26 de julho de 2016 às 6:00
Dizem que o oposto do amor é o medo ou a indiferença, não o ódio. Não sei se qualificaria como indiferença o sentimento que Fernando Gabeira nutre com relação aos javalis no programa denominado “Invasão de javalis destrói a agricultura na Serra da Mantiqueira”.
Mais uma vez, como na matéria em que defendeu de forma incondicional as vaquejadas [1], Gabeira usa sua voz mansa e pausada para dar continuidade à sua narrativa especista, unilateral e pretensamente técnica.
Aqui ele defende a matança dos javalis porque, segundo ele, esses animais são “pragas que invadiram o Brasil, destruindo lavouras e disseminando doenças como a febre aftosa. Também comem sementes, ninhos e animais pequenos, além de poluir rios e nascentes”.
Como em outras matérias jornalísticas também especistas [2], o cruento massacre de javalis foi totalmente naturalizado. Argumenta-se que tal prática é permitida pela legislação vigente porque os animais não pertencem à fauna brasileira – como se isso os destituísse da capacidade de sofrer – e por estarem destruindo plantações, como se eles tivessem discernimento para evitar propriedades privadas, ou distinguir entre uso sensato e destrutivo dos recursos naturais.
Como em outras matérias jornalísticas também especistas [2], o cruento massacre de javalis foi totalmente naturalizado. Argumenta-se que tal prática é permitida pela legislação vigente porque os animais não pertencem à fauna brasileira – como se isso os destituísse da capacidade de sofrer – e por estarem destruindo plantações, como se eles tivessem discernimento para evitar propriedades privadas, ou distinguir entre uso sensato e destrutivo dos recursos naturais.
Não, Gabeira, o fato de a prática ter amparo legal não a isenta de ser moralmente abominável. A reportagem, que não procurou contextualizar a origem do problema, poderia ter tomado um rumo um pouco menos tosco e raso no momento em que a bióloga Clarissa Rosa, entrevistada no programa, comenta que os javalis foram introduzidos no país.
Se não tivesse o propósito de marginalizar os animais, a fim de naturalizar seu extermínio, Gabeira [3] teria dedicado pelo menos uns minutos para esclarecer os telespectadores que tais animais não “invadiram o Brasil” com o objetivo precípuo de causar danos ao meio ambiente ou a lavouras, como se depreende de seu discurso inicial. Foram introduzidos pela espécie Homo sapiens!
Em sendo assim, a situação que se apresenta poderia ter sido evitada, primeiro, não criando/ introduzindo tais animais como “produtos”; segundo, responsabilizando de imediato os culpados pelas externalidades decorrentes de tal ato (criar seres sencientes como produtos!) que fere totalmente qualquer princípio ético tanto animalista, quanto de precaução.
O único controle populacional eticamente correto, uma vez criado o problema, é capturar, castrar e reintroduzir os animais na natureza, e/ou abrigá-los num santuário. No entanto, o expediente proposto para o controle populacional dos javalis é o pior possível: o extermínio. E no que toca a esse aspecto, transformar vítimas da ganância humana em criminosos é bastante conveniente.
Vejamos então o que é feito para “controlar” as populações desses seres tão inteligentes e sociáveis quanto os cães que, em casa, tratamos como membros de nossas famílias.Segundo a bióloga Clarissa Rosa, o curral é o método mais eficiente para pegar bandos inteiros, com faixas etárias variadas. Colocam-se iscas, aprisionam-se os animais e pronto: O tiro ao alvo está formado!
Metodologia de “abate” no caso em questão: flecha ou besta que, segundo ela, por ser arma branca, não precisa de licença do Exército e com isso há uma redução nos custos (sic)! Ainda segundo a bióloga, arco e flecha/besta têm também a vantagem de matarem silenciosamente (ao contrário de tiros que espantam e dispersam os animais). Segundo ela, isso estressa menos os animais!!!
A reportagem prossegue com Gabeira que elogia os javaporcos – um presente dos javalis para servir ao consumo humano – e afirma que os agricultores da região pediram sua ajuda para combater esse inimigo. Nas perguntas que faz a cada entrevistado que supostamente vai “ajudar”, Gabeira enfatiza o caráter destruidor e agressivo dos javalis, claramente dando o tom de onde quer chegar. Foi patético aquilatar (e fácil perceber) que, mesmo quando a pessoa entrevistada não expressava um juízo de valor negativo sobre os animais, Gabeira tomava providências para que ocorressem narrativas nesse sentido. Esse foi, por exemplo, o caso de um trecho do depoimento da dona de uma pousada que afirmou que os cães podiam ter seus focinhos arrancados pelos javalis.
Mas o que faria qualquer animal para salvar sua própria vida, Gabeira? Encurralados por cães de caça, amedrontados, feridos, mutilados…
Em nenhum momento da matéria se examina se a metodologia de baixo custo, tão enaltecida pela bióloga, cobra um alto preço em termos de sofrimento, embora isso tenha sido levantado no início do programa como uma preocupação. Gabeira se limita a fazer perguntas do tipo “quando matam os javalis, dá para comer? É possível vender a carne?”
Em nenhum momento da matéria se examina se a metodologia de baixo custo, tão enaltecida pela bióloga, cobra um alto preço em termos de sofrimento, embora isso tenha sido levantado no início do programa como uma preocupação. Gabeira se limita a fazer perguntas do tipo “quando matam os javalis, dá para comer? É possível vender a carne?”
Todavia, no que diz respeito ao calvário desses animais, a resposta está na própria reportagem. Ainda no início do programa aparece um matador, armado, olhando de cima um curral onde se encontram alguns animais acuados. Com a mesma frieza de um jogador de dardos num pub britânico, o atirador fere um indefeso filhote que agoniza diante das câmeras. A cena é dura.
Mas o pior ainda estava por vir. No fim da execrável matéria, Gabeira oferece uma aula de crueldade e covardia ao disponibilizar a cena dantesca de dois filhotes sendo alvejados por uma única flecha. O projétil atravessa o crânio do primeiro filhote e atinge a cabeça de outro – provavelmente seu irmão ou irmã – fazendo com que seus pequenos corpos estrebuchassem em agonia. A matéria sequer informa por quanto tempo suportaram tal sofrimento até falecerem. Mas não faltou nesse trecho um elogio ao atirador: alguém, às gargalhadas, comparou-o a Robin Hood!
A despeito de a matança ser legal, cabe a pergunta: a legislação brasileira tolera tal tratamento indigno sob a justificativa de tais animais serem exóticos? Em sua discreta fúria contra os animais, Gabeira sequer questiona tal fato.
No fim da matéria, a bióloga Clarissa Rosa comenta que se conseguirem efetuar um controle eficiente da população desses animais é possível que eles possam substituir funções ecológicas de espécies já extintas em alguns locais, como os queixadas. No universo de sua avaliação meramente “técnica”, a bióloga não tece qualquer comentário sobre o caráter cruento do assim chamado controle populacional que realizam, ou sobre possíveis alternativas.
No fim da matéria, a bióloga Clarissa Rosa comenta que se conseguirem efetuar um controle eficiente da população desses animais é possível que eles possam substituir funções ecológicas de espécies já extintas em alguns locais, como os queixadas. No universo de sua avaliação meramente “técnica”, a bióloga não tece qualquer comentário sobre o caráter cruento do assim chamado controle populacional que realizam, ou sobre possíveis alternativas.
Fico contente de pertencer a uma minoria de pessoas que está envelhecendo sem nunca ter se submetido a pensar “dentro de uma caixinha”. A educação adestradora deforma mental, ética e espiritualmente. Dentro dessa caixinha – ou zona de conforto dentro da qual as respostas para quaisquer situações já estão previamente elencadas – a banalização da chacina de tais animais é vista como um mal necessário (assim como a vivissecção!).
Antropocentrismo total. Sensibilidade zero. Esquizofrenia moral absoluta. Especismo seletivo à flor da pele. Visão instrumental ilimitada da vida. Triste mundo.Talvez a indiferença não seja o único fundamento do enfoque de Gabeira nesse caso. Penso que o desprezo, ou mesmo um ódio velado, expliquem melhor a origem de tamanha ausência de empatia diante da impiedosa execução desses inocentes.
Gabeira parece determinado em seguir sua estrada em prol da manutenção do preconceito especista. Felizmente também florescem, de forma pronunciada, as reações a essa postura. Depois que noticiamos nosso repúdio ao apoio dado por Gabeira às vaquejadas, inúmeras pessoas nos enviaram comentários sobre a atitude dele com relação a outras questões que envolvem os animais.
Um contato bastante interessante incluiu um texto de um jornal que transcrevemos abaixo. Ele mostra o posicionamento de Gabeira no que tange à famigerada farra do boi:
Matéria publicada em O Globo – 07 de abril de 1988 – PAG. 04.
A “FARRA DO BOI” EM SANTA CATARINA
Que é isso, Gabeira?
Há certas pessoas que são famosas por serem famosas. Não inventaram cura para doença alguma, não descobriram continentes, não compuseram um concerto, não pintaram quadros, não foram Prefeitos, Governadores nem Presidentes da República.
Fernando Gabeira é famoso. Famoso porque foi terrorista, seqüestrou um Embaixador americano, foi preso exilado e motorista de metrô na Suécia. Famoso porque voltou glorioso, sunga corpo-aberto no espaço, tensão saltitante de Juiz de Fora. Entre almoços no Restaurante Natural e uns cigarrinhos pra relaxar, escreveu livros contando sua brava jornada por outras terras, outros países, outras estações – que Catete, que Botafogo, que Carioca? -, estações suecas, nomes inimagináveis, difíceis de ler, impossíveis de escrever, como ousar tentar pronunciá-los?
Já nos tempos do CPC da UNE eu optava por um timido “dá licença?”, de preferência com o braço acenando curto a meio-mastro, em vez de um “questão de ordem, companheiro!” gritado de lá de trás da platéia. De modo que na Cinelândia, em frente ao Teatro Municipal, na segunda-feira da semana passada, numa demonstração contra a “Farra do Boi”, o que eu vi foram faixas. Faixas contra a “Farra do Boi”. Só que o Gabeira estava lá. Não sei por que, mas estava. Esteve. Rapidamente. Enquanto lá estiveram as câmeras de TV e os jornais. Depois saiu. E saiu dizendo que saía porque não concordava com algumas “palavras de ordem”. Eu não sei ler “palavras de ordem”. Sei ler faixas. No caso, faixas contra atrocidades cometidas contra o boi no litoral catarinense. Não é com semântica, com frases de efeito, ou com brilhos de reuniões intelectuais que se vai lutar contra um absurdo como a “Farra do Boi”.
Enfim, o Gabeira foi embora e nós ficamos. A Lya Cavalcanti, a Maria Lúcia Frota, a Nise da Silveira , eu. Ficamos e ouvimos gente da rua – cariocas, mineiros, catarinenses – todos revoltados com a “Farra do Boi”. Ficamos e mandamos para o Governador Pedro Ivo Campos, de Santa Catarina, milhares e milhares de assinaturas, abaixo-assinados, telegramas e cartas. De todo o Brasil. Finalmente uma causa uniu o povo brasileiro depois das saudosas Diretas-Já. Já não se pedia mais um diálogo. Já não se apelava mais para o “sentimentalismo”. Milhares de pessoas exigiam que o Governador Pedro Ivo Campos mantivesse a proibição da “Farra do Boi” (Decreto 24.645, de 10/07/34 art. 3º), ou fosse enquadrado como contraventor. Não tinha mais papo. Contraventor é contraventor. Por que não fazem a “Farra da mãe”?
E aí aconteceu o bonito. O lindo. No dia seguinte, os jornais anunciavam que estava proibida a “Farra do Boi”. O Governador Pedro Ivo proibiu e botou as polícias Civil e Militar no belo litoral catarinense para acabar com aquela antiga, tradicional e bárbara brincadeira.
Santa Catarina tem quatro milhões de duzentos mil habitantes. Destes, só doze mil são da região onde se educa crianças não só com o leite de vaca como também com sangue vivo de boi. E esses habitantes não gostaram da proibição. E reclamaram, e jogaram pedras, e feriram soldados, e choraram lágrimas amargas de frustração e de gás lacrimogêneo. E fim da “Farra”.
Só que aí, não se sabe por que, nem a convite de quem, chegou o Gabeira. Junto com o Fábio Feldman, do PMDB-SP. Foram dialogar com o povo. E o povo, coitadinho, disse que a “Farra do Boi” era uma brincadeira inocente, que eles não machucavam o boi coisa nenhuma, não vazavam olho nenhum, não serravam pata nenhuma. Que era tudo sensacionalismo da imprensa. Que as fotos eram retocadas. Tudo uma açoreana e inocente brincadeira. Então o Gabeira e o Fábio Feldman pontificaram que era impossível acabar com a “Farra do Boi” em uma semana. Que era preciso conscientizar o povo (coisa que as Sociedades Protetoras de Animais vêm tentando fazer desde 1925). E exigiram que o Governador Pedro Ivo voltasse outra vez atrás, e tornasse a permitir a “Farra” proibida um dia antes. E o povo ficou feliz, e agitou bandeirinhas vermelhas para uma vaquinha do Jornal Nacional, e começou tudo de novo. Tudo. Olhos vazados, pimenta, patas serradas, bombinhas de São João – que apropriado, afinal é Semana Santa!- em todos os orifícios do boi indefeso, e depois, um belo churrasco! Um boi custa CZ$ 8 mil. Na Semana Santa, em Santa Catarina, passa a valer, não sei como, de CZ$ 25 mil a CZ$ 50 mil. Será que os fazendeiros também estão gozando dos benefícios da Lei Sarney? “Eu te dou oito, você diz que recebeu 25, a gente racha e eu descarrego no meu Imposto de Renda”. “Farra do Boi” também é cultura.
A “Farra do Boi” existe, por sadismo, ignorância e crueldade há 200 anos. Não. Há 199 anos. Porque este ano ela existiu porque o Gabeira e o Feldman pediram. Em nome do povo.
Fernando Gabeira é famoso. Famoso porque foi terrorista, seqüestrou um Embaixador americano, foi preso exilado e motorista de metrô na Suécia. Famoso porque voltou glorioso, sunga corpo-aberto no espaço, tensão saltitante de Juiz de Fora. Entre almoços no Restaurante Natural e uns cigarrinhos pra relaxar, escreveu livros contando sua brava jornada por outras terras, outros países, outras estações – que Catete, que Botafogo, que Carioca? -, estações suecas, nomes inimagináveis, difíceis de ler, impossíveis de escrever, como ousar tentar pronunciá-los?
Já nos tempos do CPC da UNE eu optava por um timido “dá licença?”, de preferência com o braço acenando curto a meio-mastro, em vez de um “questão de ordem, companheiro!” gritado de lá de trás da platéia. De modo que na Cinelândia, em frente ao Teatro Municipal, na segunda-feira da semana passada, numa demonstração contra a “Farra do Boi”, o que eu vi foram faixas. Faixas contra a “Farra do Boi”. Só que o Gabeira estava lá. Não sei por que, mas estava. Esteve. Rapidamente. Enquanto lá estiveram as câmeras de TV e os jornais. Depois saiu. E saiu dizendo que saía porque não concordava com algumas “palavras de ordem”. Eu não sei ler “palavras de ordem”. Sei ler faixas. No caso, faixas contra atrocidades cometidas contra o boi no litoral catarinense. Não é com semântica, com frases de efeito, ou com brilhos de reuniões intelectuais que se vai lutar contra um absurdo como a “Farra do Boi”.
Enfim, o Gabeira foi embora e nós ficamos. A Lya Cavalcanti, a Maria Lúcia Frota, a Nise da Silveira , eu. Ficamos e ouvimos gente da rua – cariocas, mineiros, catarinenses – todos revoltados com a “Farra do Boi”. Ficamos e mandamos para o Governador Pedro Ivo Campos, de Santa Catarina, milhares e milhares de assinaturas, abaixo-assinados, telegramas e cartas. De todo o Brasil. Finalmente uma causa uniu o povo brasileiro depois das saudosas Diretas-Já. Já não se pedia mais um diálogo. Já não se apelava mais para o “sentimentalismo”. Milhares de pessoas exigiam que o Governador Pedro Ivo Campos mantivesse a proibição da “Farra do Boi” (Decreto 24.645, de 10/07/34 art. 3º), ou fosse enquadrado como contraventor. Não tinha mais papo. Contraventor é contraventor. Por que não fazem a “Farra da mãe”?
E aí aconteceu o bonito. O lindo. No dia seguinte, os jornais anunciavam que estava proibida a “Farra do Boi”. O Governador Pedro Ivo proibiu e botou as polícias Civil e Militar no belo litoral catarinense para acabar com aquela antiga, tradicional e bárbara brincadeira.
Santa Catarina tem quatro milhões de duzentos mil habitantes. Destes, só doze mil são da região onde se educa crianças não só com o leite de vaca como também com sangue vivo de boi. E esses habitantes não gostaram da proibição. E reclamaram, e jogaram pedras, e feriram soldados, e choraram lágrimas amargas de frustração e de gás lacrimogêneo. E fim da “Farra”.
Só que aí, não se sabe por que, nem a convite de quem, chegou o Gabeira. Junto com o Fábio Feldman, do PMDB-SP. Foram dialogar com o povo. E o povo, coitadinho, disse que a “Farra do Boi” era uma brincadeira inocente, que eles não machucavam o boi coisa nenhuma, não vazavam olho nenhum, não serravam pata nenhuma. Que era tudo sensacionalismo da imprensa. Que as fotos eram retocadas. Tudo uma açoreana e inocente brincadeira. Então o Gabeira e o Fábio Feldman pontificaram que era impossível acabar com a “Farra do Boi” em uma semana. Que era preciso conscientizar o povo (coisa que as Sociedades Protetoras de Animais vêm tentando fazer desde 1925). E exigiram que o Governador Pedro Ivo voltasse outra vez atrás, e tornasse a permitir a “Farra” proibida um dia antes. E o povo ficou feliz, e agitou bandeirinhas vermelhas para uma vaquinha do Jornal Nacional, e começou tudo de novo. Tudo. Olhos vazados, pimenta, patas serradas, bombinhas de São João – que apropriado, afinal é Semana Santa!- em todos os orifícios do boi indefeso, e depois, um belo churrasco! Um boi custa CZ$ 8 mil. Na Semana Santa, em Santa Catarina, passa a valer, não sei como, de CZ$ 25 mil a CZ$ 50 mil. Será que os fazendeiros também estão gozando dos benefícios da Lei Sarney? “Eu te dou oito, você diz que recebeu 25, a gente racha e eu descarrego no meu Imposto de Renda”. “Farra do Boi” também é cultura.
A “Farra do Boi” existe, por sadismo, ignorância e crueldade há 200 anos. Não. Há 199 anos. Porque este ano ela existiu porque o Gabeira e o Feldman pediram. Em nome do povo.
Então eu sugiro que a estes verdes e ecológicos companheiros que abram ainda mais seu leque de defesa às tradições populares. Que a vaquejada do Nordeste termine numa grande “Farra do Boi”, unindo de uma vez este país tão ordeiro, de dimensões continentais. Que os rodeios terminem numa “Farra do Cavalo”. Que em Nova Jerusalém e nos Arcos da Lapa se crucifique mesmo, de verdade, o ator que faz o papel de Cristo. Que as Protetores dos Animais, que até agora só resgatavam animais em enchentes, remoções de favelas, calamidades públicas etc., dêem agora um sentido cristão e social a essas atividades sentimentalóides: vamos doar os cães e gatos recolhidos às criancinhas de Santa Catarina. Assim, elas terão um farto material para poder ir treinando o ano inteiro com farrinhas de gatos e cachorros até a próxima Semana Santa – que pena, está tão longe! – quando todos poderão voltar a trucidar bois, a se embebedar de cachaça e de sangue, e a carregar nos ombros, em triunfo, este grande brasileiro chamado Fernando Gabeira.
De todos os animais o Homem é o único que é educado para
explorar outras formas de vida. O homem é corrupto por natureza: pensa primeiro
no bem próprio e depois considera regras morais e sociais; suas punições e suas
percepções! “Olhe no fundo dos olhos de
um animal e tente se convencer de que não temos o direito de inferiorizar,
maltratar ou decidir sobre a vida de outro ser. Somos zeladores da natureza...
não carrascos.”.
Proclamada
pela UNESCO em sessão realizada em Bruxelas em 27 de janeiro de 1978
Preâmbulo:
Considerando que cada animal tem direito; considerando que o desconhecimento e
o desprezo destes direitos levaram e continuam a levar o homem a cometer crimes
contra a natureza e contra os animais; considerando que o reconhecimento por
parte da espécie humana do direito à existência das outras espécies animais,
constitui o fundamento da coexistência das espécies no mundo; considerando que
genocídios são perpetuados pelo homem e que outros ainda podem ocorrer;
considerando que o respeito pelos animais por parte do homem está ligado ao
respeito dos homens entre si; considerando que a educação deve ensinar à
infância a observar, compreender e respeitar os animais,
Proclama-se:
Art. 1 -
Todos os animais nascem iguais diante da vida e tem o mesmo direito a
existência.
Art. 2º
a) Cada
animal tem o direito ao respeito.
b) O homem,
enquanto espécie animal não pode atribuir-se o direito de exterminar outros
animais ou explorá-los, violando este direito. Ele tem o dever de colocar a sua
consciência a serviço dos outros animais.
c) Cada
animal tem o direito à consideração, à cura e à proteção do homem.
Art. 3º
a) Nenhum
animal deverá ser submetido maltrato e atos cruéis.
b) Se a
morte de um animal é necessária, deve ser instantânea, sem dor nem angústia.
Art. 4º
a) Cada
animal que pertence a uma espécie selvagem, tem o direito de viver livre no seu
ambiente natural terrestre, aéreo ou aquático e tem o direito de reproduzir-se.
b) A
privação da liberdade, ainda que para fins educativos é contrária a este
direito.
Art. 5º
a) Cada
animal pertencente a uma espécie, que vive habitualmente no ambiente do homem,
tem o direito de viver e crescer segundo o ritmo e as condições de vida e de
liberdade, que são próprias da sua espécie.
b) Toda
modificação deste ritmo e destas condições impostas pelo homem para fins
mercantis é contrária a este direito.
Art. 6º
a) Cada
animal que o homem escolher para companheiro tem o direito a uma duração de
vida, conforme a sua natural longevidade.
b) O
abandono de um animal é um ato cruel e degradante.
Art. 7º -
Cada animal que trabalha tem o direito a uma razoável limitação do tempo e
intensidade de trabalho, a uma alimentação adequada e ao repouso.
Art. 8º
a) A
experimentação animal, que implica em um sofrimento físico e psíquico, é
incompatível com os direitos do animal, quer seja uma experiência médica,
científica, comercial ou qualquer outra.
b) As
técnicas substutivas devem ser utilizadas e desenvolvidas.
Art. 9º - No
caso do animal ser criado para servir de alimentação, deve ser nutrido,
alojado, transportado e morto sem que para ele resulte ansiedade ou dor.
Art. 10º
a) Nenhum
animal deve ser usado para divertimento do homem.
b) A
exibição dos animais e os espetáculos, que utilizam animais são incompatíveis
com a dignidade do animal.
Art. 11º - O
ato que leva à morte de um animal sem necessidade é um biocídio, ou seja, um
delito contra a vida.
Art. 12º
a) Cada ato
que leva ã morte de um grande número de animais selvagens, é um genocídio, ou
seja, um delito contra a espécie.
b) O
aniquilamento e a destruição do ambiente natural levam ao genocídio.
Art. 13º
a) O animal
morto deve ser tratado com respeito.
b) As cenas
de violência de que os animais são vítimas, devem ser proibidas no cinema e na
televisão, a menos que tenha como fim mostrar um atentado aos direitos do
animal.
Art. 14º
a) As
associações de proteção e de salvaguarda dos animais devem ser representadas em
nível de governo.
b) B) Os
direitos do animal devem ser defendidos por leis, como os direitos do homem.
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