Privatizar e monopolizar um serviço fundamental, para que os municípios possam dar o tratamento adequado aos resíduos, tinha tudo para correr mal.
1 de Novembro, 2016 - 10:30h
A Empresa Geral do Fomento (EGF) detinha um papel privilegiado na maioria das empresas de tratamento de resíduos. Desde o início do processo de privatização desta empresa que se sabia que tudo de bom que se contava não teria o desfecho desejado. Privatizar e monopolizar um serviço fundamental para que os municípios possam dar o tratamento adequado aos resíduos, promovendo uma política na necessidade do lucro ao invés de um serviço sustentado nas necessidades locais, tinha tudo para correr mal.
Nada foi acautelado, a salvaguarda do serviço público, a evolução tarifária e a manutenção dos interesses dos municípios e das populações, tudo foi entregue pelo anterior governo PSD/CDS. E nem sequer o parecer da Autoridade da Concorrência, que recomendava uma separação geográfica das empresas da EGF e defendia que concentrar as concessões numa só entidade prejudica a eficiência do regime tarifário, impediu que a atribuição do direito exclusivo de transporte e tratamento dos resíduos sólidos urbanos de 60% da população portuguesa fosse feito a uma só empresa.
Na Valorsul, como em todas as outras empresas do grupo EGF, a apreensão era muita. Pouco ou nada era transmitido aos trabalhadores e quando o era, acontecia de forma muito ténue, sempre transmitindo a informação na base do "estritamente necessário".
Aos trabalhadores sempre foi dito que com a privatização tudo mudaria. Que os cortes terminariam (e terminaram - a lei impunha), que seriam revistos os salários e carreiras, que seriam retomadas as negociações do acordo de empresa. Chegou mesmo a ser dito que o "barulho" da Comissão Sindical poderia prejudicar o processo de negociações e assim todos ficariam a perder. Com a nova administração o discurso mudou pouco. Que sim, iriam analisar as reivindicações dos trabalhadores, que ninguém seria despedido e que tudo seguiria o seu processo normal, que haveria diálogo entre as partes interessadas.
Até agora todas as decisões aconteceram apenas de um lado e colocam sempre em causa os direitos adquiridos dos trabalhadores. Desde a imposição do cartão de refeição, ou o regulamento de avaliação de desempenho, a alteração ao seguro de vida ou da entrega de serviços de controlo de cargas e descargas a empresas externas, a extinção de serviços ou a alteração de serviços de transporte interno, a manutenção de trabalhadores temporários ou a utilização de contratos individuais de trabalho para trabalhadores que já deveriam estar integrados no quadro - em situação de igualdade com o trabalhador ao lado, o número de visitas de escolas dos municípios da área de intervenção da Valorsul diminuiu reduzindo o impacto da educação ambiental que a empresa prestava, e tudo acontece por imposição da (nova) administração da Valorsul.
Os lucros? Esses mantêm-se e ficam do mesmo lado de sempre.
E será de perguntar, o serviço mudou?
Não. Manteve a mesma qualidade de sempre, demonstrando que mudar quem dirige altera pouco a qualidade de quem trabalha dia a dia nas instalações da empresa. Não basta decidir aumentar a velocidade do tapete ou a temperatura do forno. É preciso quem separe, quem faça a manutenção, quem controle o funcionamento do sistema e esses e essas são quem lá tem estado, todos os dias, ano após ano, a garantir que a Valorsul seja a empresa de referência no sector do tratamento de resíduos sendo considerada pelo segundo ano consecutivo e em dois anos de austeridade a melhor empresa no tratamento de resíduos.
É preciso perceber que a empresa estando parada e com o apoio dos municípios conta também como aquilo que a administração entende como racionais de decisão associados a cada uma das medidas tomadas.
É tempo de respeitarem os trabalhadores e trabalhadoras da Valorsul! É tempo de discutir o Acordo de Empresa!
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