David Cameron, líder dos Conservadores, e Ed Miliband, líder dos Trabalhistas.
Foto: Reuters
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O vencedor das eleições britânicas desta quinta-feira enfrenta o desafio de liderar um país de paradoxos. Na economia, apesar dos números do crescimento (2,8% em 2014, a maior taxa do G7) e do baixo desemprego (menos de 6%), existem nuvens negras, enquanto, socialmente, já se vê a face sombria deste modelo de "desenvolvimento" económico. Este é um país muito desigual. Os pobres são sujeitos aos desumanos "contratos zero horas" - em que a mão de obra que tem de estar disponível para ser chamada a qualquer hora, trabalhando em intervalos, a tempo parcial, em exclusivo para um mesmo empregador, sem qualquer noção do que seja um ordenado certo ao final do mês e aos cortes que a política de austeridade impõe no Estado Social. Enquanto isto, os gastos anuais do 1% mais rico da população são mais ou menos os mesmos, fazendo cálculos conservadores, do que aqueles que existiriam se o reino suportasse não uma dinastia mas 1100 famílias reais.
Assim existem envelhecidos e despojados bairros multiculturais vitorianos nos quais caixotes de doação de roupa se situam ao lado de caixotes do lixo. Mas também zonas de elite, rurais, como Whitney, em Costwolds, que costuma dar líderes conservadores ao país. Ai, há transporte gratuito para idosos, jogos de polo ao fim de semana e esplendorosas festas de sábado à noite. Por um (nada) estranho acaso precisamente aquelas festas em que Rebbeca Brooks, a editora do extinto diário populista conservador News of The World, criminosa condenada, se cruzava com frequência com David Cameron e até Ed Miliband...
Junte-se a isto o famoso gap geracional - aliás responsável pelo colapso dos Liberais Democratas - em que os mais novos se endividam até aos 40 anos para pagarem os seus estudos e são obrigados a viver com os pais ou em casas partilhadas, enquanto os mais velhos levaram, e ainda levam, vidas douradas.E no horizonte não se veem rosas: o novo primeiro-ministro ver-se-á obrigado a debelar um deficit comercial acumulado que é o maior da União Europeia (114 mil milhões de euros), um desequilíbrio das contas públicas de 5,5% do PIB e uma dívida em crescendo, de 70% do produto em 2010, para 90% em 2014. Por isso, conservadores e trabalhistas concordam na austeridade.
Nacionalismo e bem-estar
Assim, na política interna, o crescimento dos nacionalistas, imparável desde 1979 (ver caixa) é também alimentado pela destruição do Estado Social. Atente-se nas palavras de Leanne Wood, a líder galesa do Playd Cymru, para quem a austeridade não está baseada na responsabilidade orçamental mas antes no analfabetismo económico: "o Pais de Gales foi a chave para a construção do Estado de bem-estar britânico; agora teremos de começar a construir um Estado de bem-estar galês".
O país ameaça fragmentar-se de forma rancorosa, senão suicida. Os bons resultados do SNP, os nacionalistas escoceses, responsáveis pelo colapso anunciado do Labour na Escócia e pelo referendo que quase conseguiu acabar com o Reino em 2014 estão ai para o provar. Ou os dos independentistas ingleses UKIP, que querem acabar com a relação com a Europa até 2018. E na arena internacional, a "ilha mais poderosa do planeta", com colónias em todos os oceanos e até no Mediterrâneo, ainda membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, está em retração, consequência, também, dos cortes na defesa e na diplomacia. Depois das "aventuras criminosas" de Blair no Iraque, a apetência britânica para intervir no exterior é tão pouca que a sua participação na missão internacional contra o ISIS se limita a um voo por dia, realizado por um velho (1979) caça-bombardeiro Tornado.
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