sábado, 16 de julho de 2016

Tudo o que a Europa não precisava era de um golpe na Turquia





Por: Rodrigo Lopes

15/07/2016 - 22h52min | Atualizada em 15/07/2016 - 22h54min




Nem nos piores pesadelos os líderes europeus imaginaram que, nesses dias turbulentos no continente, irromperia uma tentativa de golpe de Estado, como a que está em curso na Turquia. A crise que estourou nesta sexta-feira ocorre em meio ao momento mais frágil enfrentado pela União Europeia em muitos anos: uma turbulência política e econômica motivada pelo plebiscito em que o Reino Unido decidiu sair do bloco econômico; a ameaça do terrorismo, foram cinco atentados na Europa em um ano e meio e uma invasão de refugiados do Oriente Médio e da África.
A crise desta sexta-feira acaba por acabar com o sonho turco de integrar a UE, que sempre olhou para o país – o mais próximo que se pode dizer de uma convivência harmônica entre o Estado laico em uma nação muçulmana – com desconfiança. A Turquia pediu para integrar o bloco europeu pela primeira vez em 1987, mas só em 2005 foram iniciadas negociações formais para o ingresso na UE. Vários governos são contrários: entre eles a Alemanha, maior potência da região, que teme uma invasão de imigrantes turcos e uma islamização da Europa. A possível perda de postos de trabalho também assobra os países do bloco. Outra questão é geopolítica: a Turquia faz fronteira com o Iraque e a Síria, duas das nações mais perigosas do mundo.
Mesmo estando de fora da UE, quem caminha pelas ruas de Istambul - e tive a oportunidade de fazer isso duas vezes em maio deste ano - tem, em alguns momentos, a clara sensação de estar em uma cidade europeia. A Turquia é um importante membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a aliança militar ocidental, e, por sua posição estratégica, entreposto geográfico entre Oriente e Ocidente, é cortejada por Rússia e EUA. Uma das mais importantes bases americanas fica no país — Incirlik — e é chave para a coalizão que tem atacado o Estado Islâmico na Síria e no Iraque. 
A despeito de questões econômicas e políticas, o que sempre depôs contra a Turquia são as sucessivas violações de direitos humanos e a mão de ferro do presidente Recep Erdogan. A pá de cal vem agora com o rompimento institucional — a cláusula democrática é uma das principais do acordo europeu.

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