Cinquenta e um por cento dos brasileiros sofrem de sobrepeso. Curiosamente, também o Governo da presidenta Dilma Rousseffsofre do mesmo problema: metade dos ministros está sobrando, enquanto o país ainda precisa de mais e melhores hospitais e escolas. E oito milhões de moradias.
Hoje, só três países importantes têm dois ou três ministros a mais que o Brasil. Todos outros têm menos da metade.
Uma das reivindicações apresentadas pelos diferentes grupos que organizaram as manifestações no Brasil é a diminuição pela metade do atual número de ministros.
O Brasil tem, de fato, 39 ministros, contra, por exemplo, os 14 da Alemanha, o país mais rico da União Europeia. Ou contra os 15 dos EUA, a maior potência mundial, que conta com 24 ministros a menos que o Brasil. Ou contra os 16 da França ou os 18 da Itália. Até a Venezuela com seus 32 ministros fica abaixo, assim como o México com 19, o Chile com 18, a Colômbia com 16 ou a Argentina com 13.
O que à primeira vista poderia ser visto como algo positivo, revela-se um impedimento não só em relação ao gasto público que isso representa, mas também à eficiência da gestão.Entre os poucos países que têm dois ou três ministros a mais que o Brasil figuram a Índia, o Canadá e a China, enquanto a Itália e a França juntas contam com cinco a menos que o Brasil.
Segundo o austríaco Meter Drucker, um dos maiores especialistas mundiais do ramo, o número ideal de ministros para a gestão eficaz de um governo seria pouco mais de dez, no máximo 20. Isso significa que o Brasil tem 29 ministros a mais que o ideal e 19 a mais que o máximo de 20, cifra considerada o limite para assegurar tanto a efetividade da gestão, como a possibilidade de o presidente ou o primeiro-ministro manter com eles um diálogo permanente.
De fato, a grande maioria dos países mais importantes e prósperos do mundo e inclusive da América Latina não chega aos 20 ministros. Usando uma expressão de Lula se poderia dizer que “nunca este país” teve tantos ministros. E, no entanto, esse recorde acaba se revelando negativo já que, além de ser difícil, quase impossível, que esses 39 ministros possam manter uma relação pessoal e constante com o presidente, impede que possam ser grandes personalidades como exigiriam desses responsáveis os campos estratégicos da administração pública nacional.
Quantos desses 39 ministros têm seus nomes conhecidos pelos brasileiros? Quantos deles são conhecidos fora do país, inclusive nas chancelarias internacionais? Quantos possuem um currículo de peso? Quantos dominam outras línguas ou são especialistas na matéria de seus respectivos ministérios?
Lembro que ao tomar posse como ministro da Pesca, o evangélico Marcello Crivella agradeceu à presidenta Dilma Rousseff a confiança depositada nele, mas, em tom de brincadeira, lembrou que não sabia nem “colocar minhoca no anzol”. Tal como são concebidos os motivos para nomear os ministros no Brasil, essa total falta de experiência de Crivella tinha pouca importância. Quanto sabe de pesca Ideli Salvati, que também foi ministra dos habitantes de mares e rios? Foi também de Relações Internacionais e até de Direitos Humanos, ou seja um gênio de multifacetada sabedoria.
Quantos dos 39 ministros são, na realidade, não digo gênios, mas pelo menos especialistas em sua matéria?
Qual é o gasto inútil da burocracia engendrada em Brasília por esse esbanjamento de ministérios? Quantos hospitais e escolas, quantas casas populares poderiam ser erguidas com essa extravagância ministerial?
O problema de fundo da política federal do Brasil é que os ministros quase nunca são escolhidos procurando o melhor do lugar em sua especialidade, seus nomes são apresentados pelos partidos por interesses de poder interno do grupo, mais que por critérios de biografia.
Tal como funciona neste país a política de um parlamentarismo camuflado de presidencialismo, esse número exorbitante de ministros, dos maiores do mundo, serve só para distribuir cargos e benesses a uma base de partidos que apoiam o Governo em troca de interesses bem concretos.
O Brasil tem hoje representados no parlamento mais partidos ávidos de cargos que a metade dos partidos europeus juntos. Sua drástica diminuição deveria ser o primeiro artigo da nova reforma eleitoral.
Comenta-se muito a dificuldade da presidenta Dilma de ter um diálogo tranquilo e permanente com todos e cada um de seus ministros. Deixando de lado a possível dificuldade de caráter centralista da presidenta, que resiste em delegar funções, e seus problemas de temperamento que a tornariam alérgica a dialogar com os ministros, não resta dúvida de que até o presidente mais aberto ao diálogo teria dificuldade em manter uma relação eficaz e contínua com esse exército de ministros mais preocupados, muitas vezes, em contentar e lubrificar seus respectivos partidos de origem que em levar a cabo um eficiente trabalho político no campo que lhe foi confiado.
Argumenta-se que a economia de gasto público resultante da redução dos ministérios pela metade não resolveria a atual crise econômica. Sem dúvida, mas há gestos simbólicos que podem ter uma grande força de recuperação e de confissão dos próprios erros.
Todo esbanjamento pode ser combatido só com uma nova austeridade, que deve começar por quem tem maior responsabilidade na gestão da República.
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