Vanderlei Luxemburgo protagonizou nesta sexta-feira provavelmente uma das principais cenas do ano do futebol brasileiro. Cobrindo sua boca com um esparadrapo, o treinador passou sua mensagem de protesto contra os cartolas que ocupam a Federação Carioca, com quem o Flamengo vem brigando desde o início do ano.
O comandante do time rubro-negro ganhou apoio de toda a diretoria e também de milhares de pessoas nas redes sociais. Torcedores até criaram uma hashtag para a ação do técnico: #FechadocomoLuxa.
Para quem conhece o passado de Vanderlei, a atitude não surpreendeu.
Nome de revolucionária, filho de comunistas, neto de um exilado da ditadura militar, amigo de Luiz Inácio Lula da Silva, filiado ao Partido dos Trabalhadores e até pré-candidato ao Senado. Essas são algumas das influências políticas que Luxa teve em seus 52 anos de vida.
"Eu peguei pouco daquela ditadura, mas ainda peguei um pouco, tive avô perseguido, exilado, minha mãe era fã de Rosa Luxemburgo, vivemos muitos problemas em casa - disse o treinador em coletiva de imprensa de 2007, quando estava no Santos, sobre o regime militar implantado no Brasil em 1964.
Seu sobrenome, conhecido internacionalmente, foi, na verdade, uma homenagem. Seu avô, um ferroviário sindicalista que lutou pela democracia no país e também pela construção do socialismo, colocou o nome de sua filha, mãe do técnico, de Rosa Luxemburgo.
Rosa Luxemburgo foi uma revolucionária nascida na Polônia, em uma época que o país fazia parte do Império Russo, seguidora do marxismo, e uma das fundadoras do que seria mais tarde o Partido Comunista Alemão. Foi assassinada em 1919, em Berlim, no meio da onda transformadora que assolava a Europa - 1917 foi a data histórica da Revolução Russa, que gerou lutas em outros diversos países do continente.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, em 2009, o técnico falou sobre a sua filiação ao PT e sobre sua amizade com Lula.
"Sempre me identifiquei com coisas que o PT fazia, mas achava o partido radical. Passou a ser mais moderado e se encaixa mais com a minha cabeça, com o meu pensamento político-ideológico. Tenho amizade com o Lula, que foi o petista que mais evoluiu. Se você pegar o Lula de anos atrás e pegar o de hoje, verá que evoluiu na ideologia. Algumas coisas que fazia com radicalismo no partido foram mudando. Isso mostra que o PT evoluiu", afirmou à época.
De acordo com amigos e assessores do técnico, durante o mandato de Luiz Inácio, Luxa chegou a ir dormir na Alvorada, casa oficial do Presidente da República, em Brasília, a convite do corintiano Lula, demonstração do respeito e da amizade que havia entre os dois naquela época.
Logo depois tentou a candidatura ao Senado, por Tocantins, mas esbarrou na legislação eleitoral. Ele tentou pedir domicílio eleitoral no estado, mas a Justiça não concedeu. Dois anos depois, inclusive, foi condenado por ter tentado a manobra, já que nunca morou lá.
Na coletiva desta sexta, aproveitou o momento de protesto para deixar uma mensagem mais genérica, para além do futebol carioca, reflexo do seu passado e, quem sabe, do seu futuro político.
"Vou continuar buscando viver em um país melhor e que minhas filhas e meus netos encontrem um processo democrático ainda melhor", se posicionou.
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