terça-feira, 27 de setembro de 2016

Temer em nova crise ministerial agora com o tucano Moraes

O presidente golpista Michel Temer não ficou nada feliz com as declarações dadas por seu ministro da Justiça Alexandre de Moraes, que disse ontem que estava por vir novas surpresas na operação Lava Jato, dando a entender que o governo tem acesso à informações a respeito da operação. Temer não gostou dessa declaração pois ela fortalece ainda mais a hipótese de que a operação tem sido utilizada politicamente pelo governo golpista. Essa hipótese se aproxima cada vez mais de deixar de ser uma hipótese quando hoje pela manhã, no dia seguinte à declaração de Moraes, o petista ex-ministro dos governos Lula e Dilma, Antonio Palocci foi preso.
Belo Horizonte
terça-feira 27 de setembro| Edição do dia












Temer ligou ainda ontem para Moraes, logo após sua declaração que foi feita em uma atividade de campanha eleitoral em Ribeirão Preto, para discutir sobre sua “bola fora” e marcar uma reunião com o ministro. A reunião deveria ter acontecido na tarde dessa segunda, mas foi remarcada para terça, 27, pois Moraes não estava em Brasília. Porém, segundo a agenda do ministro, não consta nenhuma reunião com Temer para terça.
De acordo com interlocutores do presidente, "pegou muito mal" a declaração de Moraes por diversas razões e por isso Temer o convocou para essa reunião. A negativa para a reunião também não foi vista com bons olhos pelo Planalto. Interlocutores do presidente confirmaram que a conversa ficou para amanhã.
Além de trazer para "o colo do governo" um suposto vazamento de operação, a fala de Moraes amplia a crise de comunicação já existente, que motiva inclusive Temer a tentar "importar" reforços do MBL e outros movimentos da direita. Na conversa, Temer quer pedir mais cuidado, cobrar explicações e também alertar o ministro que é preciso ter cautela em participação em campanhas eleitorais. "Ele falar demais em campanha é outro fator complicador e o presidente fará recomendações neste sentido", disse uma fonte. Não faltam especulações que Temer gostaria de demitir Moraes, mas isso implica em outras contradições, com o tucanato, que trataremos mais abaixo.
O fato de envolver a Lava Jato, segundo interlocutores, deixa Temer em uma situação delicada já que o governo tem sido acusado de usar politicamente a Operação. "Isso desagradou ainda mais o presidente", disse um interlocutor.
Crise com o judiciário
A fala de Moraes atinge a imagem de imparcialidade e sacralidade da Lava Jato. Do alto do pedestal vitorioso do tucanato, que está relativamente bem na campanha eleitoral, e conseguindo pressionar Temer a contento, Moraes falou o que não podia falar. Evidente que o tucanato tem conhecimento de diversas operações de antemão, tal como tem a mídia que "prevê" movimentos, não só para estar a postos e filmar mas em matérias, editoriais.
Essa imagem somada a crescente visão da parcialidade da operação deve redundar em maior rigor, mesmo que seja só para "mostrar serviço", contra o PMDB e, quem sabe até mesmo o PSDB o que implicará em maiores riscos para Temer. Daí que para aplacar futuras "iras" do judiciário talvez fosse útil a Temer se livrar de Moraes. Avaliamos nesse outro artigo as complicações e possíveis consequências do dia de hoje quanto ao poder judiciário e à Lava Jato.
A difícil relação com o tucanato, aliado e adversário de primeira hora
Para entrar no governo o tucanato demandou uma série de medidas e ainda a promessa de não tentativa de reeleição por parte de Temer. No dia votação do impeachment no Senado, o líder tucano naquela casa, Cássio Cunha Lima e o líder do governo o também tucano Aloysio Nunes ameaçaram romper com o governo devido a votação de parte do PMDB em não punir Dilma ("não dar um coice em quem já foi derrubado, nos dizeres de Renan). Depois disso, contida a onda de ruptura foi a vez de Aécio levantar o tom, se a reforma da previdência não for entregue essa semana reavaliará a relação com o governo Temer.
No encaixe difícil de um governo pressionado pela Lava Jato e as intermináveis citações de PMDBistas envolvidos, entre o tucanato, a mídia e empresário demandando ataques já, e, por outro lado, crescente descrédito popular de seu governo, Temer tem uma encruzilhada quando se trata de mexer em algum tucano. Estaria ele precipitando a ruptura de alguma ala com seu governo? E se isso ganhar força pode ele sobreviver, ou o PSDB com sua maior influência e relação com os partidos da mídia e judiciário podem acelerar seu desfecho? Por outro lado nada fazer também terá seus custos perante a opinião pública e com o próprio judiciário.
O relacionamento entre o governo golpista, seus ministros corruptos e a nada neutra Lava-Jato
Alexandre de Moraes é o quarto ministro desde que se aprovou a abertura do processo de impeachment no Senado em maio que protagonizou polêmicas ligadas ao governo e à operação. Os outros três se afastaram do cargo assim que que os escândalos vieram à tona.
O primeiro e mais emblemático foi o senador Romero Jucá, investigado na operação e que pediu exoneração após o vazamento de áudios em que sugeria um “pacto” contra a operação, que incluía o avanço do golpe institucional. Os outros dois foram então ministro da Transparência, Fabiano Silveira, que deixou o cargo em maio após a revelação de uma conversa na qual ele criticava a condução das investigações da Lava Jato pelo Ministério Público Federal; e Henrique Alves, ex-ministro do Turismo, investigado na Lava Jato e citado em delação premiada, que pediu exoneração após receber a informação de que investigadores haviam descoberto uma conta secreta dele na Suíça.
Será que agora, que se escancara cada vez mais a não neutralidade do Judiciário, como diversas vezes denunciamos aqui, Temer vai procurar dar uma cara imparcial ao seu governo golpista e usará Moraes como exemplo, afastando o ministro que não possui travas na língua? Ou o presidente golpista continuará com sua linha de blindar seus aliados e defenderá o ministro da Justiça para manter até o fim a defesa de que o governo não possui acesso às informação da Lava Jato e a mesma não está sendo utilizada politicamente em prol do governo golpista?
Nesses últimos dois dias já assistimos ao spoiler de Alexandre de Moraes e mais um episódio com muita convicção de prisão de petistas, enquanto os tucanos e a direita, mesmo com provas e nomes citados na mesma lista da Odebrecht que leva à prisão de Palocci, seguem livres e impunes. Sobram interesses de acertar o PT, para isso cresce a necessidade da Lava Jato recuperar sua aura de imparcialidade, o que exigirá denúncias mais generalizantes do que as atuais, todas focadas no PT. Aguardemos agora as cenas dos próximos capítulos de uma crise nacional que não se fechou com o impeachment.


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