segunda-feira, 3 de agosto de 2015

OPERAÇÃO LAVA JATO » Congresso volta do recesso em clima de ‘salve-se quem puder’ 'Eletrolão', julgamento de contas de Dilma e próximos passos de Cunha marcam a agenda Desistência de advogada expõe abismo entre CPI da Petrobras e Lava Jato

Cunha, em São Paulo, no dia 27. / NACHO DOCE (REUTERS)
A tropa de choque do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, se prepara para receber em Brasília um calhamaço de documentos que citam quase uma dezena de congressistas que poderão ter pedidos de investigação autorizados pelo Supremo Tribunal Federal. Os sete procuradores do Ministério Público, que trabalham sob as ordens de Janot estão prestes a definir quais autoridades se beneficiaram da corrupção na Eletronuclear, um dos braços da Eletrobrás. O chamado eletrolão, como foi apelidada a operação que investiga o setor elétrico, reforçou a apreensão na capital federal.
Além desse grupo, há os 50 parlamentares, ex-governadores e ex-ministros alvos da primeira etapa da Lava Jato, que esteve debruçada sobre a Petrobras. Assim, instalou-se um clima de salve-se quem puder no Congresso Nacional. “É uma situação de desconfiança geral. Não se sabe com quem podemos contar. E isto só vai mudar se conseguirmos tirar essa pecha de que somos todos membros de uma gangue que amedronta as pessoas”, disse um dos líderes partidários ouvidos pela reportagem.
julgamento das contas da presidenta Dilma Rousseff pelo Tribunal de Contas da União - prioridade do próprio TCU como da Câmara – é outro capítulo que vai balizar as ações do Congresso a partir desta semana. Conforme a decisão dessa corte e o ânimo dos oposicionistas, o caso pode acabar em um pedido de impeachment.É sob esse ambiente que os deputados federais e senadores retornam esta semana aos trabalhos, após um recesso de 14 dias. O que acontece a partir de agora depende da divulgação desses políticos envolvidos no eletrolão, segundo cinco líderes de partidos ouvidos pelo EL PAÍS.
Tudo depende ainda do comportamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, após seu rompimento oficial com o Governo Dilma. Embora tenha assanhado os defensores do impeachment ao retirar pedidos que estavam na gaveta, ele acabou assumindo um tom mais ponderado sobre o assunto com o passar dos dias. De Cunha, porém, tudo se espera.
Conforme os deputados e senadores ouvidos pelo EL PAÍS, os próximos passos de Cunha podem nortear a CPI da Petrobras, que está em andamento, e outras duas que já obtiveram o aval para serem instaladas, a do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a dos Fundo de Pensões.
No caso da CPI da Petrobras a crítica mais recente é a de que ela tem sido usada por aliados do presidente da Câmara para tentar desmontar as versões da operação Lava Jato que incriminam o próprio Cunha. A empresa de arapongas que foi contratada por ela, a Kroll, iniciou a investigação de 12 delatores da Lava Jato. Os nomes deles, porém, são mantidos em sigilo pelo presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB) e por um dos sub-relatores, André Moura (PSC-SE), ambos aliados figadais de Cunha.
Alguns dos opositores, que inclusive assinaram os requerimentos das CPIs antigoverno, disseram que se arrependeram do que fizeram porque, aparentemente elas serão usadas como combustível para a guerra particular dos investigados pela Lava Jato contra a gestão petista. “Particularmente, eu esperava que tudo fosse investigado e não que se tornasse um espaço para desmoralizar a gestão do PT simplesmente porque alguém odeia esse partido. Estamos fazendo um desserviço para o país”, afirmou um oposicionista. O próprio PSDB, maior partido da oposição, demonstra que não sabe se abraça os novos opositores, como o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e seus aliados, ou se define uma linha independente de ataque à gestão Rousseff.
Enquanto isso, o Planalto tenta encontrar as brechas para lidar com o momento. No recesso parlamentar coube ao ministro da Secretaria da Aviação Civil e um dos articuladores políticos do Governo, Eliseu Padilha (PMDB-RS), elaborar quais eram os 200 cargos comissionados que seriam distribuídos entre a base aliada como forma de acalmar os apoiadores de Rousseff. O trabalho de Padilha foi mapear os cargos vagos ou em disputa nos Estados e cuidar para que alguém considerado ficha limpa o ocupasse. O recado é: “Basta de escândalos nesta gestão”. Mas, dependendo da nova lista de Janot, tudo isso pode ser alterado novamente.
Nesta segunda-feira, a presidenta agendou uma reunião com cerca de 80 líderes de bancadas aliadas e presidentes nacionais de partidos para discutir esse assunto e cobrar empenho de sua base na aprovação de projetos que consideram chave para o andamento do ajuste fiscal e, principalmente, da governabilidade.

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