A eleição acabou, mas o senador só tem um assunto: o fim do PT e a desconstrução da política. Caminho parecido trilha o vitorioso Alckmin, que corre o risco de ser devorado antes de chegar ao Planalto
por Helena Sthephanowitz publicado 03/11/2016 11:33, última modificação 03/11/2016 11:42
GEORGE GIANNI / PSDB
Aécio e Alckmin, políticos profissionais que pregam a negação da política para favorecer seus candidatos e esquecendo que logo voltarão a ser candidatos também
Pelo menos na maioria das cidades, a recém terminada eleição municipal foi marcada pela descrença, pela antipolítica, a eleição da desesperança do eleitor. Lembra a história da dupla de exploradores trilhando a floresta. Ao se depararem com um urso faminto, um deles tira as botas e começa a calçar tênis de corrida. O outro questiona, perplexo: “Não adianta, com botas ou tênis o urso corre mais rápido do que nós”. E o primeiro retruca: “Eu sei, mas só preciso correr mais rápido do que você”.
De certa forma o eleitor cético com a política agiu como o urso devorando os candidatos e partidos mais expostos, por que mais evidentemente exerceram o fazer política. Com isso, quem escapou de ser devorado foram os que se apresentaram mais aptos no discurso da negação da política.
E, nesta eleição, o partido que mais apostou na descrença, na desqualificação do debate e na negação da política foi o PSDB. Estratégia porém, cujo resultado para o senador Aécio Neves destoou. Em nova derrota à sua biografia, seu candidato à prefeitura de Belo Horizonte, o também tucano João Leite, liderava a campanha com certa folga, até aparecer ao lado de Aécio nos programas da TV. A partir dali, foi perdendo fôlego e Alexandre Kalil (PHS) se elegeu. Aécio chegou a passar dias consecutivos em Minas para, segundo ele próprio, “ajustar “ os rumos da campanha de seu apadrinhado.
A derrota de Aécio é maior, porque foi ele o principal cacique político fazendo campanha contra a política, sempre conspirando publicamente pelo golpe, apostando no "quanto pior, melhor". Só que foi pior para ele também: em Minas já se pergunta se Aécio consegue se reeleger ao Senado em 2018.
Em 2014, ele fracassou em casa: derrotado por Dilma Rousseff na disputa pela Presidência, também viu seu candidato a governador, Pimenta da Veiga (PSDB), perder para o petista Fernando Pimentel.
Aécio parece não ter entendido o recado da urnas, especialmente a mineira, e, mais uma vez, se mostra mau perdedor, agora no plano das eleições municipais.
Semana passada, ao ser questionado por jornalistas sobre como via o desempenho do governador Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa municipal de São Paulo, especialmente em relação ao seu próprio, o senador fez de conta que a pergunta era outra, fugiu da resposta e despejou: “desalojamos o PT de capitais". Em outras entrevistas, desconversou quando perguntado se a nova derrota em Minas atrapalharia seus planos para 2018, e limitou-se novamente a atacar o PT.
Dentro do ninho tucano, Alckmin arrastou as fichas. Só não será o candidato do PSDB a presidente se não quiser. Ou se não puder, caso o "santo" – apelido de algum destinatário de doações (ou serão propinas?) que aparece nas planilhas da Odebrecht –, vier a abater sua carreira política, considerando que sobre o governador de São Paulo recaem as principais suspeitas de ser o político por trás do apelido.
Porém, a vitória inegável de hoje, tanto do PSDB como de Alckmin, veio junto com vários sinais de alerta de que a satisfação de hoje pode não se repetir em 2018, por vários motivos.
Primeiro, porque sempre foi pequena a transferência de votos de prefeitos para candidatos a presidente, pelo menos desde a redemocratização.
Segundo porque, mesmo sendo a vitória de João Dória em São Paulo uma vitória também do governador paulista, o prefeito eleito fez sua campanha toda calcada em uma imagem de empresário, um gestor competente, mas um "novato" em política.
Portanto, muito diferente do perfil de Alckmin, que foi político a vida toda, desde quando se elegeu vereador ainda estudante. A imagem de Alexandre Kalil, o carrasco de Aécio em Belo Horizonte, também é de "novato" na política.
Em 2018, se o eleitor continuar negando a política, como vem sendo estimulado pelo PSDB, inclusive, poderá preferir um candidato "novato", em vez do veteraníssimo Alckmin. Não por acaso, Alckmin tem pontuado tão mal quanto Aécio em pesquisas de intenções de votos para 2018.
Terceiro, porque o urso da piada, se pegou principalmente o PT em 2016, cruzará com vários aventureiros, do PSDB e do PMDB. E estes estarão com botas de chumbo, carregando todo o contencioso de arrocho e de empobrecimento da população, decorrente do golpe do impeachment e da ascensão de Temer ao poder, com apoio tucano.
Além disso, por mais blindados que sejam, as delações da Lava Jato estão chegando nos tucanos. E o povo costuma ser implacável com quem é pego cometendo o mesmo crime de que acusa seus oponentes. Parte da derrocada de Aécio deve-se a se exibir como caçador e virar caça, tratando-se de escândalos de corrupção.
Alckmin corre o risco de repetir Covas quando se candidatou a presidente. Em 1986, ainda no PMDB, havia sido o senador mais votado do Brasil, no embalo do plano Cruzado de Sarney. Três anos depois, nas eleições presidenciais, mesmo chegando a ter o apoio inicial da Rede Globo, não resistiu à decepção generalizada pelo fracasso do Cruzado. Quem chegou ao segundo turno foi quem se apresentou com imagem de "novato", Fernando Collor de Mello, vencendo Luiz Inácio Lula da Silva.
Alckmin tem muito a comemorar dentro do PSDB. Nas ruas terá de encarar o urso faminto, o povo, quando acordar da hibernação da antipolítica, e sentir na própria pele o efeito das medidas amargas que estão sendo votadas no Congresso, com apoio tucano.
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