"Só um tema poderia tirar a sociedade brasileira da mesquinharia que esse Congresso reacionário quer nos colocar. Só um tema poderia fazer o Brasil retomar uma agenda mais progressista. Só um tema poderia colocar sentado na mesma mesa dois ex-presidentes da República com a capacidade de interlocução que têm FHC e Lula. Só um tema não teria oposição da Rede Globo e nem da blogosfera progressista. Só um tema isolaria os facistas que defendem o Estado policial e negam os direitos humanos", argumenta Renato Rovai, na revista Fórum; este tema é a legalização da maconha
Há posicionamentos que claramente explicitam de que lado se está no espectro político. Alguns, independem do contexto histórico.
Não dá pra ser de esquerda e não defender justiça social. Isso vale para hoje ou pros tempos de Marx, Gramsci e Rosa Luxemburgo.
Não é de direita aquele que não defende de forma clara o Estado mínimo na economia. Vale pra hoje ou para os tempos de Hayek e Friedman.
É por isso que mesmo em momentos de embaralhamento de posições não é difícil saber o pito que o sujeito toca. Se ele começa falar muito em corte de impostos, liberalização da economia, Estado menor, diminuição do custo da mão de obra pra supostamente gerar empregos está mais para a direita.
Se ela ainda se mantém defendendo programas sociais para melhorar a qualidade de vida dos que estão no andar de baixo, investimentos do Estado para alavancar a economia nacional e resiste a cortes de direitos trabalhistas, pode-se dizer que é mais canhoto.
É claro que há muitos embusteiros por aí. E que se colocam como defensores de algo que não acreditam e nem praticam, mas a regra com suas exceções ajuda na classificação de lados.
Hoje, porém, não basta se posicionar apenas nesses macro contextos. É preciso ir além para afirmar e se firmar como referência moderna no debate.
FHC começou como um político de centro-esquerda e hoje está mais para alguém da direita clássica. Ou seja, defende na economia posições ortodoxas, mas tem abertura para dialogar sobre outros aspectos, como na defesa do direitos humanos, questões ambientais e legalização da maconha.
Essa direita clássica no Brasil está sendo encurralada pela direita de costumes. E isso não acontece só no Brasil. O Tea Party, por exemplo, está dando um suadouro danado nos republicanos mais civilizados.
O PSDB não sabe o que fazer com o MBL e os revoltados da vida. E acaba que escolhe o Coronel Telhada para a Comissão de Direitos Humanos da Alesp e deixa um José Gregori falando sozinho.
Lula surgiu não como uma liderança de esquerda, mas como um legítimo representante da classe trabalhadora. O peão do início dos anos 80 foi mudando aos poucos e em 89 fez uma campanha de esquerda.
Hoje, Lula é a maior liderança política do Brasil e seus posicionamentos passeiam pela centro-esquerda.
Recentemente ele deu declarações defendendo o debate para legalizar a maconha no Brasil.
Certamente Lula sabe o quão importante é esse seu posicionamento. E também deve saber que isso pode ser a prancha encontrada no mar depois de uma tsunami.
Só um tema poderia tirar a sociedade brasileira da mesquinharia que esse Congresso reacionário quer nos colocar. Só um tema poderia fazer o Brasil retomar uma agenda mais progressista. Só um tema poderia colocar sentado na mesma mesa dois ex-presidentes da República com a capacidade de interlocução que têm FHC e Lula. Só um tema não teria oposição da Rede Globo e nem da blogosfera progressista. Só um tema isolaria os facistas que defendem o Estado policial e negam os direitos humanos.
A defesa da legalização da maconha é o tema da vez. Ele tem um potencial de reposicionar as peças na política brasileira de uma forma civilizatória.
Ele faria com que Malafaia, Bolsonaro, Feliciano, Cunha e outros voltassem para o seu campo e o seu canto.
E articularia uma nova mesa de construção política entre aqueles que mesmo defendendo posicionamentos à direita ou à esquerda não estão querendo tornar o Brasil um país de fundamentalistas.
A luta pela legalização da maconha deveria ser o primeiro ponto de pauta dos que acreditam na democracia. Um pauta que nos levasse a marchar juntos com a juventude que vai hoje pras ruas defender essa posição. Uma pauta que tirasse o PT e parte do PSDB da mesquinharia política.
Poderia se construir uma palavra de ordem: maconheiros de todo o mundo uni-vos. E seria muita gente.
Mas é muito maior do que isso. É muito mais amplo que isso.
Defender a legalização da maconha ultrapassa a dimensão do uso da droga. É uma luta civilizatória. Que coloca de um lado aqueles que se locupletam com a proibição e gente que não tem ideia do quão isso é deletério para o seu dia a dia. E coloca do outro aqueles que a despeito de não quererem fazer a cabeça com qualquer tipo de alucinógeno sabem que um Estado democrático não se constrói com proibições. E perseguições.
Por fim, outro dia ouvi de uma das principais lideranças petistas numa conversa reservada que o risco de alguém morrer por maconha é só se um caminhão lotado com a droga o atropelar.
Pois é, mais um motivo para o PT ir conversar com FHC. E organizar uma frente ampla de defesa da legalização. Seria lindo. E renovaria a política no Brasil.
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