terça-feira, 11 de agosto de 2015

Deixamos a base, mas não abandonamos Dilma, diz líder do PDT, berço político da presidente Adriano Brito Da BBC Brasil em São Paulo

André Figueiredo (PDT-CE) (Foto: Gustavo Lima/Ag. Câmara)
Segundo o líder do PDT na Câmara, André Figueiredo, impeachment de Dilma seria um "golpe branco"
Em meio à pior crise política da era Dilma Rousseff, o governo sofreu na semana a baixa oficial de duas siglas de sua base na Câmara dos Deputados – oficial porque, na prática, PTB e PDT já não vinham acompanhando o Planalto em votações importantes.
O caso do PDT, porém, é um pouco mais emblemático: a legenda é uma espécie de berço político da presidente. Uma das fundadoras do partido no Rio Grande do Sul, Dilma permaneceu nele por duas décadas, até se filiar, em 2000, ao PT. Participou, por exemplo, da campanha do símbolo maior do pedetismo, Leonel Brizola (1922-2004), à Presidência da República, em 1989.
Em entrevista à BBC Brasil, o deputado federal André Figueiredo, líder do PDT na Câmara, nega que partido esteja abandonando Dilma e diz que a bancada será "totalmente contra" um eventual pedido de impeachment da presidente, classificado por ele de "golpe branco".
Segundo o parlamentar cearense, o partido deixou a base por causa das "recorrentes" acusações de infidelidade feitas por líderes do governo. Entre elas, o voto contrário às medidas do ajuste fiscal, e o apoio, na semana passada, à emenda que equipara os salários de servidores da Advocacia-Geral da União e de delegados da Polícia Federal aos do Judiciário.
Confira os principais trechos da entrevista:
Manoel Dias, Carlos Lupi, Dilma e André Figueiredo (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)
Segundo o deputado (à dir.), o PDT, presidido por Carlos Lupi (ao centro) ainda vai discutir deixar cargos no governo Dilma, como o de ministro do Trabalho, nas mãos de Manoel Dias (à esq.)
BBC Brasil: Como a bancada do PDT chegou à decisão de deixar a base?
André Figueiredo: Estávamos em rota de colisão principalmente por causa da política econômica capitaneada pelo ministro Joaquim Levy. Privilegia o sistema financeiro em detrimento dos trabalhadores, aqueles que efetivamente produzem.
Fomos contra algumas medidas que o governo encaminhou para a Câmara, tentando enxugar gelo e tirando direitos dos trabalhadores.
Nessa PEC 443 (que trata dos salários da Advocacia-Geral da União, a AGU), anunciamos que votaríamos contra a retirada da pauta. E começou um clima de constrangimento porque o PDT cumpriu o que disse. Após o resultado, o líder do governo fez insinuações. Dissemos que não aceitávamos mais essa atitude desrespeitosa.
Olha, a única coisa que o PDT não é é infiel. Sempre avisou que, em qualquer assunto que atentasse contra os direitos dos trabalhadores, votaríamos contra.
BBC Brasil: As medidas do ajuste fiscal têm ocorrido desde o início do ano, e também as acusações de infidelidade. Por que sair agora?
Figueiredo: Nas medidas anteriores nós já votamos contra. Isso gerou ranços por parte de quem faz a liderança do governo na Câmara. Não apenas o líder, mas também os vice-líderes, que insistentemente disseram que partido que tem ministério não pode votar contra o governo.
Sempre dissemos que ministério está à disposição, nunca fomos ao governo por cargos. Não deixamos de ser base mais pela responsabilidade que temos com a governabilidade.
Tomamos essa decisão porque sempre se coloca que o Congresso é responsável pelas pautas-bomba. Para nós, o responsável mesmo pelo desajuste fiscal é o Conselho Monetário do Banco Central, que fica aumentando em cada reunião meio ponto na taxa Selic.
Ninguém alardeia que meio ponto na taxa Selic representa, por baixo, R$ 12,5 bilhões a mais na dívida. Mas se quer economizar R$ 1 bilhão (evitando o aumento na AGU), e quando se vota contra é o fim dos tempos.
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy (Foto: Lucio Bernardo Jr./Ag. Câmara)
Medidas do ajuste fiscal que envolveram alterações em direitos trabalhistas desagradou o PDT
BBC Brasil: O senhor diz que o PDT não deixou a base antes por uma questão de governabilidade. Isso não seria mais importante agora?
Figueiredo: Saímos da base por estarmos constantemente sendo desrespeitados. Mas não significa que estamos indo para a oposição. Não fazemos parte, principalmente, de setores da oposição que consideramos golpistas, que querem realmente desestabilizar o governo.
Vamos atuar de forma independente. Estamos contatando outros partidos que já atuam dessa forma, como o PV e talvez o PSB, para fazer um terceiro bloco de partidos que pensam o Brasil acima de qualquer interesse partidário ou governamental.
Estamos trabalhando com a perspectiva de votarmos contra aquilo que for contra os nossos princípios, como temos feito até agora.
BBC Brasil: O PDT é parceiro do governo desde a era Lula, que era próximo ao Brizola. E Dilma é uma das fundadoras do partido. Não temem serem vistos como um aliado que abandona o navio no momento mais difícil?
Figueiredo: Não, de forma alguma. Primeiro porque, por mais que tivesse apoiado o Lula no segundo turno das eleições de 2002, o PDT rompeu com o primeiro governo dele. Lançamos uma candidatura em 2006, com o senador Cristovam Buarque.
Não estamos abandonando a Dilma, de forma alguma. Estamos migrando, dentro do Parlamento, para uma posição de independência, que pode inclusive ser mais benéfica. Às vezes uma base subserviente nem sempre é interessante para que o governo, digamos assim, aprume o seu rumo.
Estivemos com a presidente no jantar da última segunda (dia 3). Ela estava extremamente serena e confiante de que vai superar essa crise.
Consideramos que ela tem todo o conhecimento técnico, mas infelizmente está refém de uma política econômica ortodoxa que é determinada pelo sistema financeiro nacional e internacional, e ambém de alguns partidos que infelizmente não são condizentes com a boa política, com a política com “P” maiúsculo.
BBC Brasil: Está se referindo ao PMDB ou a algum outro partido?
Figueiredo: Não estou me referindo a nenhum partido... evidentemente que tanto a análise política como o cidadão brasileiro sabem quais são esses partidos. Não vou nominar.
Câmara discute PEC 443 (Foto: Nilson Bastian/Ag. Câmara)
Câmara aprovou emenda que equipara salários da AGU e de delegados da PF com os do Judiciário
BBC Brasil: A bancada não acha contraditório o partido de deixar com o governo e ter cargos na gestão?
Figueiredo: Não. Esse apenas foi um primeiro passo e lógico que nós não ficaremos por aí. Não cabe à bancada do PDT dizer que o partido deve entregar cargo A ou cargo B. Cabe à direção nacional. E esse é um passo que evidentemente vai ser ainda discutido internamente.
BBC Brasil: Como a bancada vê um eventual pedido de impeachment?
Figueiredo: Achamos que é um golpe branco, somos totalmente contrários. O trabalhismo já foi vítima de movimentos semelhantes. A presidente não tem nada que a incrimine, nada que possa ser imputado como crime de responsabilidade.
Podem haver críticas políticas, que são legítimas. Mas impeachment consideramos um golpe, esperamos que o Brasil não avance para esse rumo. Seria muito ruim para a democracia.
BBC Brasil: O PDT rompeu com Levy, e não com a Dilma. É isso?
Figueiredo: Com ele, desde muito tempo. Não há nenhuma possibilidade de apoiarmos medidas que são oriundas dessa política ortodoxa. Estamos batendo muito na política econômica. Mas não é toda a equipe. Temos total confiança na capacidade de diálogo, por exemplo, do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa.
Temos a certeza de que o Brasil pode sim, até mesmo dentro da atual equipe econômica, mudar o rumo. Agora é preciso ter uma decisão política nesse sentido.
BBC Brasil: Dilma pode contar com o apoio do PDT em caso de processo de impeachment?
Figueiredo: Nós seremos contra o impeachment e denunciaremos isso em todos os momentos.

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