RJ), Hudson Braga (ex-secretário de obras), Carlos Emanuel de Carvalho Miranda (sócio de Cabral na empresa SCF Comunicação), Luiz Carlos Bezerra, Wagner Garcia, José Orlando Rabelo e Luís Paulo Reis. Também foi preso Alex Sardinha da Veiga, mas, diferentemente dos demais, a detenção é temporária, por até cinco dias.
 O ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral (PMDB) deixa o carro da Polícia   Federal no Instituto Médico-Legal (IML), no Rio de Janeiro. Cabral foi preso na manhã de hoje pela Polícia Federal (PF) na Operação Calicute, nova fase da Lava Jato. (Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo)O ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral (PMDB) deixa o carro da Polícia Federal no Instituto Médico-Legal (IML), no Rio de Janeiro. Cabral foi preso na manhã de hoje pela Polícia Federal (PF) na Operação Calicute, nova fase da Lava Jato. (Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo)
CPI
Na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), manifestantes ligados a servidores estaduais que protestavam contra o pacote de austeridade do governo do Rio também comemoraram a prisão de Cabral.
Deputados da oposição e da base aliada do governo de Luiz Fernando Pezão (PMDB), seu aliado e antigo vice, temem que as denúncias de corrupção associadas ao partido dificultem a aprovação do pacote de austeridade no estado.
Também nesta quinta, deputados aprovaram a criação de duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs). A primeira investigará a concessão de incentivos fiscais a partir de 2008, período compreendido pelos dois governos de Sérgio Cabral e também a atual administração de Pezão. A outra pretende apurar superfaturamento nas obras do Maracanã e do metrô.

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