domingo, 17 de julho de 2016

As férias sonhadas (pelos cachorros)

O auge dos hotéis para animais de estimação é o contraponto ao abandono


Um golden retriever. PABLO MEDIAVILLA

David Fernández de Mera conhece pelo nome os mais de 40 cachorros que estão hospedados no hotel que começou a construir oito anos atrás nos arredores de Almorox, Toledo. A enorme fazenda, no campo, conta com várias suítes, um pátio de jogos e adestramento, parques, câmeras de segurança no perímetro e até uma área para os cachorros com uma piscina em forma de coração. “Temos que dizer não a muita a gente hoje. Talvez haja algum dia livre, mas estamos até o pescoço”, diz David.


Na Espanha há 20 milhões de mascotes (no Brasil, são 52 milhões de cachorros), e o negócio ligado ao cuidado deles está em expansão, ainda que distante dos números de outros países da União Europeia. As necessidades dos clientes são variadas, desde os que os deixam durante suas férias até os que fazem uso diário desse tipo de instalação devido ao trabalho. David, com mais de duas décadas de experiência, fala sobre um costume menos conhecido: “cada vez mais clientes procuram férias para o cachorro, uma saída de sua rotina diária. Vamos buscá-los em casa, e eles ficam alguns dias aqui, correndo e brincando”.
No hotel há 40 quartos, todos com calefação para o inverno, para um máximo de 60 cachorros. Sete pessoas cuidam deles todos os dias, com alimentação personalizada e atendimento médico para os casos em que sejam necessários. Não ficam todos juntos. Há alguns mais problemáticos, que não podem ficar com os outros, e grupos de “amigos”, que não se separam. “A base do nosso dia a dia é a atividade, que os cães não parem de fazer coisas, que se divirtam e se cansem. Há pessoas que tratam seu mascote como se fosse um vaso”, afirma David.
Cada inquilino do Hotel Bestcan representa uma história particular de amor aos animais, como a de um cachorro resgatado por um dos clientes que, desde então, paga 300 euros (quase R$ 1.100) por mês para que ele tenha uma vida feliz. “Tinha sido atropelado, e tivemos que fazer muita reabilitação. Agora está perfeitamente bem. O cliente vem vê-lo de vez em quando e o leva no fim de semana.” Outra história é a de um amigo de David que comprou dois cachorros irmãos para acompanhar sua avó, com mal de Alzheimer. “Ficaram com ela, e o avanço foi brutal: alegrava-se, sorria, se mexia. Infelizmente, a mulher morreu pouco depois de ganhá-los, e seu neto os trouxe para cá porque não podia cuidar deles. Estão conosco há cinco anos.”
Um golden retriever está sentado na piscina que tem a sua disposição numa das suítes do hotel. Também conta com uma casinha só para ele e um terreno com cerca para separá-lo de seu vizinho, um pastor alemão que late sem parar. As teorias evolutivas sobre o cachorro dizem que todas as raças descendem dos primeiros lobos que começaram a descobrir que viver perto do homem era melhor que o confronto constante e as intempéries. O hotel de David e seus inquilinos mostram que não estavam errados.





Nenhum comentário:

Postar um comentário