Jornal Charlie Hebdo já havia sido atacado por charge de Maomé
Semanário satirizava todas as religiões em charges.
Ataque a sede da publicação deixou 12 mortos nesta quarta-feira (7).
O semanário francês "Charlie Hebdo" foi alvo nesta quarta-feira (7) de um ataque de homens armados que deixou 12 mortos - 10 funcionários do jornal e dois policiais. A publicação já havia sido atacada em 2011, após ter publicado charges do profeta do islamismo, Maomé.
Em novembro daquele ano, uma bomba incendiária foi jogada no escritório da publicação, no 11e arrondissement, em Paris. Não houve vítimas e ninguém assumiu responsabilidade pelo ataque, que aconteceu horas antes da edição do "Charlie Hebdo" chegar às bancas com uma tirinha na capa de Maomé e um balão de discurso que dizia "100 chicotadas se você não morrer de rir".
O semanário, conhecido por seu tratamento irreverente a questões políticas e figuras religiosas, trazia o título "Charia Hebdo", em referência à lei muçulmana sharia, e disse que a edição daquela semana tinha como editor convidado Maomé.
Um dia depois do ataque de 2011, o jornal reproduziu o desenho com outras caricaturas em um suplemento especial distribuído junto com um dos principais jornais do país. A "Charlie Hebdo" defendeu 'a liberdade de tirar sarro' no suplemento de quatro páginas que foi embrulhado em volta das cópias do jornal diário de esquerda "Liberatión".
Em 2006, muitos muçulmanos se irritaram com o fato de a publicação ter reimpresso as charges do profeta originalmente publicadas no jornal dinamarquês Jyllands-Posten. Na época, a polícia teve de ser mobilizada para proteger a redação.
Segundo a BBC, o editor-chefe da publicação, Stephane Charbonnier, morto no ataque, já havia recebido ameaças de morte e andava com guarda-costas há três anos.
A Charlie Hebdo foi fundada em 1970, quando substituiu 'Hara Kiri', semanário que reivindicava seu tom 'estúpido e malvado', fundado por Cavanna - falecido no ano passado - e Georges Bernier.
A linha inicial era anticlerical e denunciava a ordem burguesa, mas buscava, principalmente, fazer seus leitores rirem com um humor corrosivo implacável.
Em 1970, misturando o drama de uma discoteca no qual 146 pessoas morreram com o falecimento de Charles De Gaulle, o jornal intitulou 'Baile trágico em Colombey (a localidade onde o general morreu): um morto'. O governo proibiu imediatamente a difusão da Hara Kiri.
A redação optou, então, por uma nova fórmula editorial que combinava quadrinhos com posições parecidas com as da Hara Kiri, mas sob um novo título, Charlie Hebdo, em referência a Charlie Brown, o Charlie dos Peanuts, as famosas tirinhas americanas de Charles Schulz.
Em sua longa história choveram julgamentos por difamação. Os processos da Igreja, de empresários, ministros ou famosos que eram alvo permanente de suas sátiras acabaram derrubando uma publicação que em 1981, ano da eleição do socialista François Mitterrand, havia perdido muitos leitores.
Passaram-se 11 anos antes que Charlie Hebdo voltasse a ser publicado, em 1992. Desde então, o jornal abriu suas colunas aos melhores cartunistas irreverentes da França, de Wolinski a Cabu, ambos mortos no atentado.
O número de 2006 que havia reproduzido as caricaturas da imprensa dinamarquesa alcançou um recorde de vendas de 400.000 exemplares. Até o dia do atentado, o jornal, que passava por dificuldades financeiras, publicava semanalmente cerca de 30.000 exemplares.
Direito de zombar
"Pensamos que as linhas haviam mudado e que talvez houvesse mais respeito pelo nosso trabalho de sátira, nosso direito de zombar. A liberdade de dar uma boa risada é tão importante quanto a liberdade de expressão", afirmou na época o editor do Hebdo, Stephane Charbonnier, no suplemento do "Liberatión".
"Pensamos que as linhas haviam mudado e que talvez houvesse mais respeito pelo nosso trabalho de sátira, nosso direito de zombar. A liberdade de dar uma boa risada é tão importante quanto a liberdade de expressão", afirmou na época o editor do Hebdo, Stephane Charbonnier, no suplemento do "Liberatión".
O jornal publicou charges com o profeta em outras ocasiões, inclusive alguns em que era representado em poses pornográficas, segundo o jornal britânico "The Guardian", que também cita um cartoon com referência ao grupo jihadista Estado Islâmico. No desenho, publicado em outubro, um militante jihadista mascarado aparece cortando a garganta de um homem ajoelhado, que diz "Eu sou o profeta, seu bruto". O decapitador responde: "Cale a sua boca, seu infiel".
Muitos muçulmanos acreditam que qualquer representação de Maomé é ofensiva. Em 2005, a publicação de charges de Maomé em um jornal dinamarquês provocou revolta no mundo muçulmano, na qual pelo menos 50 pessoas foram mortas.
Muitos muçulmanos acreditam que qualquer representação de Maomé é ofensiva. Em 2005, a publicação de charges de Maomé em um jornal dinamarquês provocou revolta no mundo muçulmano, na qual pelo menos 50 pessoas foram mortas.
A França tem a maior comunidade muçulmana da Europa, com cerca de cinco milhões em uma população total de 65 milhões. O país tem uma profunda tradição de secularismo oficial e neste ano adotou uma proibição às mulheres vestindo véus que cobriam o rosto em público, que está sendo contestada no tribunal.
Com AFP
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