sábado, 9 de julho de 2016

Duas novas mortes de negros pela polícia reacendem os protestos nos Estados Unidos

Obama: “Todos nós norte-americanos devemos ficar profundamente preocupados”


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Nova York 

A morte violenta de dois homens negros pela polícia em apenas dois dias nos Estados Unidos, gravadas com telefone celular, acenderam novos protestos e agravaram a ferida racial do país e a desconfiança das minorias frente às forças policiais. Philando Castile e Alton Sterling deixaram este mundo para passar a fazer parte de uma estatística sangrenta que conseguiu sacudir a consciência nacional na sequência do chamado caso Ferguson, ocorrido há dois anos no Missouri, um incidente que levou a uma onda de indignação e a fortes manifestações.
Castile, um afro-americano de 32 anos de Falcon Heights (Minnesota), morreu na noite de quarta-feira abatido pelos disparos efetuados por um agente de polícia que havia o parado porque seu carro estava com uma luz traseira quebrada. No vídeo, que sua namorada transmitiu ao vivo, é possível ver o homem agonizando enquanto o policial continua apontando sua arma, e a mulher relata sua versão dos fatos. No dia anterior, Alton Sterling, um homem de 37 anos que vendia CDs em frente a um supermercado em Baton Rouge, Louisiana, foi morto por dois agentes que dispararam contra ele quando já havia sido detido.
O governador de Minnesota, Mark Dayton, telefonou para o chefe de Gabinete da Casa Branca, Dennis McDonough, para solicitar que o Departamento de Justiça abra “imediatamente” uma “investigação federal independente” sobre a morte de Castile, da mesma forma que foi feito no caso de Sterling. O agente envolvido, cuja identidade não foi revelada, foi suspenso do emprego, mas não de seu salário, enquanto se investiga o incidente, segundo o chefe de polícia de St. Anthony, Jon Mangseth.
Assusta no vídeo a serenidade, real ou fruto de choque, com que a mulher se queixa do que está acontecendo, ante um policial que, ele sim, está fora de si. “Porra! Disse para ele não pegar nada, disse para que ficasse com a cabeça alta”, grita o agente. A mulher responde com calma: “O senhor pediu que ele desse a carteira de identidade e a habilitação”, e continua: “Meu Deus, não me diz que meu namorado morreu, não me diz que ele se foi assim...”. O agente, que não abaixa a arma o tempo todo, insiste para que ela “mantenha as mãos onde estão”. “Vou manter, senhor”, diz ela, e, já quase soluçando, repete: “Não me diga que fez isso, senhor, disparou quatro tiros, e ele estava pegando sua identidade e sua habilitação”. Sua filha pequena presencia a cena do banco traseiro.
Nos Estados Unidos, da mesma forma em que se recomenda usar GPS ou ter um pneu reserva, há alguns conselhos habituais no caso de ser parado pela polícia na rua: nunca coloque as mãos no porta-luvas ou no bolso até receber permissão explícita, nunca saia do carro se não for solicitado e deixe as mãos visíveis no volante ou no painel o tempo todo. Porque no país mais rico do mundo, e também uma das sociedades desenvolvidas mais violentas, um policial nervoso pode se transformar em um problema muito sério. A proliferação de armas faz com que muitos policiais usem como argumento o medo de morrer no que poderiam ser inspeções de rotina.
O jornal The Guardian faz um levantamento das pessoas mortas pela polícia nos Estados Unidos em 2016: nesta madrugada a cifra passou de 560 para 561. A imensa maioria dos membros dessa lista é de afro-americanos e latinos. Em 2015, a contagem chegou a 1.146, a maior parte formada por negros. Essas mortes deram nome e força ao movimento As vidas negras importam (Black lives matters), e os eventos desta semana o colocam novamente no centro das atenções.
"Todos nós norte-americanos devemos estar profundamente preocupados" pelo ocorrido na Louisiana e em Minnesota, disse o presidente dos EUA, Barack Obama, em sua conta no Facebook, ainda lamentando que essas tragédias tenham sido vistas “vezes demais”. "Independentemente dos resultados dessas investigações, o que está claro é que esses disparos mortais não são incidentes isolados, mas sim uma mostra dos desafios do nosso sistema de Justiça penal, as disparidades raciais ano após ano, e a conseguinte falta de confiança que existe entre as forças da lei e muitas das comunidades que atendem”, afirmou.
Obama deixará a Presidência em novembro sem resolver o problema das armas de fogo e a frequência dos abusos policiais no país, dois problemas com os quais também se encontrará o futuro morador da Casa Branca, seja Hillary Clinton ou seja Donald Trump.
A desconfiança entre a comunidade negra e as forças policiais é uma antiga cicatriz dos Estados Unidos, um problema não resolvido no trauma racial do país, mas a revolução digital, com telefones com câmera que podem difundir as histórias globalmente e no mesmo instante, tornou os problemas visíveis aos olhos do mundo todo.

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