O momento seria propício para a oposição. O Governo de Dilma Rousseff enfrenta a maior crise política desde que o PT assumiu o Executivo, sofrendo derrota após derrota nas mãos de seu desafeto declarado, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Para piorar, o Planalto cada vez mais vê sua base no Congresso se esfacelar, com debandada de partidos aliados e petistas votando contra o Governo. Seria o cenário perfeito para que o maior partido de oposição, o PSDB, conseguisse capitalizar a crise do Governo a seu favor, mostrando-se como alternativa. Mas o tucanato se encontra dividido com ao menos quatro discursos, embora unidos em desestabilizar o Governo Dilma.
A aposta dos líderes é conseguir o impeachment de toda a chapa - Dilma e Temer -, e não apenas da presidenta. Isso depende do Tribunal Superior Eleitoral julgar procedente a ação de impugnação contra a petista e seu vice, o que destituiria os dois. Neste caso haveriam novas eleições para o Executivo. É uma hipótese pouco provável, segundo analistas. Caso Dilma tenha as contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União, um outro caminho para o impeachment, ela apenas seria afastada, e o peemedebista assumiria até o final do mandato, em 2018.Na Câmara, a bancada do PSDBtem se alinhado com Cunha e apostado no quanto pior melhor, segundo especialistas. Nesta quinta-feira, os líderes das bancadas tucanas na Câmara, Carlos Sampaio (SP), e no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), por exemplo, defenderam a convocação de novas eleições “para a salvação do país”. “Concordamos com o vice Michel Temer de que precisamos identificar uma pessoa que construa um projeto nacional para salvar o país”, disse Sampaio, fazendo referência à declaração de Temer feita na tarde de quarta. “Mas estamos convencidos de que essa pessoa (...) teria que ser legitimada pelo voto popular”, afirmou. A bancada foi apelidada de “os cabeças pretas” por alguns parlamentares, devido à impetuosidade e à idade inferior aos dos 'cabeças brancas' do Senado, mais ponderados.
Além do grupo da Câmara, os tucanos contam ainda com três grandes correntes internas, diz Luciano Dias, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos. Uma delas é liderada pelo ex-candidato do partido à presidência, o senador Aécio Neves (PSDB-MG). “Ele poderia se beneficiar do recall relacionado à eleição de 2014. É do seu interesse manter a temperatura da crise alta”, diz Dias. Caso a chapa Dilma/Temer seja impugnada, o tucano pode contar com essa visibilidade para ser conduzido ao cargo caso uma nova eleição seja convocada. Inicialmente reticente em apoiar abertamente os atos de rua pedindo o impeachment de Dilma, Neves aos poucos se alinha com os cabeças pretas. Esta semana ele afirmou que “a presidente Dilma e o PT perderam a capacidade de governar”.
O PSDB nunca foi um partido, sempre foi muito mais uma reunião de caciques que têm as suas próprias posições
Do outro está o grupo liderado pelo Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que tem se mostrado cauteloso quanto a assumir um discurso de enfrentamento com a presidenta e pró-impeachment. “O horizonte do Alckmin é a eleição de 2018. Ele não tem o menor interesse em um fato que altere estas perspectivas”, afirma o professor. De acordo com ele, um impedimento de Dilma do poder ou até mesmo da chapa inteira seria prejudicial ao tucano, uma vez que abriria o caminho para que outros caciques do partido assumissem uma posição de preponderância na legenda. Comandando a vitrine do segundo maior orçamento do país, “ele quer ver o Governo fritar até as próximas eleições para que ele tenha chances de disputar novamente o Planalto”, avalia Dias.
Correndo por fora está o senador José Serra (SP). O parlamentar está próximo de Temer e do PMDB, e muitos já avaliam que ele pode deixar o seu partido. A coluna de Mônica Bergamo na Folha de S. Paulo informou que ele poderia estar costurando um acordo para assumir a pasta da Fazenda caso Dilma seja afastada e Temer fique com a presidência. Ele também se reuniu com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e outras lideranças tucanas para tratar do impeachment de Dilma. Na ocasião, ele teria criticado os deputados e as pautas-bomba da Câmara, consideradas por ele "irresponsabilidades fiscais".
Se as coisas continuarem neste ritmo, em breve o partido de Temer, Cunha e Renan pode ser responsável por infligir o quinto tento contra a maior legenda de oposição
“O PSDB nunca foi um partido, sempre foi muito mais uma reunião de caciques que têm as suas próprias posições. A ideologia não é o forte dos tucanos”, afirma José Arthur Giannotti, professor de Filosofia da USP. Amigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ele é considerado uma referencia teórica dentro do partido. “Você acha que Aécio Neves e José Serra tem alguma coincidência ideológica? Nunca houve”, afirma. Na avaliação de Giannotti, “isso não apenas enfraquece o partido, mas faz com que ele seja mais um tiroteio do que uma oposição política”. No final “não fazem política responsável. Estão apenas empenhados em derrubar a Dilma”.
Não por acaso, é o PMDB quem tem crescido mais na condição de opositor ao Governo, carregando os tucanos a reboque. Diferente do PT, que após três derrota seguidas nas eleições para a presidência conseguiu afinar o discurso, os tucanos ainda se digladiam após quatro fracassos nas urnas. Se as coisas continuarem neste ritmo, em breve o partido de Temer, Cunha e Renan pode ser responsável por infligir o quinto tento contra a maior legenda de oposição.
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