quinta-feira, 2 de abril de 2015

Filha de refugiados da ex-URSS, aluna no Rio é aprovada em Harvard Nascida na Geórgia, Mariam Topeshashvili veio para o Brasil em 2001. Pai precisou vender cerveja na praia de Copacabana para sustentar família.

Mariam Topeshashvili, de 18 anos, veio ainda criança da Georgia para o Rio (Foto: Gabriel Barreira/G1)Mariam Topeshashvili, de 18 anos, veio ainda criança da Georgia para o Rio (Foto: Gabriel Barreira/G1)
Mariam Topeshashvili tinha quatro anos quando precisou sair às pressas com os pais de Tbilisi, capital da Geórgia, em meio a uma guerra civil que assolou a antiga república da União Soviética na década de 90 e início dos anos 2000. Mariam e os pais seguiram para a Turquia e, de lá, vieram para o Brasil como refugiados políticos.
Chegaram ao Rio de Janeiro sem saber falar uma palavra em português e foram morar na comunidade Tabajaras, na Zona Sul. Mariam viu o pai, formado em ciência política e economia, ter o diploma recusado no Brasil e ser obrigado a vender cerveja na praia de Copacabana, tendo de se virar com o português. A mãe, enfermeira, levou dois anos para conseguir um emprego como guia de turismo.
Mariam, por sua vez, estudou, estudou, estudou, e na noite desta terça-feira (31) recebeu a notícia de sua aprovação na renomada Universidade Harvard, nos Estados Unidos, com bolsa integral.
A jovem de 18 anos quer estudar ciências políticas em Harvard. Mariam é apaixonada por assuntos relacionados a política e economia, faz uma série de trabalhos voluntários e espera no futuro exercer um papel importante na área humanitária.
Brasileira naturalizada
Mariam estudou no Colégio Pedro II e foi aprovada na Universidade Harvard, nos Estados Unidos (Foto: Gabriel Barreira/G1)Mariam estudou no Colégio Pedro II e foi aprovada na Universidade Harvard, nos Estados Unidos (Foto: Gabriel Barreira/G1)
Por ter chegado ao Brasil com menos de 5 anos de idade, Mariam conseguiu naturalizar-se brasileira. Além de falar um português perfeito, com legítimo sotaque carioca, Mariam domina ainda outros cinco idiomas. Tudo graças aos pais, que lhe ensinaram a importância de aprender e o amor pela leitura.
A estudante lamenta não poder dividir esta conquista com seu pai, Avitandil, que morreu de câncer em 2008. "A gente tinha acabado de conseguir uma situação financeira estável", explica Mariam.
Ela conta que a família foi muito bem recebida na comunidade Tabajaras, em 2001. A família teve o apoio inicial do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) para deixar a Geórgia e vir ao Brasil. Os moradores ensinaram os Topeshashvili como funciona a burocracia e a sociedade brasileira e ajudaram o pai a se tornar um vendedor ambulante.
Ela estudou no Colégio Pedro II, uma escola pública federal de prestígio no Rio. Participou de olimpíadas de matemática, química e história. No ensino médio, criou o projeto SER Voluntário, com três amigas, para fazer a ponte entre jovens que, como ela, querem fazer trabalhos sociais, mas não sabem como começar, e as instituições que precisam dessa ajuda."A gente recebia uma pequena ajuda da ONU, mas meus pais precisavam se virar porque os diplomas deles não foram aceitos aqui. Meu pai fez muito sacrifício para que eu pudesse estudar. Meu pai deixou de fazer o que ele gosta para investir nos meus estudos. Foi ele quem me ensinou tudo o que eu sei de política", orgulha-se Mariam.

"Faço leitura de livros para deficientes visuais. Aprendi também com meu pai, que adorava ler para mim", conta.
Mariam Topeshashvili, de 18 anos, veio criança da Georgia para o Rio (Foto: Arquivo pessoal/Mariam Topeshashvili)Mariam Topeshashvili foi aceita no programa Jovens Embaixadores, do governo dos Estados Unidos
(Foto: Arquivo pessoal/Mariam Topeshashvili)
No ano passado, Mariam foi uma das estudantes escolhidas no projeto Jovens Embaixadores, do governo dos Estados Unidos. Viajou para a América do Norte, visitou universidades e foi até a Finlândia.
A jovem ganhou o auxílio da Fundação Estudar e da EducationUSA para fazer o "application", o formulário de inscrição para concorrer a vagas nas universidades norte-americanas. Passou em Yale (nos campus dos EUA e de Cingapura), Duke e mais duas universidades até receber a resposta positiva de Harvard.
Mariam quer fazer da sua experiência de vida uma ferramenta para ajudar outras pessoas que vierem a passar pelo que ela e seus pais passaram. "Meu objetivo agora é, depois de me formar, criar uma ONG para ajudar refugiados que chegam a um país", diz.
Mateus Bezrutchka e Gustavo Torres Silva também foram aceitos em Harvard (Foto: Arquivo pessoal/IOI2014/Victor Moriyama/G1)Mateus Bezrutchka e Gustavo Torres Silva também
foram aceitos em Harvard (Foto: Arquivo pessoal/
IOI2014/Victor Moriyama/G1)
Mais dois aprovados
Além de Mariam, outros dois estudantes brasileiros, Gustavo Torres Silva, morador do bairro do Capão Redondo, em São Paulo, e Mateus Bezrutchka, de Taboão da Serra, na Grande São Paulo, também foram aceitos em Harvard.
Eles já tinham sido aprovados no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Gustavo já tinha passado também na Universidade Stanford. Mateus também passou na Universidade Columbia. Os jovens brasileiros vão conhecer as universidades nas próximas semanas até definir onde vão estudar.

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