O ex-presidente da República José Sarney (PMDB)(Jane de Araújo/Ag. Senado/VEJA)
Em conversas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, o ex-presidente José Sarney (PMDB) disse que a delação premiada que a Odebrecht e seus executivos estão prestes a fechar no âmbito da Operação Lava Jato "vem com uma metralhadora de ponto 100". O conteúdo dos áudios foi divulgado nesta quarta-feira pelo site do jornal Folha de S. Paulo. Assim como Renan Calheiros(PMDB-AL) e Romero Jucá (PMDB-RR), Sarney foi um dos três caciques peemedebistas gravados em diálogos com Machado, que entregou os áudios à Procuradoria-Geral da República em seu acordo de delação premiada, homologado hoje pelo relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Teori Zavascki.
Relacionando as possíveis revelações da empreiteira à presidente afastada Dilma Rousseff, Sarney afirmou que "nesse caso, ao que eu sei, o único em que ela (Dilma) está envolvida diretamente é que ela falou com o pessoal da Odebrecht para dar para campanha do... E responsabilizar aquele [inaudível]". Ele não mencionou em qual campanha teriam ocorrido as irregularidades envolvendo a petista.
Além de Sarney, Renan Calheiros também falou sobre o potencial de destruição das possíveis revelações da empreiteira. Ao comentar a situação de Dilma, Machado disse a ele que a Odebrecht "vai tacar tiro no peito dela, não tem mais jeito". E Renan responde: "Tem não, porque vai mostrar as contas", em uma possível referência às contas de campanha da petista.
A respeito da Lava Jato, Sarney afirmou que governos petistas são os responsáveis pelo esquema de corrupção na Petrobras. "Esse negócio da Petrobras, só os empresários que vão pagar, os políticos? E o governo que fez isso tudo, hein?", questionou o ex-presidente.
Após Machado citar que "não houve nenhuma solidariedade" de Dilma a Lula, provavelmente em referência às investigações da Lava Jato que avançam sobre o petista, José Sarney concordou, e aproveitou para criticar o juiz federal Sergio Moro, que conduz os processos da operação em Curitiba: "Nenhuma, nenhuma. E com esse Moro perseguindo por besteira".
Em outro trecho da conversa gravada, Sarney diz a Machado que poderia ajudá-lo a evitar que as investigações contra ele no petrolão fossem remetidas à 13ª Vara Federal de Curitiba, onde despacha Moro. "O tempo é a seu favor. Aquele negócio que você disse ontem é muito procedente. Não deixar você voltar para lá [Curitiba]", prometeu o ex-presidente.
Diante de relatos de Machado de que havia "insinuações", provavelmente do Ministério Público Federal, por uma delação premiada, José Sarney se mostrou preocupado com a possibilidade e disse a ele que "nós temos é que conseguir isso [o pleito de Machado]. Sem meter advogado no meio"
Confira abaixo os principais trechos da conversa entre Renan e Machado:
Michel Temer - Ao ouvir de Sérgio Machado que os partidos de oposição ao governo petista "achavam que iam botar tudo mundo de bandeja..." José Sarney disse que os opositores resistiam a apoiar o governo de Michel Temer. Segundo o ex-presidente, "nem Michel eles queriam, eles querem, a oposição. Aceitam o parlamentarismo. Nem Michel eles queriam. Depois de uma conversa do Renan muito longa com eles, eles admitiram, diante de certas condições".
Lula - Após Machado dizer "acabou o Lula, presidente", José Sarney concordou e afirmou que "o Lula acabou, o Lula, coitado, deve estar numa depressão". Em outro trecho do diálogo gravado pelo ex-presidente da Transpetro, o peemedebista relata que "soube que o Lula disse, outro dia, ele tem chorado muito. [...] Ele está com os olhos inchados".
PSDB - Assim como nos diálogos gravados com Renan Calheiros e Romero Jucá, Sérgio Machado mencionou o PSDB. Ele disse que os tucanos "sabem que são a próxima bola da vez" ao que Sarney acrescentou: "Eles sabem que eles não vão se safar". O partido informou nesta quarta-feira que irá processar Machado por menções ao presidente nacional do partido, senador Aécio Neves (MG).
Delcídio - Depois de Sérgio Machado dizer que o Supremo Tribunal Federal "rasgou a Constituição", José Sarney lembrou o caso do ex-senador Delcídio do Amaral, preso em novembro de 2015 e cuja prisão foi ratificada pelo plenário do Senado. "Foi. [O STF] fez aquele negócio com o Delcídio. E pior foi o Senado se acovardar de uma maneira...", criticou o ex-presidente. "Aquilo é uma página negra do Senado", concluiu o ex-presidente pouco depois.
(da redação)
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